Contrapedagogia e a cinematografia godardiana

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Na terça-feira, dia 2 de outubro, na sessão que deu início ao mês de comemoração dos 50 anos da Faculdade de Educação, foi exibido a produção Filme Socialismo, do grande cineasta franco-suíço, Jean-Luc Godard. Após a sessão, a conversa foi com Jorge Vasconcellos, doutor em Filosofia pela UFRJ e professor no programa de pós-graduação em Estudos Contemporâneos das Artes da Universidade Federal Fluminense (PPGCA/UFF), com a palestra contrapedagogia da imagem e política da arte.

Jorge afirma que “Godard está em lugar ímpar”. Em suas produções, a construção de sentido deve ser costurada pelo próprio espectador, de forma a fazê-lo pensar. Uma das características específicas do cineasta é que em suas obras não há metáfora, os elementos são representados de forma literal. Além disso, o uso de ironia é considerado como uma “arma” típica de suas produções. Desta forma, a cinematografia godardiana seria de difícil adjetivação, pois ela não serve para ser boa ou ruim, mas sim para cumprir seu objetivo de fazer pensar. Logo, a escolha do título do filme não é uma síntese da obra, mas algo que estimula o pensamento.

A partir desta perspectiva, a conversa se seguiu para a construção imagética do filme, feita com base em uma profusão de imagens que já são, por si só, uma espécie de confronto com o espectador. A pluralização de formatos e utilização de imagens distorcidas, estratégias que nos inquietam, são algumas das portas para se pensar o filme. Em Godard, deve-se pensar essa violência de forma positiva, isto é, nos tirando de uma posição de conforto.

Para além da imagem, Filme Socialismo também serve de exemplo para uma percepção da abordagem, dada por Godard, ao som. Este, que muitas vezes parece ser incompatível com a cena apresentada, é, na verdade, uma ferramenta para a construção de uma não linearidade narrativa. O que, para Jorge, pode produzir uma contrapedagogia da imagem.

E o que seria essa contrapedagogia que discutimos? Jorge Vasconcellos explica que ela consiste, especialmente em Godard, em uma outra forma de abordar a imagem, revertendo seus pressupostos fundamentais. Assim, uma imagem não se prenderia a um significado específico e o conjunto das imagens em um filme não precisaria contar uma historia planificada. A contrapedagogia é, então, uma tentativa de ver, ouvir e pensar o filme sob outros lugares.

Portanto, a conversa proporcionou uma boa discussão acerca da construção imagética em Godard e as questões de pedagogia e contrapedagogia da imagem, enriquecendo assim as celebrações dos 50 anos da Faculdade de Educação da UFRJ.

Já no mês de novembro, o Cineclube Pedagogias da Imagem discutirá o racismo através da abordagem cinematográfica, com o filme Corra!, do diretor americano Jordan Peele, que será exibido no dia 27/11, às 17 horas, no Campus da Praia Vermelha, no Auditório Manoel Maurício. Após a exibição, será apresentada a palestra Economia libidinal e incêndio na Casa Grande, com o convidado Bernardo Oliveira, doutor em Filosofia pela PUC-Rio, pesquisador, crítico de música e cinema e produtor, professor da Faculdade de Educação da UFRJ e colaborador do GEM — Grupo de Educação Multimídia (FL/UFRJ) e do LISE — Laboratório do Imaginário Social e Educação (FE/UFRJ). Todos estão convidados para o mês dedicado a questões raciais do cineclube!

Redação:

Jeniffer Cavalcanti e Luana Maia – extensionistas do projeto Pedagogias da Imagem