O que torna a vida interessante? Na sessão de novembro, o Cineclube Pedagogias da Imagem exibirá Paterson (2016), de Jim Jarmusch, um filme que traz essa e outras questões em sua narrativa.
A produção, que é a décima oitava do diretor, está inserida na tradição cinematográfica construída por cineastas do movimento underground estadunidense. Responsável pela remodelagem do cinema independente americano – processo ocorrido no fim dos anos 80 e início dos anos 90 -, Jarmusch cria, através de uma estética que visa reduzir os excessos e a agressividade do cinema mainstream, uma forma particular de narrar suas tramas, enfocando situações geralmente descartadas pelo circuito comercial, como é o caso de Stranger than Paradise (1984), primeiro de seus filmes com grande expressão, e de Coffee and Cigarettes (2003), composto exclusivamente pelas narrativas do comum, temática trazida quase na totalidade de seus filmes.
Não podendo ser diferente, é desse lugar ordinário que surge o desenvolvimento do longa escolhido para a exibição de novembro. O filme narra o período de uma semana da rotina de Paterson: motorista de ônibus, o jovem contido – de quem o público observa a história – vive todos os dias da mesma maneira sem se incomodar. É, no entanto, a partir dessa trama absolutamente comum – ou talvez por causa dela – que Jarmusch faz o filme acontecer.
Evoca-se, o tempo todo, sua intrínseca relação com a poesia: além do personagem principal ser, essencialmente, poeta e ter o nome do local em que mora, ambos têm o mesmo nome do poema mais longo de William Carlos Williams, que o fez inspirado pela cidade onde morava. A despeito dessas não coincidências, somadas ao fato do filme ser estruturado de maneira a lembrar a forma de um poema, pode-se inferir maneiras pelas quais o cineasta nos conduz em suas reflexões.
Assim como faz Paterson – isso é, tirar poesia da banalidade cotidiana -, Jarmusch tenta sugerir ao espectador, através de uma espécie de pedagogia do olhar, uma maneira de achar beleza e satisfação no comum da vida, já que é esse o estado mais constante dela. Nesse sentido, é a repetição que se encarrega de dar todo o tom: se na poesia dita o ritmo, no filme – mostrando-se tão tangível quanto qualquer um dos personagens -, possibilita a construção desse novo olhar.
Sobre essa relação, falará o professor Paulo Domenech Oneto na palestra e no debate que, tradicionalmente, acontecem após a sessão. Doutor em Filosofia pela Université de Nice, em Literatura Comparada pela University of Georgia e professor na Escola de Comunicação da UFRJ, Oneto apresentará a palestra A poesia e a ideia de repetição em Jim Jarmusch, prometendo tecer reflexões e desdobrar leituras sobre estes pontos presentes no filme.
A sessão, indicada para o público a partir de 16 anos, acontecerá no dia 12/11, às 17h, no Auditório Manuel Maurício de Albuquerque (prédio do CFCH), no Campus da Praia Vermelha-UFRJ.
Não perca!
Redação:
Laura de Souza
-Extensionista do projeto Pedagogias da Imagem