Fazer-se Humano

“Meu corpo é político”. Uma enunciação simples que, todavia, carrega uma bagagem de luta de inúmeras pessoas trans no Brasil.  Um país que nega a esses corpos vagas em empregos formais, destinando-os a uma vida nas ruas limitada de um direito básico, de oportunidade. Tal concepção trágica do universo trans no Brasil é quebrada por Alice Riff em seu filme Meu corpo é político. Documentário que retrata a leveza do cotidiano de Pula Beatriz, diretora de escola pública, de Gui Nonato, fotógrafa, de Linn da Quebrada, atriz, cantora e professora de teatro e de Fernando Ribeiro, estudante e operador de telemarketing. “Imagino que, quando as pessoas vão ao cinema, elas chegam com uma bagagem de conceitos pré-estabelecidos, uma expectativa sobre o universo transgênero, que não se confirma”, diz Alice ao El País. Demonstra-se, assim, que a vida trans não se resume somente às negações do preconceito, à violência cotidiana, como também a uma existência simplesmente humana.  “Mas ao retratá-los, sem estigmatizá-los, abre-se um espaço de aproximação que é necessário para que se possa iniciar qualquer conversa”, afirma a diretora.

Mas o que seria um corpo político? A palavra política deriva do termo grego “pólis”, que designava a cidade grega, o epicentro da unidade de vida social. Assim, essa amplitude conceitual demonstra que política é mais do que simplesmente partidária, ela é uma ação humana de vivência no cotidiano de uma sociedade. “A política é a arte do humano, de ‘fazer-se humano’.”, como afirmou Vinício Martins, pós-doutor em Ciência Política. No entanto, tal espaço na sociedade é negado aos corpos trans, transformando-os em vidas excluídas, desumanizadas. Isso acontece pois seus corpos não seguem o “uniforme” imposto pela sociedade, o qual quanto mais se propaga mais se impõe aos indivíduos, eliminando o diferente. Nesse contexto, ao conquistarem vagas em empregos formais e enfrentarem a violência diária, tornando seus corpos visíveis ao mundo, quebram essa alteridade que lhes foi imposta.  O mero fato de estarem ali, humanizando-se, já é em si um ato político. “Em uma das cenas, por exemplo, a Giu faz planos para seu futuro enquanto caminha com os amigos na Avenida Paulista, que já foi palco de inúmeros ataques a pessoas LGBT. Ela estar ali, com seu corpo, apesar da violência, é um ato político em si”, argumenta Alice.

O filme Meu corpo é político será exibido na próxima matinê do Pedagogias da Imagem, cineclube da Faculdade de Educação da UFRJ, no dia 25/09/2018, às 10 horas, no Campus da Praia Vermelha, no Auditório Manoel Maurício/CFCH. Após a sessão, Barbara Pires, doutoranda em Antropologia Social pelo Museu Nacional da UFRJ e a diretora do filme, Alice Riff (em videoconferência), estarão lá para conversar sobre o filme. Todos estão convidados para participar do mês de diversidade do cineclube!

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