Os ruídos que movem as lutas das mulheres


A quem recorrer quando o estado que deveria te amparar te ignora e te deixa entregue à própria sorte? Na sessão de setembro, o Cineclube Pedagogias da Imagem traz esta e outras discussões a partir do filme Ruído (2022), de Natalia Beristáin.

Tendo em seu centro o desespero de uma mulher, Julia, à procura de sua filha desaparecida, a narrativa parte do 9º mês sem nenhuma notícia do paradeiro da jovem de 25 anos e mostra a rede de apoio formada por outras mulheres que tiveram a vida atravessada pela mesma tragédia.

Ruído é uma obra contundente. O filme é de caráter semi-documental, se tratando de uma ficção que recolhe resquícios de tantas realidades – ou vontades – no México e os transforma numa única história de tirar o fôlego. Beristáin já havia abordado temáticas de opressão de gênero no México em filmes anteriores, como no longa-metragem O eterno feminino (Los adioses, 2017). Em Ruído, ela toca num assunto delicado do país, os desaparecimentos e o descaso das autoridades, e toma forma de denúncia, seja pelas histórias nele compartilhadas, seja pelo modo com que o fazem.

Vale ressaltar o detalhe de sua capa, que é tomada pelo rosto de Julia em close, com sua boca cruzada por um rasgo de papel, evocando o silenciamento da personagem (a atriz Julieta Egurrola é a própria mãe da diretora). Isto nos prepara para muito do que há de vir, um intenso debate acerca da inevitável impotência daqueles tocados por este problema – como prosseguir quando nada lhe é assegurado?

Para a construção do longa, Beristáin realizou uma profunda pesquisa de campo, chegando a participar das buscas e tendo acesso ao verdadeiro movimento que é, de fato, incansável. Para ela, a rede de apoio que se forma nestes grupos, a partir do reconhecimento na dor do outro, é essencial não só para o fortalecimento do coletivo, mas pela desesperada necessidade de afeto entre aquelas que compartilham semelhante vivência, como um motor da esperança. Não somente, as mulheres presentes no grupo que Julia frequenta são mulheres reais, interpretando a si mesmas e contando suas histórias.

Esta escolha reforça o cunho de denúncia do filme, tanto por dar voz a estas mulheres, quanto por nos aproximar delas e, portanto, reproduzir em nós a sensação de impotência delas, a certo nível, tornando visíveis suas dores. Deste modo, Ruído carrega a premissa de deixar o espectador insatisfeito e indignado; é como deveríamos estar. Somente sendo intimamente perturbados é que se supõe que sejamos movidos.

A sessão ocorrerá no dia 24/9, no Auditório Manuel de Albuquerque (prédio do CFCH), no Campus da Praia Vermelha-UFRJ. Não perca.


Redação:
Julia Facundo
Isabela Felippe
– Extensionistas do projeto Pedagogias da Imagem