No dia 30 de abril, o cineclube Pedagogias da Imagem promoveu a exibição do longa Eles não usam black-tie (Brasil, 1981), de Leon Hirszman. Para guiar o nosso intenso debate pensando cinema, transformações do trabalho e lutas sociais – que se estendeu após o filme – contamos com o Doutor em Meios e Processos Audiovisuais pela ECA-USP, Reinaldo Cardenuto, a Doutora em Educação pela FE/UFRJ, Amanda Moreira, o Doutor em Sociologia e Antropologia pela UFRJ, Marco Aurélio Santana, e o Doutorando em História Social pelo Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (PPHR-UFRRJ), Thompson Clímaco.
Com a direção de Hirszman marcada por um estilo realista e documental, o filme conta a história da luta de classes no Brasil durante a ditadura militar numa linguagem direta e sem rodeios, sem dispensar o melodrama como solução para a aproximação do espectador. A história começa em um cinema, mostrando a volta para casa e o fim do entretenimento – ou, da alienação. No percurso, a realidade dos personagens vai sendo revelada e ao finalmente chegarem em casa temos um claro contraste da Avenida Paulista, por onde passaram; a face da São Paulo do desenvolvimento, que é sustentada pelos trabalhadores das fábricas; e do local para o qual estes trabalhadores retornam e chamam de lar. Com isto, o diretor abre a obra com uma mensagem explícita da inevitabilidade de confronto com a luta de classes, frente ao cenário político-social do Brasil.
O conflito central do filme é entre Otávio, o pai, e Tião, o filho. O pai encarna a figura da resistência, enquanto o filho a da passividade. O pai, tendo carregado nas costas uma longa história de opressão enquanto proletário, não vê outra escolha a não ser a ação grevista. Já Tião está à espera de seu primeiro filho, e adota uma atitude mais conservadora, embora compartilhe dos mesmos valores que seu pai. Desta forma, o cenário se divide entre a ordem e a justiça, o comodismo e a impaciência, nos levando tanto a compreender a atitude revolucionária quanto a nos compadecer com o conformismo. Esta dinâmica é também movimentada pelos afetos, uma vez que a motivação de Tião, apesar da desaprovação do pai, se dá pelo apreço que tem pela sua namorada e seu futuro filho – ou seja, pela sua nova família. É interessante pensar na construção deste personagem para pensar nos dilemas da luta sindical: a opção por se rebelar seria correr um risco, e o medo do risco é essencialmente um dos motores da opressão do capital. O constrangimento de abandonar ideais é superado pela ‘necessidade’ de se submeter ao sistema. Ao mesmo tempo, a causa sindical se revela, através do pai, para além da necessidade de reivindicações: um ideal moral e existencial.
No debate, refletimos o cinema como objeto de transformação social e o lugar do filme, tanto no momento em que foi lançado – dialogando com o próprio contexto e cenário no qual foi escrito -, quanto hoje em dia. Foram abordadas situações presentes no longa que se perpetuam: a violência policial seletiva aos corpos negros, a perda de direitos aceita com passividade sob o medo do desemprego – vide a defesa incansável da escala 6×1 nos últimos tempos – e relações de gênero exploradas a partir da dinâmica familiar dos protagonistas. Examinou-se também a capacidade parasita e opressora do capital através dos tempos, adaptando-se às novas demandas onde continua a se propagar, transformando-se de acordo com a dinâmica do novo tempo. Podemos perceber isto nos esforços do neoliberalismo para que a classe operária acredite numa “mentalidade de empresário”, abandonando sua identidade de trabalhador; na precarização do ensino e suas facetas (quando temos, de exemplo, formação de professores por ensino a distância), na uberização do trabalho e os efeitos alienatórios que sustentam uma falsa crença de liberdade através do individualismo.
No filme, Leon Hirszman constrói um cenário poderoso em que o pessoal e o social se fundem, revelando que essa divisão nunca existiu de fato. No núcleo familiar — espaço aparentemente local e privado —, desenvolve-se um drama profundamente humano, cujas fissuras ecoam uma problemática urgente e universal. É na intimidade do reconhecimento que nasce a aproximação capaz de gerar empatia e, por fim, libertação.
Texto: Julia Facundo e Ana Carolina Gonçalves – extensionistas do projeto Pedagogias da Imagem
Fotos: Rosana Andrade Afonso – bolsista PIBIAC do projeto Pedagogias da Imagem Gabriel Cid – coordenador do projeto Pedagogias da Imagem
Na quarta-feira, 28 de maio, às 16h, o cineclube Pedagogias da Imagem exibirá o filme norueguês ‘Doente de mim mesma’, de Kristoffer Borgli.
O filme gira em torno da personagem Signe (Kristine Kujath Thorp, de ‘A pior pessoa do mundo‘), imersa em um relacionamento competitivo com seu companheiro, um artista conceitual. Ao se perceber ofuscada pelo reconhecimento e fama do namorado, Signe buscará medidas extremas para recuperar atenção, chegando ao ponto de prejudicar a própria saúde para tanto. Com humor ácido e por vezes incômodo, esta comédia de Kristoffer Borgli encena algumas das patologias e contradições inerentes à cultura contemporânea.
Após a exibição, teremos a mesa Subjetividade, sofrimento e espetáculo na era da economia da atenção, com a participação de Anna Bentes e Murilo Galvão Amancio Cruz. Teremos a alegria e a honra de recebê-los para pensar com o filme e o público sobre as questões que ele suscita, explorando temas como as tensões entre vida social e performatividade, saúde mental, psicologia, tecnologia e medicalização na cultura contemporânea.
A sessão acontece no Auditório Manoel Maurício, do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH). A entrada é franca e a atividade é voltada para o público geral, indicada para pessoas a partir de 16 anos. Se ainda não fez, faça já sua inscrição aqui no link.
Anote os detalhes:
Exibição do filme: Doente de mim mesma (Syk pike – Noruega/Suécia/Dinamarca/França, 2022), de Kristoffer Borgli. Duração: 1h33min
seguido da mesa
SUBJETIVIDADE, SOFRIMENTO E ESPETÁCULO NA ERA DA ECONOMIA DA ATENÇÃO com as)(os) convidadas(os):
Anna Bentes Doutora em Comunicação e Cultura pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFRJ. Graduada em Psicologia pela UFRJ. Professora de Graduação na Escola de Comunicação, Mídia e Informação da Fundação Getúlio Vargas (ECMI FGV). Membro do Conselho Diretivo da Rede Latino Americana de Estudos de Vigilância, Tecnologia e Sociedade (LAVITS) e pesquisadora do Medialab.UFRJ. Atua na interseção entre Comunicação, Psicologia e Tecnologia, investigando os impactos das tecnologias e redes digitais em nossas sociedades e subjetividades, com ênfase em aspectos psicológicos, tecnopolíticos e culturais. É autora do livro ‘Quase um tique: economia da atenção, vigilância e espetáculo em uma rede social’. Murilo Galvão Amancio Cruz Doutor em Saúde Coletiva pelo Instituto de Medicina Social da UERJ (IMS/UERJ). Realizou estágio de pesquisa no Centre Georges Canguilhem, Université Paris Diderot – Paris 7. Integrou o grupo de pesquisa ‘Medicamentos: aspectos sócio-históricos e epidemiológicos’, e é membro do grupo de pesquisa ‘Deleuze/Guattari e Foucault, elos e ressonâncias’. Atualmente é professor do curso de Psicologia da UNESA e servidor técnico-administrativo da UFRJ, atuando na Escola de Serviço Social (ESS/UFRJ). Atua principalmente com os seguintes temas: medicalização, psiquiatrização, instituições socioeducativas, saúde mental, Georges Canguilhem e circulação social das ideias.
Se você curtiu, compartilhe e divulgue para amigos e demais interessados. E o principal: anote a data e programe-se!
Na próxima quarta-feira, 30 de abril – véspera do dia dos trabalhadores –, o cineclube Pedagogias da Imagem retoma suas sessões presenciais em um novo dia e horário. Além disso, contará com uma programação especial para esta abertura da temporada. Exibiremos o filme ‘Eles não usam black-tie’, de Leon Hirszman, seguido da mesa ‘Cinema, transformações do trabalho e lutas sociais’.
Marco da década de 80 do cinema brasileiro, o filme é baseado na peça homônima de Gianfrancesco Guarnieri. Leon Hirszman encena as tensões sociais, a força coletiva e os impasses individuais disparados por um movimento grevista e seus desdobramentos, no fim dos anos 70, ao longo do período da ditadura militar no Brasil. O filme ganhou o Prêmio Especial do Júri do Festival de Veneza em 1981.
Após a exibição do filme, teremos um debate com quatro convidadas(os), que trarão perspectivas interdisciplinares sobre a obra. A ideia é que a mesa promova diálogos entre o filme e suas áreas de pesquisa e atuação, além de provocar reflexões sobre como ele nos interpela hoje, diante dos desafios contemporâneos do trabalho. Você está convidada(o) para esta celebração antecipada do dia dos trabalhadores. Venha, participe e divulgue!
A sessão acontece no Auditório Manoel Maurício, do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH). A entrada é franca e a atividade é voltada para o público geral, indicada para pessoas a partir de 14 anos. Faça sua inscrição aqui. Até lá!
Exibição do filme: Eles não usam black-tie (Brasil, 1981), de Leon Hirszman. Duração: 120 min.
seguido da mesa
CINEMA, TRANSFORMAÇÕE DO TRABALHO E LUTAS SOCIAIS com as)(os) convidadas(os):
Reinaldo Cardenuto Doutor em Meios e Processos Audiovisuais pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), com graduação em Jornalismo (PUC-SP) e Ciências Sociais (FFLCH-USP). Professor do Departamento de Cinema e Vídeo da Universidade Federal Fluminese (UFF). Pesquisador em Cinema, História e Dramaturgia, é também documentarista e integrante do Grupo de Pesquisa ‘História e Audiovisual: circularidades e formas de comunicação’, do CNPq. É autor do livro ‘Por um cinema popular: Leon Hirszman, política e resistência’, finalista do prêmio Jabuti em 2021.
Amanda Moreira Doutora em Educação pela FE/UFRJ, com pós-doutorado em Sociologia do Trabalho (Unicamp). Professora da UERJ e do Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas e Formação Humana (PPFH/UERJ). Líder do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Trabalho, Educação e Sociedade (Neptes/Uerj), integrante do Coletivo de Estudos em Marxismo e Educação (Colemarx/UFRJ) e do Grupo Mundo do Trabalho e suas Metamorfoses (GPMT/Unicamp). Pesquisadora com foco em precarização do trabalho de professores na educação básica e superior. Atual presidente da Associação de Docentes da UERJ (Asduerj).
Marco Aurélio Santana Doutor em Sociologia e Antropologia pela UFRJ, com estágios na University of Manchester e pós-doutorado na École des Hautes Études en Sciences Sociales – EHESS. Professor de Sociologia do Departamento de Sociologia e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia (PPGSA/UFRJ). Integra o grupo de pesquisa Pratiques, Travail, Organisation (PraTO-CRH/EHESS). Pesquisador do CNPq e Cientista do Nosso Estado (FAPERJ), atuando nos temas da transformação do trabalho, plataformas digitais, lutas sociais e ação coletiva na era digital. Thompson Clímaco Doutorando em História Social pelo Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (PPHR-UFRRJ), onde é bolsista FAPERJ Nota 10. Mestre em História Social pelo Programa de Pós-Graduação em História Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGHIS-UFRJ), também como bolsista FAPERJ Nota 10. Integra o Laboratório de Estudos de História dos Mundos do Trabalho (LEHMT-UFRJ) e o Grupo de Estudos Mundos do Trabalho e Pós-Abolição (UFRRJ). Pesquisa história social do trabalho, escravidão, pós-abolição, mundo rural e relações entre raça e classe, com produções acadêmicas e audiovisuais sobre esses temas.
A ENTRADA É FRANCA e a atividade é voltada para o público geral, indicada para pessoas a partir de 14 anos.
No dia 5 de novembro, o Cineclube Pedagogias da Imagem se reuniu para a última sessão do ano com a exibição do longa Ela (Her), de Spike Jonze, seguida da palestra Inteligência artificial: entre promessas futuras e realidades presentes, com a antropóloga Carolina Parreiras.
O filme não mede esforços em nos aproximar do protagonista, Theodore, que passa pela dolorosa separação de sua parceira, Catherine. Ele é do começo ao fim um homem inegavelmente solitário. Vemos isto nas tantas cenas em que ele anda pelas ruas por conta própria, em direção contrária às outras pessoas, dando a ideia de não reconhecimento e estranhamento em relação a quem ou o quê está ao seu redor; nos momentos em que ele interage com o casal de amigos, Paul e Amy, eles nunca estão presentes no mesmo corte, evidenciando sua solidão.
Outro fator que colabora para esta imagem é a fotografia da obra – assinada por Van Hoytema. Ele a colore em tons quentes, nos convencendo à empatia e, ao mesmo passo, quase faz com que entremos na história e assumamos o papel do protagonista, tomando exatamente as mesmas atitudes dele, tão mergulhados em uma compreensão que antes parecia impossível: quem diria que uma obra cinematográfica seria capaz de nos convencer a amar um sistema operacional?
Samantha, encantadora a princípio – só por simplesmente carregar a voz de Scarlett Johansson -, não demora muito para nos fazer levantar dentro de nós questionamentos acerca dos limites da tecnologia e do indivíduo, tão banhada de humanidade que chega a aproximar as duas coisas de maneira que, de vez em quando, por descuido, as enxergamos como uma só. Ela se prova digna de um voto de confiança quando traz indagações quase tão velhas e perpétuas quanto o tempo em que estamos neste mundo, como a questão da consciência e corporeidade: penso, logo existo. Por que isso não serviria para ela?
Esta obra especulativa com certeza foi semente de um intenso debate, que foi da exploração do caráter benéfico ou prejudicial da tecnologia, em relação com o problema da solidão. Podemos nos perguntar se as coisas são mesmo tão simples assim: será que a tecnologia é mesmo uma grande vilã, ou estamos distraídos demais para enxergar a quem realmente pertence a culpa? Pensamos sobre os contextos em que ela se origina e circula, o que nos permite entender que nem mesmo sua extinção impediria a alienação e todas as consequências que lhe sucedem.
Além disso, no debate, tivemos reflexões sobre o quão atual é o filme, apesar de ter sido produzido há pouco mais de dez anos. Quem sai de casa hoje sem seu smartphone? Ou melhor, quem não sente, de vez em quando, que este dispositivo é como a nossa casa, com todas as coisas belas aos nossos olhos, as músicas que amamos, todos os contatos que nos interessam… Fazemos dele um armazenamento de quem somos e cada vez ele nos conhece mais. É a partir desta confiança que nele depositamos que são gerados, por sua vez, anúncios capazes de seduzir, a ampliação da publicidade e da vigilância, uma manobra de aproximação que não se difere muito da de Samantha. Não é como se estivéssemos cotidianamente conferindo uma vida ao nosso aparelho? Afinal, quão diferente somos de Theodore? Não estaríamos todos experienciando um pouco a solidão e suas estranhas soluções à nossa disposição?
Mas não percamos o foco: Her é, acima de tudo, uma história de amor transumanista e humanista ao mesmo tempo: primeiro, nos provoca esta imersão e identificação, para depois provar a nossa natureza complexa e o reflexo dela em nossas relações interpessoais; as múltiplas possibilidades do romance como múltiplas possibilidades humanas, mas acima de tudo o reconhecimento de uns nos outros por meio da solitude.
Texto: Julia Facundo – extensionista do projeto Pedagogias da Imagem
Fotos: Carolina Moreira – extensionista do projeto Pedagogias da Imagem
Na sessão de encerramento do ano, o cineclube Pedagogias da Imagem traz o longa-metragem “Ela” (Her – EUA, 2013), de Spike Jonze, seguido da palestra Inteligência artificial: entre promessas futuras e realidades presentes com a antropóloga Carolina Parreiras.
O filme conta a história de Theodore (Joaquim Phoenix), um homem que busca superar o divórcio e recorre a um sistema operacional baseado em inteligência artificial, como tentativa de combater a solidão. Ele acaba se apaixonando por Samantha, voz do sistema operacional, dublada pela Scarlett Johansson.
‘Ela’, de pouco mais de dez anos atrás, é o último longa do Spike Jonze até a data de hoje. O filme evoca uma ressonância com ‘Encontros e desencontros’ (Lost in translation – EUA, 2003), da Sofia Coppola, diretora que ainda era casada com Jonze na época, de quem se divorciou pouco depois. O filme de Jonze poderia ser lido também como uma resposta e até um pedido de desculpas. Em ‘Encontros e desencontros’, a personagem Charlotte (também interpretada pela Scarlett Johansson), se sente sozinha e coadjuvante em meio às viagens do marido, atravessando um período de mudanças até encontrar Bob (Bill Murray). Em ‘Ela’, Samantha paralelamente se aprimora e se compartimenta para “viver” mais, explicitando como as personagens masculinas, Theodore e John – marido da Charlotte -, estão presos em uma fantasia do que seria esse amor.
Spike Jonze possui uma carreira marcada pela diversidade de produções, sendo também produtor, diretor de videoclipes, filmes esportivos de skate, roteirista e diretor. Seus filmes mais autorais costumam levar tempo para ser produzidos (ao longo de 25 anos, ele possui apenas 4 longas em sua filmografia mais autoral). Seus primeiros longas foram parcerias com o roteirista Charlie Kaufman, ‘Quero ser John Malkovich’ e ‘Adaptação’. Ambos os filmes ajudaram a pavimentar um estilo ágil e cerebral que seria a marca de seus trabalhos, articulando elementos introspectivos e filosóficos com a versatilidade da narrativa e da montagem, explorando temas existenciais e psicológicos, por vezes surreais.
Em ‘Ela’, Samantha passa por um processo dialético de humanização: ela se humaniza ao mesmo tempo em que é humanizada. Ela é um sistema que não desenvolve sentimentos, sendo as suas reações respostas ao seu uso, o modo pelo qual se adapta e se porta perante suas interações. Desta forma, o filme nos permite pensar sobre um tema cada vez mais presente no nosso cenário contemporâneo, o impacto e a capilarização de sistemas de inteligência artificial nas nossas vidas.
No dia 5/11, primeira terça-feira do mês, teremos a última sessão do ano do cineclube Pedagogias da Imagem. Nesta sessão de encerramento da temporada, exibiremos o filme ‘Her’ (Her – EUA, 2013), de Spike Jonze. O longa de ficção científica conta a história de Theodore (Joaquim Phoenix), um homem que passa a criar laços afetivos com Samantha, a voz feminina de um sistema operacional baseado em inteligência artificial (Scarlett Johansson).
Após a exibição, teremos a alegria e a honra de receber, como convidada do mês, a antropóloga Carolina Parreiras, professora do Departamento de Antropologia da Universidade de São Paulo e do Programa de Pós-Graduação em Antropologia da mesma universidade (PPGAS/USP). Ela é doutora em Ciências Sociais pela Unicamp, com pós-doutorados em Antropologia na USP e Unicamp. Ela coordena o LETEC – Laboratório Etnográfico de Estudos Tecnológicos e Digitais – USP.
Estaríamos vivendo em meio à ficção científica? Venha pensar conosco sobre um tema que tem invadido cada vez mais o cenário contemporâneo. Falar de inteligência artificial é evocar uma série de imaginários que vão desde as promessas de um mundo melhor até visões catastróficas de destruição ou substituição do humano pelas máquinas. Nesse encontro, a partir do filme, o objetivo é refletir sobre as potencialidades da inteligência artificial, questionando as visões que polarizam o uso de tecnologias como simplesmente boas ou ruins.
A sessão acontece no Auditório Manoel Maurício, do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH). A entrada é franca e a atividade é voltada para o público geral, indicada para pessoas a partir de 14 anos.
Aproveite para seguir o cineclube no Instagram, no Bluesky e no Threads. Será ótimo contar com qualquer apoio na divulgação. Caso queira receber nossas divulgações e comunicados via WhatsApp, venha fazer parte do nosso grupo (restrito ao envio de divulgações). É só acessar este link-convite.
Se você curtiu, compartilhe e divulgue para amigos e demais interessados. E o principal: anote a data e programe-se!
“Enquanto um ser querido continua desaparecido, é como estar em um limbo no inferno. Não há descanso um só dia”
No dia 24/09, o Cineclube Pedagogias da Imagem, projeto de extensão da Faculdade de Educação da UFRJ, apresentou a segunda sessão do semestre, exibindo o filme Ruído (Argentina/México, 2022), de Natalia Beristáin, no Auditório Manoel Maurício/CFCH. Para debater acerca do filme, a professora, filósofa e autora Susana de Castro foi convidada para o encontro, apresentando a palestra A crise dos narco-feminicídios no México.
O filme se caracteriza como uma ficção mesclada com a realidade, portanto, possuindo caráter semidocumental. Não há trilha sonora, há somente os sons (ruídos) das cenas, reforçando a imersão do espectador. Baseado em diversas histórias reais, o longa apresenta o descaso das autoridades com os casos de desaparecimento, mostrando como o dinheiro do narcotráfico corrompe as instituições, apresentando também as redes de apoio e solidariedade das famílias de desaparecidos.
Estas redes funcionam como uma alternativa criada pela própria população, atuando como um sistema de busca dos desaparecidos, pois a cada dia que passa, a possibilidade de encontrá-los com vida diminui, demarcando que o trabalho da polícia se resume a recolher os corpos, e não impedir as mortes.
Susana de Castro aponta a cumplicidade entre a polícia, o judiciário e o Estado nessa nova ordem embasada pelo narcotráfico. Um exemplo real da inoperância das instituições foi o caso dos “43 de Ayotzinapa”. Datado de uma década atrás, 43 estudantes mexicanos da Escola de Professores Rurais Isidro Burgos desapareceram. O último presidente, Andrés Manuel López Obrador, instaurou uma comissão da verdade e indicou uma resposta para o caso, afirmando se tratar de um crime de Estado. Além disso, o ex-procurador-geral do México, foi preso por ligação com o caso (que incluía desaparecimento forçado, tortura e obstrução da justiça). Atualmente, ele se encontra em regime de prisão domiciliar.
No desaparecimento mostrado no filme, Gertrudis, filha de Julia, passa por uma constante “revitimização”, isto é, pela recorrência de se apontar uma falha na vítima como justificativa para o acontecido: quando as autoridades evocam, por exemplo, o uso recreativo de drogas que Gertrudis fazia com amigos. De acordo com relatos reais, esse é um modus operandi, principalmente quando se trata de mulheres desaparecidas.
Julia faz três coisas para tentar encontrar a filha: contatar inicialmente a polícia, o que a levou a procurar a filha esperando que ela estivesse morta; ir a um abrigo de mulheres que foram vítimas de algum tipo de sequestro, além de realizar buscas de restos mortais com outras mulheres que também possuem familiares desaparecidos. A iniciativa das buscas, que deveria ser tocada pela polícia forense, é da própria população mexicana, demonstrando mais uma vez o descaso governamental. A ausência de um corpo é pavorosa, pois ainda permite a esperança de que a pessoa desaparecida seja encontrada viva (neste ponto, é possível traçar um paralelo com o Brasil na época da ditadura militar).
Susana sinaliza que, na década de 90, os crimes da Ciudad Juárez mostraram um modelo de feminicídio ligado ao narcotráfico (portanto, um narco-feminicídio), que se alastrou pelo país. Segundo o Observatório Cidadão Nacional do Feminicídio (OCNF), mais de mil mulheres foram assassinadas desde 2008 somente nessa região. A partir da entrada das montadoras no México, por conta do custo da mão-de-obra, mulheres jovens começaram a trabalhar e, consequentemente, obtiveram mais autonomia, o que é levantado por Susana como uma motivação para as torturas. A mulher representa um ponto de união entre agressores, sendo a violência uma forma de assegurar o seu lugar de pertencimento no grupo, com caráter pactual (os integrantes não relatam o ocorrido), caracterizando uma afirmação coletiva. Apesar de haver vínculos de proximidade entre os locais em que os corpos apareciam e fazendas relacionadas ao narcotráfico, bodes expiatórios são usados para mascarar esta “coincidência”.
O México possui a ‘Lei Geral de Acesso das Mulheres a uma Vida Livre de Violência’, datada do ano de 2007. No entanto, o país não fez avanços quanto a esse problema, enfatizando a necessidade de uma mudança no país. Pela quantidade de mulheres desaparecidas e crimes não solucionados, pressupõe-se uma coesão moral dos cidadãos diante destes fatos. Para que uma mudança seja efetiva, o combate deve ser travado no campo cultural, moral, social, político e econômico. Os narco-feminicídios são alicerçados no sistema capitalista e algumas formas de resistência dos sujeitos são mostradas no final do filme, quando há repressão às mulheres que protestam. Se a luta democrática se vê diante destes desafios, somente uma mudança mais estrutural de sistema conseguiria garantir segurança às mulheres.
Por Julia Facundo e Isabela Felippe – Extensionistas do projeto Pedagogias da Imagem
Neste mês de outubro de 2024, o cineclube Pedagogias da Imagem recebe mais uma itinerância da Mostra Ecofalante de Cinema. Serão ao todo 4 dias do II Ciclo (Im)permanências: Desastres – Diálogos entre artes, humanidades e mudanças climáticas, com sessões no formato matinê e uma sessão regular. Exibiremos em cada dia um curta e e um longa-metragem do catálogo da mostra, sempre seguidos de mesas temáticas com convidados bastante especiais, desdobrando temas em ressonâncias com as questões socioambientais.
O Ciclo (Im)permanências, promovido pelo projeto de extensão Pedagogias da Imagem, surgiu em 2019 com o objetivo de ativar formas outras de abordar articulações entre as ciências e as artes, a educação e as humanidades, bem como os desdobramentos do presente para a divulgação científica e cultural frente às mudanças climáticas. Com uma programação de filmes e mesas de conferências, o ciclo será voltado à circulação de ideias interdisciplinares, propiciando um espaço de reflexão e discussão que explicite a relevância das pesquisas para uma ressignificação de sentidos sobre nossa relação com o mundo e o ambiente.
Em meio à 21ª Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, ao longo deste mês em que acontece a COP16, na Colômbia, a realização do Ciclo (Im)permanências também tem como objetivo a abertura de caminhos plurais para situar problemas e pensar nossa atual era de catástrofes. Por meio dos trânsitos nomádicos entre áreas do conhecimento diversas – como a antropologia, as artes, a filosofia, as ciências sociais e a educação, busca-se a proliferação de diálogos que permitam entrever as composições éticas, estéticas, políticas e afetivas de modos de existência e produções de conhecimento em torno do ambiente, atravessados por um horizonte comum.
Nesta segunda edição, o ciclo explora a ideia-força dos desastres, entendidos não apenas como eventos catastróficos, mas como pontos de articulação capazes de reverberar visualidades e anseios que transbordam dos filmes e se abrem para discussões e desdobramentos de alianças, potências criadoras, resistências afetivas e políticas.
Neste ano de 2024, o ciclo ampliou sua duração e o número de convidados, percorrendo diferentes dimensões dos desastres, a sua relação com a(s) cultura(s) e a sociedade, buscando desnaturalizar esses eventos e abrir espaço para reflexões sobre seus efeitos nas maneiras de viver, resistir e habitar o mundo.
📌 Local: Auditório Manoel Maurício – CFCH (Campus Praia Vermelha – Avenida Venceslau Brás, 71 – Botafogo – entrada de pedestres também pela Rua Lauro Muller, 71).
Maré braba(Brasil, 2023), de Pâmela Peregrino. Duração: 7′.
Ela, que conecta a todos pelas suas águas, observa e opera as mudanças decorrentes do aquecimento global. O povo à beira-mar é o primeiro a sentir suas agitações e mudanças de humor. Ela sabe que os humanos estão se movendo para frear essas mudanças. Assim como ela sabe, que repetem uma antiga saga: alguns poucos prevalecendo sobre o grande restante, aprofundam os problemas criados por eles mesmos. Uma vez que você sabe(França, 2019), de Emmanuel Cappellin. Duração: 105’.
Desde os anos 70 do século passado, cientistas soam o alarme sobre um possível colapso ambiental induzido pela corrida desenfreada pelo crescimento, que ignora o conceito da finitude dos recursos naturais. Um grupo deles afirma que a oportunidade de evitar mudanças climáticas catastróficas já passou. A partir daí, perguntam: como se adaptar ao colapso? O filme leva os espectadores a uma jornada íntima pelo abismo de um mundo à beira da catástrofe, na interseção entre ciência climática e desobediência civil. Entrevistas com Richard Heinberg, Jean-Marc Jancovici, Saleemul Huq, Susanne Moser, Pablo Servigne.
Convidadas:
Jacqueline Girão (Faculdade de Educação/UFRJ) Martha Werneck (Escola de Belas Artes/UFRJ)
Dia 18/10 Erosão, racismo e gentrificação climática
10h – Filmes:
Mar concreto (Brasil, 2021), de Julia Naidin. Duração: 14’.
Como um exercício de resistência, Sônia acompanha o processo de erosão que vem sendo causado pelo mar que, dia após dia, avança pela praia, se aproximando do muro de sua casa. Ela faz registros diários desse processo e, por meio deles, constrói um vínculo afetivo com um território que desaparece – uma prosa solitária que desafia a tragédia final. Arrasando Liberty Square (Razing Liberty Square, 2023), de Katja Esson. Duração: 86’.
À medida que o aumento do nível do mar ameaça a luxuosa orla marítima de Miami, os proprietários ricos se dirigem aos terrenos mais elevados. Os moradores de Liberty Square, bairro historicamente negro e o primeiro projeto de habitação popular segregada no Sul, são o novo alvo de um projeto de “revitalização”, devido à sua localização, a 3,6 metros acima do nível do mar. Nesse panorama, o documentário discute a crise da habitação acessível, o impacto do racismo sistêmico e a gentrificação climática.
Convidados:
Andressa Dutra (Gestora ambiental IFRJ e mestranda em Ecoturismo e Conservação – UNIRIO) Julia Naidin (Artista pesquisadora – CasaDuna e UENF) Fernando Codeço (Artista pesquisador – CasaDuna e Encontros Hemisféricos)
Mymba Guata é um curta-metragem realizado coletivamente com jovens guarani, resultado de uma oficina de stop motion na Escola Viva Guarani – Ponto de Cultura Mbya Arandu Porã, na Terra Indígena Rio Silveiras. Trata sobre a caminhada dos bichos em busca da Terra Sem Males, seguindo o território, o bom caminho e o Teko Porã (Bem Viver) do povo Guarani Mbya.
A partir do universo de três povos indígenas pressionados pela destruição causada pelo garimpo, o filme propõe uma aproximação do pensamento dos Yanomami, Munduruku e Mebêngôkre (Kayapó), na formação de uma aliança histórica em defesa dos territórios. É, portanto, uma narrativa sobre resistência e resiliência, na figura de uma união inédita que firma a manutenção de seus territórios físicos e subjetivos. Para além da destruição causada pelo garimpo, este é um filme sobre a impossibilidade de separação entre a existência indígena e o seu território.
Convidadas:
Marcia Cabral (Superintendente de Saberes Tradicionais do FCC/UFRJ) Deborah Bronz (Antropologia/PPGA-UFF) Paula Scamparini (Escola de Belas Artes/UFRJ)
Águas turvas (Brasil, 2023), de Gabriel Panazio, Kleber Leão. Duração: 7’.
Localizada na famosa Baía de Guanabara, a Z10 é uma das mais antigas e tradicionais colônias de pesca do país. Neste curta documentário, acompanhamos a história de Zezinho, um pescador desta comunidade histórica, cuja vida é drasticamente alterada pela crescente poluição marinha. Com a diminuição dos peixes, Zezinho e seus colegas enfrentam uma crise de sustento e identidade. Numa reviravolta inspiradora, eles reinventam suas práticas, transformando-se de pescadores em guardiões do oceano. Ao ‘pescarem’ lixo, não apenas encontram um novo meio de subsistência, mas também emergem como figuras centrais na luta pela preservação ambiental. Este curta-metragem é uma jornada visual e emocional, destacando a resiliência humana diante de adversidades ambientais, e a capacidade da comunidade de encontrar soluções criativas para problemas globais.
Barragem(Brasil, 2021), de Eduardo Ades. Duração: 96′.
A luta dos atingidos pelo maior desastre ambiental do Brasil para obter reparação. Após o rompimento da barragem de rejeitos de mineração da Samarco, em 2015, os moradores de Bento Rodrigues ficaram sem casa e sem fonte de renda. Desilusão, desinformação, desunião, protelações e outras manobras marcarão o caminho de resistência dos atingidos ao longo dos anos.
Convidadas:
María Gabriela Scotto (Antropologia/PPGDAP-UFF) Mari Fraga (Escola de Belas Artes-UFRJ)
Bióloga, licenciada em Ciências Biológicas e doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). É professora do departamento de Didática da Faculdade de Educação da UFRJ, atuando na licenciatura em Ciências Biológicas e no curso de Pedagogia. Coordena o coletivo de extensão e pesquisa “Educação Ambiental para professores da Escola Básica: perspectivas teóricas e práticas” (EAPEB). É docente permanente do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFF. Desenvolve e orienta pesquisas sobre educação ambiental em contextos escolares, formação docente, políticas públicas, racismo ambiental e juventudes em movimentos ambientalistas.
Martha Werneck
Doutora em Artes Visuais pela Escola de Belas Artes da UFRJ. Desde 2007 é professora na Escola de Belas Artes pelo departamento de Artes Bases/ Pintura. Sua produção autoral envolve trabalhos predominantemente na área da Pintura, que transitam entre a investigação fotográfica, a imagem digital, a ilustração e o design, bases nas quais sustenta sua prática, poética e pensamento plástico. Werneck desenvolve a pesquisa O corpo feminino como poética na Pintura contemporânea, que trata da investigação da representação do corpo feminino, apoiada em leituras que buscam sobretudo a compreensão do campo do feminino e do feminismo, e em trabalhos autorais da pesquisadora. Sua produção autoral envolve trabalhos predominantemente na área da Pintura, que transitam entre a investigação fotográfica, a imagem digital, a ilustração e o design, bases nas quais sustenta sua prática, poética e pensamento plástico. Atualmente trabalha na série Pequenas Ofélias e Icebergs.
Andressa Dutra
Gestora Ambiental (IFRJ) e mestranda em Ecoturismo e Conservação (UNIRIO). Pesquisadora e articuladora comunitária, com foco no monitoramento do Turismo de Base Comunitária junto a Rede Nós da Guanabara. Faz parte do coletivo Cafundós que reúne pesquisadores interessados na cidade de Magé – Baixada Fluminense do Rio de Janeiro. Enquanto pesquisadora independente, tem se dedicado ao estudo do campo da ecologia política e justiça ambiental, entendendo a dinâmica do racismo ambiental nos diversos territórios e comunidades tradicionais, principalmente quilombos. Integra o Grupo de Estudos em Educação Ambiental desde el Sur, GEASur/UNIRIO e o grupo de pesquisa Observatório de Parcerias em Áreas Protegidas.
Julia Naidin
Doutora em Filosofia Contemporânea, na UFRJ. Desde 2017, atua com produção e curadoria na residência artística brasileira CasaDuna Centro de Arte, Pesquisa e Memória de Atafona, onde desenvolve uma pesquisa de metodologia em arte contemporânea e educação ambiental e é atriz do Grupo Erosão. Realizou seu primeiro curta-metragem, Mar Concreto (2021). É pesquisadora de pós-doutorado na UENF, no Laboratório de Estudos do Espaço Antrópico, com pesquisas articulando a noção de patrimônio ao fenômeno da erosão e desenvolvendo práticas de museologia social.
Fernando Codeço
Fernando Codeço é pesquisador, artista visual e diretor de teatro. Coordena a CasaDuna – Centro de Arte, Pesquisa e Memória de Atafona. Dirige o Grupo Erosão de teatro e artes visuais. Doutor em Artes Cênicas (UNIRIO e UPJV), com pós-doutorado em Políticas Sociais (UENF). Trabalha na fronteira com a antropologia, interessado na eco política das artes em contexto de emergência climática, em processos coletivos e participativos de criação e em práticas de museologia social.
Marcia Cabral
Atualmente é Superintendente de Saberes Tradicionais do Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ, professora do Departamento de Terapia Ocupacional da Faculdade de Medicina e do Programa de Pós-Graduação em Psicossociologia de Comunidades e Ecologia Social (IP/CFCH) da UFRJ. Doutorado em Psicologia nos Estudos da Subjetividade pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Coordena o Laboratório de Estudos Africanos, integrado às atividades e à Terapia Ocupacional -Isé; (Lab Isé) – UFRJ. É membro do Grupo de Pesquisa Laboratório de Memórias, Territórios e Ocupações: Rastros Sensíveis/UFRJ/CNPq e do Atividades Humanas e Terapia Ocupacional/ UFSCar/CNPq. Tem atuado, lecionado, orientado e pesquisado epistemologias afro-diaspóricas, investindo, mais especificamente, nos saberes dos Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana.
Deborah Bronz
Doutora e mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, do Museu Nacional, da Universidade Federal do Rio de Janeiro – PPGAS/MN/UFRJ. Professora do Departamento de Antropologia da Universidade Federal Fluminense – UFF e do Programa de Pós-Graduação em Antropologia PPGA/UFF. Graduada em Geografia pela UFRJ (2001). Jovem Cientista do Nosso Estado pela FAPERJ. Coordenadora do curso de graduação em Antropologia da UFF. Secretária Geral da Associação Brasileira de Antropologia – ABA, gestão 2023/2024. Vice coordenadora do Grupo de Estudos Amazônicos e Ambientais – GEAM/UFF e pesquisadora vinculada ao Laboratório de Pesquisas em Etnicidade, Cultura e Desenvolvimento – LACED/MN/UFRJ. Autora dos livros Nos Bastidores do Licenciamento Ambiental – Uma etnografia das práticas empresariais em grandes empreendimentos e Pescadores do Petróleo. Políticas ambientais e conflitos territoriais na Bacia de Campos, RJ. Co-organizadora do livro Terra arrasada: desmonte ambiental e violação de direitos no Brasil.
Paula Scamparini
Doutora em Artes Visuais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com pesquisa paralela à própria produção artística desenvolvida na linha de pesquisa Poéticas Interdisciplinares. Professora no bacharelado em Artes Visuais – Escultura na Escola de Belas Artes da UFRJ. Atua como artista e eventualmente diretora de arte. É artista visual com exposições individuais em diversos espaços, como o Instituto Guimarães Rosa (México, 2023) e o Centro Atlântico de Arte Moderno (Espanha, 2023). Participou de exposições coletivas em instituições como o Museo de Arte Moderno Jesus Soto (Venezuela, 2019) e a Fundação Vera Chaves Barcellos (Viamão-RS, 2018). Suas obras integram coleções de importantes instituições, incluindo o Museu de Arte Moderna do Rio (MAM-Rio) e a Fundação Bienal de Cerveira (Portugal). Realizou diversas residências artísticas, como no Museu Nacional Soares dos Reis (Portugal, 2017). É líder do Grupo de Pesquisa Arte: Ecologias (GAE).
María Gabriela Scotto
Doutora e mestre em Antropologia Social pelo PPGAS/Museu Nacional/ UFRJ. Possui graduação em Ciencias Antropológicas pela Facultad de Filosofia y Letras, da Universidad de Buenos Aires. Professora do Departamento de Ciências Sociais do Instituto de Ciências da Sociedade e Desenvolvimento Regional da UFF (Campos dos Goytacazes). É coordenadora do GEPPIR – Grupo de estudos e pesquisa sobre Poder, Imagens e Representações (UFF/CNPq) e pesquisadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas Socioambientais (NESA/UFF). Tem experiência de pesquisa na área de antropologia social, com ênfase em questões socioambientais, Antropologia da Política e do desenvolvimento, atuando principalmente nos seguintes temas: antropologia da política, antropologia do cinema, poder e imagens, ativismo ambiental; participação política e ação coletiva, movimentos sociais e organizações das sociedade civil no Brasil e na América Latina, meio ambiente e conflitos sócio-ambientais. Desde 2010 coordena o projeto de extensão Cineclube SocioAmbiental Campos. No campo das organizações não-governamentais, foi Coordenadora Regional de Programas da ActionAid Americas, onde também coordenou a área de Pesquisa em Políticas Sociais na América Latina; atuou como pesquisadora no Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (IBASE) e como assessora da Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (FASE). Participou na Coordenação do Mapa de Injustiça Ambiental e Saúde no Brasil (Fiocruz/Fase). É membro da Associação Brasileira de Antropologia (ABA) e da Sociedade Brasileira de Estudos de Cinema e Audiovisual (Socine).
Mari Fraga
Mari Fraga é artista, pesquisadora e professora no Departamento Artes Visuais / Escultura, Escola de Belas Artes, UFRJ. Doutora em Processos Artísticos Contemporâneos pela UERJ, é criadora e editora da Revista Carbono (www.revistacarbono.com) – publicação online que propõe diálogos entre pesquisas artísticas e científicas desde 2012. Foi doutoranda visitante na Konstfack University of Arts, Crafts and Design (Suécia), com bolsa Capes PDSE. Trabalha em diversas mídias, como escultura, fotografia, vídeo, pintura e instalações. Entre as principais exposições estão as individuais Minério-Hemorragia (Espaço Cultural Sérgio Porto, 2018), Tempo Fóssil, (Galeria Ibeu, 2016) e On Oil (SU Gallery Konstfack, Estocolmo, 2015). Investiga a intervenção do agente humano na natureza, a dicotomia entre natural e artificial, o Antropoceno e as Mudanças Climáticas, tomando como ponto de partida os combustíveis fósseis, o ciclo do carbono, a mineração e a exploração da terra, analogias entre corpo e Terra, e o ecofeminismo. Sua tese Do Fóssil ao Húmus: Arte, Corpo e Terra no Antropoceno, analisou combustíveis fósseis, arte e natureza, em abordagem prático-teórica. Integrante da Cooperativa de Mulheres Artistas e líder do grupo de pesquisa GAE – Arte e Ecologias, onde coordena o projeto de pesquisa GeoAstro-poéticas, que articula Artes, Geociências e Astronomia, e o projeto de pesquisa Agente Húmus: práticas cooperativas em arte, agroecologia e ecofeminismo. Tem prática multidisciplinar, com atuação na academia e no circuito das artes, realizando exposições, palestras, curadorias, oficinas e experimentos artísticos em diversas linguagens.
Caso queira receber nossas divulgações e comunicados via WhatsApp, venha fazer parte do nosso grupo (restrito ao envio de divulgações). É só acessar este link-convite.
Este evento contribui para alguns dos seguintes Objetivos de Desenvolvimento Sustentável no Brasil (ODS), da Organização das Nações Unidas (ONU):
A quem recorrer quando o estado que deveria te amparar te ignora e te deixa entregue à própria sorte? Na sessão de setembro, o Cineclube Pedagogias da Imagem traz esta e outras discussões a partir do filme Ruído (2022), de Natalia Beristáin.
Tendo em seu centro o desespero de uma mulher, Julia, à procura de sua filha desaparecida, a narrativa parte do 9º mês sem nenhuma notícia do paradeiro da jovem de 25 anos e mostra a rede de apoio formada por outras mulheres que tiveram a vida atravessada pela mesma tragédia.
Ruído é uma obra contundente. O filme é de caráter semi-documental, se tratando de uma ficção que recolhe resquícios de tantas realidades – ou vontades – no México e os transforma numa única história de tirar o fôlego. Beristáin já havia abordado temáticas de opressão de gênero no México em filmes anteriores, como no longa-metragem O eterno feminino (Los adioses, 2017). Em Ruído, ela toca num assunto delicado do país, os desaparecimentos e o descaso das autoridades, e toma forma de denúncia, seja pelas histórias nele compartilhadas, seja pelo modo com que o fazem.
Vale ressaltar o detalhe de sua capa, que é tomada pelo rosto de Julia em close, com sua boca cruzada por um rasgo de papel, evocando o silenciamento da personagem (a atriz Julieta Egurrola é a própria mãe da diretora). Isto nos prepara para muito do que há de vir, um intenso debate acerca da inevitável impotência daqueles tocados por este problema – como prosseguir quando nada lhe é assegurado?
Para a construção do longa, Beristáin realizou uma profunda pesquisa de campo, chegando a participar das buscas e tendo acesso ao verdadeiro movimento que é, de fato, incansável. Para ela, a rede de apoio que se forma nestes grupos, a partir do reconhecimento na dor do outro, é essencial não só para o fortalecimento do coletivo, mas pela desesperada necessidade de afeto entre aquelas que compartilham semelhante vivência, como um motor da esperança. Não somente, as mulheres presentes no grupo que Julia frequenta são mulheres reais, interpretando a si mesmas e contando suas histórias.
Esta escolha reforça o cunho de denúncia do filme, tanto por dar voz a estas mulheres, quanto por nos aproximar delas e, portanto, reproduzir em nós a sensação de impotência delas, a certo nível, tornando visíveis suas dores. Deste modo, Ruído carrega a premissa de deixar o espectador insatisfeito e indignado; é como deveríamos estar. Somente sendo intimamente perturbados é que se supõe que sejamos movidos.
A sessão ocorrerá no dia 24/9, no Auditório Manuel de Albuquerque (prédio do CFCH), no Campus da Praia Vermelha-UFRJ. Não perca.
Redação: Julia Facundo Isabela Felippe – Extensionistas do projeto Pedagogias da Imagem
No dia 24, última terça-feira do mês, teremos a sessão de setembro do cineclube Pedagogias da Imagem. Exibiremos o filme Ruído (Ruido, 2022), de Natalia Beristáin, co-produção da Argentina e do México que acompanha a busca de uma mãe por sua jovem filha desaparecida, mostrando seu encontro com uma rede de apoio e com diferentes histórias de vidas marcadas pela crescente violência contra as mulheres. O filme participou da mostra Horizontes Latinos na 70ª edição do Festival de San Sebastián, na Espanha onde obteve o VIII Prêmio da Cooperação Espanhola.
Teremos a alegria e a honra de receber novamente, como convidada do mês, a filósofa Susana de Castro, professora titular do Departamento de Filosofia e do Programa de Pós-Graduação em Filosofia da UFRJ. Ela é doutora em Filosofia pela Ludwig-Maximilians-Universität, Munique, com pós-doutorado em Filosofia na CUNY Graduate Center, Nova York. Autora, dentre outros, do livro ‘Filosofia e Gênero’ (2014). Integrante do GT Filosofia e Gênero, da Anpof – Associação Nacional de Pós-Graduação em Filosofia.
O encontro será um convite para refletir sobre a escalada da violência contra as mulheres em meio à guerra entre cartéis do narcotráfico no México, partindo deste cenário para explorar relações, estruturas e significados entre essa intensificação da violência, o machismo e a lógica do patriarcado.
A sessão acontece no Auditório Manoel Maurício, do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH). A entrada é franca e a atividade é voltada para o público geral, indicada para pessoas a partir de 12 anos. Faça sua inscrição aqui. Aproveite para seguir o cineclube no Instagram, no Bluesky e no Threads. Será ótimo contar com qualquer apoio na divulgação.
Caso queira receber nossas divulgações e comunicados via WhatsApp, venha fazer parte do nosso grupo (restrito ao envio de divulgações). É só acessar este link-convite.