Genealogias da corrupção

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Na última terça-feira, dia 20 de junho de 2017, o ciclo especial sobre as Jornadas de Junho, promovido pelo cineclube Pedagogias da Imagem, exibiu o filme 20 centavos, de Tiago Tambelli, e contou com a palestra O discurso da corrupção na política contemporânea, ministrada pelo nosso convidado do mês, o professor Paulo Vaz, da Escola de Comunicação da UFRJ. Uma das características das manifestações de 2013 foi a constante mudança de pauta trazida pelas ruas: das reivindicações pelo não aumento das passagens de ônibus e por melhores condições de transporte na cidade até os apelos contra a corrupção que pareceram emergir com mais intensidade a partir de 20 de junho daquele ano. A partir das imagens do filme de Tambelli, que acompanha de perto estas nuances e contradições, Paulo apresentou pesquisa que desenvolve já há algum tempo sobre os sentidos e os valores que carregam as menções feitas à corrupção na mídia e no cenário político global.

Uma de suas constatações é que há, no Brasil atual, um senso comum generalizado e crescente quando se fala de corrupção, associando-a facilmente à história do país e à identidade nacional. No entanto, Paulo demonstra que a atenção à corrupção está ligada à crise da representação. De acordo com ele, o discurso anti-corrupção é um fenômeno global que teve início nas décadas de 80 e 90, justamente com o aparecimento de técnicas que pela primeira vez permitiram mensurar, conhecer e designar a corrupção como algo a ser evitado. Analisando a visibilidade contemporânea do discurso sobre a corrupção, Paulo apontou como um de seus sintomas o surgimento da noção de transparência como valor a ser disseminado nas sociedades ocidentais capitalistas.

No entanto, o apelo moralizante à transparência reduz qualquer possibilidade de relação com a alteridade, nivelando a todos pelo dado comum de uma perspectiva moral, e não política, sobre o assunto. A corrupção, deste modo, pode ser utilizada como ferramenta jurídica estratégica para denúncias por parte daqueles que visam a ascender a algum cargo importante, sem colocar em jogo outras questões mais imediatas que ofereceriam nuances ao embate. Após a palestra, um ótimo debate ajudou a dar o tom da urgência da reflexão trazida por Paulo, ao mesmo tempo em que o público trouxe suas experiências e seus relatos para compor e fechar com chave de ouro este ciclo das Jornadas de Junho.

Nossa próxima sessão acontece no dia 4 de julho, terça-feira, às 17h, no mesmo auditório Manoel Maurício, no CFCH (Campus da Praia Vermelha da UFRJ – Av. Pasteur, 250), quando exibiremos o filme Max Max: Estrada da Fúria (Max Max: Fury Road, 2015), de George Miller. Para conversar com o público após o filme, teremos a honra de receber, como convidada do mês, a professora de filosofia Susana de Castro (IFCS/UFRJ), que ministrará a palestra O feminismo pelas estradas da fúria. A entrada é franca. Até lá!

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