Afetos e novos repertórios diante do colapso


No dia 27/08, o Cineclube Pedagogias da Imagem, projeto de extensão da Faculdade de Educação da UFRJ, voltou do recesso com a primeira sessão do segundo semestre de 2024, apresentando o filme Sala dos professores (Alemanha, 2023), de İlker Çatak, no Auditório Manoel Maurício/CFCH. Para debater acerca do filme, a professora, filósofa e cineasta Angela Donini foi convidada para o encontro. Ela apresentou a palestra O colapso das relações no espaço educacional e a urgência de novos repertórios.

Provocando uma claustrofobia intencional, o filme se debruça sobre o drama de um aluno em ver sua mãe – uma professora da escola que dá palco à trama -, sendo acusada de um roubo pela também docente e protagonista, Carla Nowak, levantando um intenso debate sobre o apagamento do outro no ambiente estudantil, assim como sobre o lugar das promessas da educação diante de suas limitações enquanto produto do sistema.

No debate, um dos temas de maior importância foi a dinâmica do universo encapsulado: o filme é todo ambientado na escola; o enquadramento aperta o espectador, sua música o tensiona.  O filme constrói, de maneira muito precisa,  a ideia de um lugar sem saída, trazendo reflexões sobre como solucionar os problemas da pedagogia senão pela superação dos lugares de hierarquização, onde instintos são moldados e alunos são compreendidos somente na medida em que se submetem ao ordenamento moral. As barreiras impostas pelo modo (re)produtivista da escola estão em todas as suas instâncias, desde o tratamento da direção até nos próprios estudantes.

A naturalização do distanciamento dos docentes e gestores é mostrada, pela convidada, como uma ontologia não-relacional, a partir da qual se vislumbra uma exclusão das relações e afetos que constituem as personagens.. Tudo isso constitui um cenário de intolerância, onde nada é questionado e, portanto, nada é elaborado nem trabalhado. Mesmo assim, Carla busca atravessar as barreiras que a tornam tão distante de seus discentes usando uma das poucas armas que lhe restam – o afeto –, ao mesmo tempo em que também é vítima desse sistema. Carla, com sua sensibilidade, acaba atuando como uma possível resistência destas diretivas.

Angela Donini demonstra que, por mais que a professora tenha buscado uma abordagem empática, a estrutura educacional colapsa justamente porque é uma reprodução da sociedade, na qual a gestão da escola opta por fazer acordo com a polícia e a pedagogia policialesca mostrada ao longo da obra, justamente porque é a reprodução incontrolável do capital e a escola funciona enquanto uma aparelho ideológico do Estado que reproduz uma submissão aos discentes e poder aos professores.

A partir do filme Sala dos professores, podemos pensar em projetos exteriores à escola, capazes de produzir individualidade e subjetivações por meio da inclusão de crianças e adolescentes a partir de outras formas de acolhimento, que promovam a correlação entre arte, cultura e o espaço escolar, instrumentos de aproximação e reconhecimento, produzindo novas lugares éticos de produção de saberes e cuidados.

Nossa próxima sessão acontecerá no dia 24 de setembro, às 17h. Exibiremos o filme Ruído (Ruido – Argentina/México), de Natalie Beristain, seguido da palestra O caso dos narco-feminicídios no México, com a filósofa Susana de Castro (UFRJ). Anote e siga o projeto no Instagram, no Bluesky e no Threads para mais atualizações.

Redação:
Julia Facundo
Isabela Felippe
Extensionistas do projeto Pedagogias da Imagem

Fotos:
Carolina Moreira
– Extensionista do projeto Pedagogias da Imagem

Agradecimentos:
CFCH
Angela Donini

Sessão de agosto/2024 – ‘A sala dos professores’ e o colapso das relações no espaço educacional


Estamos de volta! Nesta última terça de agosto, 27/8, às 17h, acontecerá a sessão inaugural do semestre do cineclube Pedagogias da Imagem. Exibiremos o filme A sala dos professores (Das Lehrerzimmer – Alemanha/EUA, 2023), do diretor Ilker Çatak.

Indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, o filme acompanha a professora Carla Nowak (Leonie Benesch), envolta em uma rede de tensões disparada por uma série de roubos, acusações e preconceitos no ambiente escolar. O filme foi premiado em seis categorias no Prêmio do Filme Alemão (Deutscher Filmpreis) no ano passado: Melhor Filme, Diretor, Roteiro, Atriz e Edição.

Teremos a alegria e a honra de receber, como convidada do mês, a filósofa e cineasta Angela Donini, professora do Departamento de Filosofia da UNIRIO, do Mestrado Profissional em Filosofia e do Programa de Ensino de Artes Cênicas, também da UNIRIO. Ela dirigiu os curtas ‘Corpos que escapam’ (2015), ‘Ancorando navios no espaço’ (2016), ‘Nomes que importam’ (2017) e ‘Que minhas únicas cicatrizes sejam de sk8’ (2023). Ela é Doutora em Psicologia Clínica pela PUC-SP, com pós-doutorados em Medicina Social (UERJ) e em Estudos Contemporâneos das Artes (UFF).

O encontro será um convite para dialogarmos sobre a urgência em construirmos novos repertórios imaginativos e práticos para as relações que se estabelecem nos espaços educacionais.

A sessão acontece no Auditório Manoel Maurício, do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH), campus Praia Vermelha da UFRJ. A entrada é franca e a atividade é voltada para o público geral, indicada para pessoas a partir de 12 anos.

Faça sua inscrição neste link. Aproveite para seguir o cineclube no Instagram.

Caso queira receber nossas divulgações e comunicados via WhatsApp, venha fazer parte do nosso grupo (restrito ao envio de divulgações). É só acessar este link-convite.

Até lá!

A criação da família entre roubos, redes e laços afetivos

Na sessão do dia 23/5, de volta ao Auditório Manoel Maurício, do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH), tivemos a exibição do filme “Assunto de família” (Manbiki Kazoku – Japão, 2018) do diretor japonês Hirokazu Kore-eda, seguido da palestra “A família e suas imagens afetivas”, ministrada por Henrique Antoun, professor titular da ECO – UFRJ e do PPGCOM/UFRJ. Ganhador da Palma de Ouro em Cannes em 2018, o longa acompanha uma família não-tradicional moradora de uma grande metrópole que, após encontrarem uma menininha sozinha passando frio na rua, a levam para casa para cuidá-la. O filme mostra o cotidiano, as alegrias e os segredos de uma família tentando sobreviver por meio de pequenos furtos em meio a pobreza em uma área central no Japão.

Henrique Antoun, em sua palestra, explorou as imagens e articulações afetivas que o filme nos apresenta, pensando sobre a ideia de ‘família’, desdobrando elementos que apontam para formas mais espontâneas e diversas de parentesco, mais próximas da ideia de rede, para além da filiação e dos laços ditos naturais. Do ponto de vista do Estado, os personagens do filme não seriam uma família legítima, dada a inexistência de um vínculo sanguíneo. Então, como formar uma família no interior deste Estado? Ao escolherem acolher em sua casa uma menina que estava sozinha na rua – e, após perceberem que ela tinha marcas de abusos cometidos pela sua família sanguínea -, temos uma questão moral, pois, teoricamente, eles sequestram uma menina que tinha uma família, mas também a salvaram de uma realidade de abusos negligenciada pelo mesmo Estado, formando um novo tipo de arranjo familiar.

O diretor Kore-eda não julga os personagens, optando antes por descrever sua realidade e focar em outros dilemas. No longa, o Estado é falho em diversos sentidos – algo que se nota dadas as condições de vida da família, que pratica furtos de alimentos, vestimentas, ou seja, recursos básicos de sobrevivência, que poderiam ser providos, por exemplo, com a atenção do Estado. Para Antoun, faltaria honestidade, do ponto de vista estatal, enquanto sobraria sinceridade do ponto de vista familiar dos personagens. 

Sendo assim, o filme trabalha com o conceito de “chosen family” – na tradução, ‘família escolhida’ – ao mostrar que relações podem ser construídas dentro de uma realidade precária e entre desconhecidos que, mesmo envoltos em um turbilhão de situações, mesmo com alguma moralidade distorcida, criam para si  algum espaço afetivo, um ponto de partida para a criação de uma família. Kore-eda nos faz pensar, portanto, na nossa própria desconstrução moral, trabalhada com a delicadeza das relações, refletindo sobre como se constrói e se mantém o amor, além de discutir se existe, no limite, condição para se formar uma família. Deste modo, ele explora a ideia de rede associada à complexidade dos seres humanos, de suas relações, enfatizando que seria justamente no emaranhado destas relações que os vínculos se formam, se multiplicam e se perpetuam.

Redação:
Rafaela Filgueiras – bolsista PIBIAC do projeto Pedagogias da Imagem

Fotos:
Gabriel Cid – coordenador do projeto Pedagogias da Imagem

Agradecimentos:
CFCH
Henrique Antoun

Paisagens da alteridade e a renovação do olhar

Na quarta-feira, 26 de abril, o Cineclube Pedagogias da Imagem retornou para sua primeira sessão do ano com o filme A história da eternidade (2014), de Camilo Cavalcante. Após a exibição, tivemos a palestra O outro em tempos outros: ressonâncias entre o cinema e a educação, com a convidada Andreza Berti, doutora em educação pela UFRJ e diretora adjunta de ensino do CAp-UFRJ. 

No primeiro longa-metragem do diretor pernambucano, a narrativa ficcional acompanha a vida que pulsa em meios às tensões e limitações de moradores de um pequeno vilarejo no sertão, centrada na história de três mulheres: Alfonsina, adolescente, que tem o sonho de conhecer o mar; Querência, adulta, que está passando pelo luto após perder seu filho; e Das Dores, idosa, que reencontra seu neto de São Paulo, depois de anos. A história se divide como em contos, mas interligada de alguma forma, tendo o sertão como pano de fundo e incorporando influências de fábulas nordestinas na narrativa.  

Andreza iniciou sua fala estimulando o público a pensar sobre nossa experiência da relação com o outro, com a alteridade apresentada ao longo da projeção. Quais afetos foram mobilizados na presença do outro? De acordo com a pesquisadora, é a experiência que permite o exercício do pensamento, a partir do olhar atento sobre as coisas. A partir do movimento exploratório do pensamento sobre o lugar em que se vive, é possível enxergar a maneira pela qual nos posicionamos no mundo, o lugar ao qual pertencemos, e, ao mesmo tempo, onde a alteridade e a diferença também habitam. Ao adotar esse olhar mais atento, percebemos a presença do outro não só neste próprio lugar, mas também como agente do significado construído a partir deste olhar. Ela nos convida, então, para entrar neste lugar e nos tornarmos outros, não no sentido de uma apropriação do lugar do outro, mas de uma abertura para a diferença oferecida pelo cinema. 

Dito isso, o papel que o cinema exerce na composição desse olhar se dá por meio da lente do filme, a vista pela qual olhamos. Ao assistir um filme, assistimos tudo pela perspectiva do olhar que nos é apresentado. As perguntas que surgem são geradas a partir do exercício do pensamento no encontro com as imagens. O papel do cineasta, portanto, seria o de criar a relação entre o filme e quem está vendo por meio da gênese de novos mundos, de novas relações e pensamentos, instigando-nos a formular novas perguntas a partir do que se vê. Sendo assim, o diretor Camilo Cavalcante nos presenteia com novos olhares: o filme se dá por longos e demorados planos abertos que nos convidam a ver e a sentir de outra forma as coisas e o outro, afastando-nos da familiaridade das identificações.   

Andreza fez menção a uma das cenas mais marcantes do filme, na qual Joãozinho, personagem de Irandhir Santos, performa ao som da música “Fala” – da banda Secos e Molhados -, diante de todo o vilarejo. Enquanto a câmera gira ao redor do artista, vemos todos os personagens do filme saírem de suas casas para vê-lo dançar. Deste modo, somos lançados em meio aos diferentes olhares e reações dos personagens, ao mesmo tempo em que construímos nosso olhar a partir das perspectivas do outro. Sendo assim, nas palavras da convidada, o cinema seria um elemento desestabilizador, produtor de afeto: ele promoveria um espaço de manifestação e encontro com a alteridade, ao multiplicar as experiências vividas a partir do contato com a diferença, nos fazendo pensar se ainda assim continuaríamos os mesmos. O filme de Cavalcante operaria desta forma: ele questiona nossos afetos, nossos juízos de valor, reenviando nossa presença para a posição de espectadores do outro, imersos no tempo do outro.  

E por falar em tempo, outra pergunta nos sobrevém ao longo da palestra: o que fazemos com o tempo do agora? E o tempo das relações pedagógicas, quando mediadas pelo cinema e pelas artes? Para os espectadores de um filme, imersos em uma sala de exibição, o tempo se interrompe e o presente vira o instante do que é exibido, incluindo aí o acoplamento de pensamentos, sensações e imagens, a co-construção dos afetos através da narrativa e personagens. Sendo assim, da mesma maneira que Joãozinho conseguiu apresentar o mar para Alfonsina com o exercício da imaginação, o papel do cinema no espaço da educação se associa ao desafio de criar linhas de fuga, tempos e realidades capazes de criar reflexões e novos olhares para o mundo, para os outros, para o que está ao nosso redor. 

A próxima sessão do cineclube ocorrerá neste mês de maio. A programação será divulgada em breve. Siga o projeto no Instagram, no Facebook e no Twitter para atualizações e mais informações. Até breve!

Redação:
Rafaela Filgueiras – bolsista PIBIAC do projeto Pedagogias da Imagem

Fotos:
Ananda Kropotoff – extensionista do projeto Pedagogias da Imagem

Agradecimentos:
CBPF
Andreza Berti
Camilo Cavalcante

Retrospectiva 2022

O ano de 2022 marcou a transição entre o período difícil dos últimos anos, com a memória do isolamento social, do temor da emergência sanitária e da interrupção de sessões presenciais do nosso projeto, e o tempo de retomada gradual de atividades. Desde 2020, nos defrontamos com desafios para a cena cineclubista, que precisou lançar mão de diferentes recursos, estratégias e gambiarras para seguir impulsionando e mantendo vivas as discussões, o interesse e o amor pelos filmes diante das ameaças e do horror da realidade cotidiana.

O cinema (e os cineclubes) resistiram. Ao longo de todos estes anos recentes, conversar sobre filmes, compartilhar conteúdos e debates mobilizadores da cinefilia, do pensamento crítico e da circulação de ideias, se converteram em ações necessárias não apenas para suportar o cotidiano, mas para promover também sua ressignificação pelas imagens, a expansão das nossas formas de perceber, experimentar e confrontar o mundo.

Ao longo de 2022, o cineclube Pedagogias da Imagem seguiu com suas sessões virtuais, transmitidas no Facebook da Faculdade de Educação da UFRJ, de janeiro a junho. Na sessão de janeiro, inauguramos o ano com a participação da Susana de Castro, professora do Programa de Pós-Graduação em Filosofia da UFRJ, apresentando uma conversa motivada pelo filme Alien, o oitavo passageiro (Alien, 1979), de Ridley Scott, intitulada Giger e Lovecraft: uma jornada no inconsciente.

No mês seguinte, a sessão de fevereiro contou com a parceria do PMAP – Programa de Monitoria e Apoio Pedagógico da Faculdade de Educação da UFRJ. Tivemos a alegria de contar com a participação da Teresa Gonçalves, professora da Faculdade de Educação da UFRJ, apresentando a fala Ensaio, verdade e ficção: considerações sobre o “impuro”, motivada pelo filme Jogo de cena (2007), de Eduardo Coutinho.

Na sessão de março, em ressonância com diversas ações que tradicionalmente colocam em foco a discriminação racial, tivemos uma conversa com Fábio José Paz da Rosa, hoje professor da UFRRJ. Ele ministrou a palestra Abolição ou vir a ser pelo que não foi dito, evocando questões em diálogo com o filme ‘Abolição’ (1988), de Zózimo Bulbul. Esta sessão marcaria o início dos trabalhos do ano de 2020, tendo sido programada para março daquele ano, e precisou ser suspensa devido à necessidade de isolamento.

No mês seguinte, na sessão de abril, recebemos o convidado José Ricardo Ramalho, professor titular do Depto. de Sociologia do IFCS/UFRJ e do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (PPGSA-UFRJ). Sua fala, intitulada Um necessário ato político de Ken Loach, desdobrou análises em torno do filme Você não estava aqui (2019), aproveitando para comentar sobre a filmografia e sobre os elementos potentes da obra do cineasta britânico.

Com o tradicional festival de Cannes de 2022 acontecendo em maio, aproveitamos o fato de haver, na programação do festival, a exibição da cópia restaurada de Deus e o diabo na terra do sol (1964), para celebrar o cineasta Glauber Rocha na sessão de maio. Contamos com a participação de Pablo Zunino, professor de filosofia da UFRB, que apresentou a intervenção Sonho e revolução em Glauber Rocha: um devir estético-político latino-americano. A sessão foi uma parceria com o GEPE – Grupo de Estudos e Pesquisa em Est´ética da UFRB.

Encerrando nosso ciclo de conversas virtuais, concluímos o semestre com a sessão de junho. Recebemos o convidado Wenceslao Oliveira Junior (professor da Faculdade de Educação da Unicamp e pesquisador do Laboratório de Estudos Audiovisuais OLHO), com a palestra Um filme na escola, vários cinemas da escola, desdobrada do filme Eleições (2018), da Alice Riff. Após esta sessão, e depois dos anos de isolamento, planejamos o retorno presencial das sessões para o segundo semestre.

Neste meio tempo, tivemos a notícia da morte do cineasta Jean-Luc Godard, que mobilizou nossas atenções e também a iniciativa de um retorno ao presencial com alguma sessão que o homenageasse. Foi assim que programamos a sessão especial SÉCULO GODARD, que aconteceu presencialmente no campus Praia Vermelha da UFRJ, em 11 de outubro. Exibimos o último longa-metragem do Godard, Imagem e palavra (2018), contando com as ilustres presenças de Jorge Vasconcellos (professor da UFF e autor do livro Deleuze e o cinema) e Ana Lúcia Soutto Mayor (professora aposentada do CAp-UFRJ, pesquisadora da Fiocruz e co-organizadora do livro Godard e a educação), para conversar com o público acerca do legado e da potência da obra do cineasta, atravessando diferentes áreas do conhecimento e campos de atuação.


Depois de outubro, tivemos o encerramento das atividades deste ano atípico com chave de ouro, convocando e estimulando nossos anseios para um 2023 renovado. Em 14 de dezembro, tivemos a exibição do filme O botão de pérola (2015), de Patricio Guzmán. A força das imagens, aliada ao trabalho de roteiro do cineasta chileno, foi intensificada pela realização da sessão no auditório do CBPF, vizinho ao campus da UFRJ.


Nesta sessão de encerramento, contamos com a participação da Andréa França, professora da PUC-Rio e doutora em Comunicação e Cultura pela ECO-UFRJ, apresentando a palestra Documentário e acontecimento histórico: (des)pedagogias da sensibilidade. A fala da Andréa, bem como o debate que se seguiu, aglutinaram diversas questões caras ao projeto, articulando a noção de pedagogia da imagem a uma (des)pedagogia, ao modo como os filmes se acercam do tempo e da história.

Deste modo, renovamos os votos para um 2023 de encontros, convidando o público para seguirmos apostando na renovação incessante do olhar oferecida pelos filmes, para os atravessamentos entre educação, cultura e ciências. Agradecemos a todas e todos que nos acompanharam em 2022. Vamos juntos, intensificando a relação entre cinema e pensamento, abrindo caminho para a transformação e ressignificação do mundo e de quem assiste e vivencia os filmes. Fiquem ligados em nossas redes e canais para saber mais sobre a programação de 2023.

Equipe e alguns participantes da sessão de encerramento da temporada 2022.

Fotos: Caio Wilbert – extensionista do projeto Pedagogias da Imagem.

Século Godard: Exibição do filme “Imagem e Palavra” na sessão de outubro de 2022

É com alegria que o cineclube Pedagogias da Imagem apresenta e convida o público geral para participar do encontro ‘SÉCULO GODARD’, que acontecerá na terça-feira, dia 11 de outubro de 2022, no Salão Pedro Calmon, do Fórum de Ciência e Cultura, localizado no 2º andar do Palácio Universitário, campus Praia Vermelha (Av. Pasteur, 250 – Urca).

Para marcar a retomada das sessões presenciais do cineclube Pedagogias da Imagem, programamos uma sessão especial em homenagem ao cineasta Jean-Luc Godard, onde poderemos assistir coletivamente ao seu último longa-metragem, ‘Imagem e palavra’ (Le livre d’image – Suíça/França, 2018).

Ao longo de toda sua obra, e de uma vida de quase um século, Godard não apenas abriu caminhos para a inauguração/renovação da linguagem cinematográfica, da nouvelle vague ao cinema experimental, como também não cansou de se interrogar e de fazer os espectadores pensarem sobre as relações entre a imagem, o mundo, a arte e a política. Por isso, após a exibição do filme, teremos uma mesa composta por dois pesquisadores, cada um desdobrando a potência e o legado da contribuição de Godard em diferentes áreas.

Teremos a honra de contar com os seguintes convidados:

Ana Lucia Soutto Mayor
Doutora em Letras pela UFF, pesquisadora no Laboratório de Iniciação Científica na Educação Básica (LIC-PROVOC) da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (Fiocruz), professora do Programa de Pós-Graduação Lato Sensu, no Curso de Ciência, Arte e Cultura na Saúde, do Instituto Oswaldo Cruz (IOC-Fiocruz), e professora aposentada do Colégio de Aplicação (CAp-UFRJ). Co-organizadora do livro ‘Godard e a educação’.

Jorge Vasconcellos
Doutor em Filosofia pela UFRJ. Professor da UFF, no Departamento de Artes e Estudos Culturais/RAE e no Programa de Pós-graduação em Estudos Contemporâneos das Artes/PPGCA-IACS. Autor, entre outros, do livro ‘Deleuze e o cinema’, e de diversos artigos e capítulos sobre o cinema de Godard em perspectiva filosófica.

A entrada é franca. A atividade é voltada para o público a partir de 16 anos.

** Esta programação contará com intérpretes de Libras, com a colaboração da DIRAC/UFRJ.**

Declarações de participação serão emitidas mediante solicitação, para aqueles que desejarem.

Nos acompanhe também pelas redes sociais!

Facebook: Cineclube Pedagogias da Imagem

Twitter: @cinepedagogias

Instagram: @cine.pedagogias

Caso queira receber nossas divulgações e comunicados via WhatsApp, venha fazer parte do nosso grupo. É só acessar o link abaixo:
https://chat.whatsapp.com/FchfwkBY79BCVgSsPDPjfw 

Coexistir entre imagens no filme ‘Eleições’


O documentário Eleições (2018), dirigido por Alice Riff, é o escolhido para a sessão do mês de junho do Cineclube Pedagogias da Imagem, da Faculdade de Educação da UFRJ. Lançado em 2018, ano eleitoral tão marcante historicamente para o país, é também o ano em que a diretora documenta o dia a dia dos alunos da Escola Estadual Doutor Alarico da Silveira no centro de São Paulo  e as eleições do grêmio estudantil.  

Ao longo do documentário, as dúvidas sobre o futuro, que apresenta tantas possibilidades e, ao mesmo tempo, é tão incerto, surgem entre os alunos. Se preparar para o ENEM, começar a traçar um plano para uma carreira profissional, que muitas vezes pode não atender aos interesses pessoais dos alunos, são decisões importantes que precisam ser tomadas tão cedo. É nesse clima que os jovens do documentário começam a compreender a importância de uma atitude política ativa. 

Alice Riff constrói o documentário de forma em que os alunos estão envolvidos diretamente na produção, aproximando o espectador daquele cotidiano. Assim, ouvimos as propostas das chapas, percebemos o envolvimento crescente dos alunos, assim como a responsabilidade para o objetivo final de possibilitar uma escola diversificada, que reflita sobre seu corpo estudantil em todas as suas pluralidades. 

As quatro chapas são compostas por alunos que se distinguem, com objetivos diversos e posicionamentos consistentes que amadurecem durante a campanha eleitoral escolar. Os espectadores são atravessados por suas próprias memórias e experiências durante o ensino médio, e são convidados a sentir a ansiedade durante a votação e revelação da chapa vencedora, vibrando, ao final, junto com a chapa vencedora, sentindo-se novamente na escola. 

O documentário está disponível gratuitamente na plataforma Itaú Cultural Play e o cine Pedagogias da Imagem convida a todos para a sessão no dia 28 de junho, que irá desdobrar os pontos que o filme traz de forma tão espontânea, com a participação do convidado Wenceslao Machado de Oliveira Junior (FE/Unicamp), apresentando a fala ‘Um fime na escola, vários cinemas da escola’. Wenceslao vai propor um diálogo com o filme a partir dos encontros entre cinema e escola. Que escolas emergem desses encontros com o cinema? Que cinemas (e filmes) emergem destas experiências?

Redação:
Stella Feitosa (Extensionista do projeto Pedagogias da Imagem)

Sonho e revolução em Glauber Rocha: um devir estético-político latino-americano – Sessão de Maio/22

No último dia 31 de maio, o Cineclube Pedagogias da Imagem, da Faculdade de Educação da UFRJ, promoveu um encontro sobre Deus e o diabo na terra do sol (1964), filme clássico de Glauber Rocha. Para falar sobre o filme, o cineclube convidou Pablo Zunino, doutor em Filosofia pela USP e professor da UFRB. O encontro, intitulado como “Sonho e revolução em Glauber Rocha: um devir estético-político latino-americano”, teve como cerne a intersecção entre a filosofia e o cinema.

O filme é um dos marcos do cinema brasileiro. Glauber Rocha, seu realizador, foi um dos pioneiros do movimento Cinema Novo, corrente que se aproxima nouvelle vague francesa. Glauber obteve reconhecimento internacional por esse filme, sendo indicado à Palma de Ouro no Festival de Cannes. Pablo Zunino, convidado do cineclube, faz uma abordagem da estética de Glauber Rocha e, mais enfaticamente, do filme supramencionado, a partir da filosofia de Gilles Deleuze.

Zunino trata de alguns temas centrais do que ele intitulou como devir estético-político latino-americano. A mistura desses dois termos (“devir” e “estético-político”) remete, primeiramente, ao conceito de devir, de Deleuze; por outro lado, remete às noções centrais de estética da fome, da violência e do sonho, presentes nas obras e nos filmes de Glauber Rocha. O background histórico que permeia essas noções é certamente o da luta política na América Latina, desde a década de 60, como ressalta o professor; nesse sentido, são exemplares as manifestações de maio de 68 que se estenderam ao chamado Terceiro Mundo. O cinema de Glauber Rocha faz parte desse grande movimento de transformação da vida social a partir da produção filmográfica com forte cunho político.

As reflexões do professor partem dos dois livros de Deleuze que tratam especificamente do cinema, A imagem-movimento e A imagem-tempo. Zunino ressalta a ideia, a partir de Deleuze e Glauber Rocha, da possibilidade de se conceber o cinema, a ideia cinematográfica, como geradora de transformações políticas. Após explicar brevemente a passagem do cinema clássico ao cinema moderno, crucial para o pensamento deleuzeano sobre o cinema, Zunino fala um pouco sobre outros filmes importantes de Glauber, como Barravento (1962), Terra em transe (1967) e O dragão da maldade contra o santo guerreiro (1969), este uma espécie de continuação do filme privilegiado na conversa.

Para concluir a conversa, Zunino retoma a questão, importante para Deleuze, do povo que falta. Para Zunino, o povo falta e ao mesmo tempo não falta, já que o povo está vivo e presente, embora falte metaforicamente. Para dar o tom de seu argumento, menciona uma frase de Glauber Rocha que diz: “A América Latina permanece colônia e o que diferencia o colonialismo de ontem do atual é apenas a forma mais aprimorada do colonizador”. Nesse sentido, o povo não pode plenamente existir, porque está sempre sendo colonizado de formas cada vez mais elaboradas.

A sessão do mês de junho do Cineclube ocorrerá na terça-feira, dia 28, abordando o filme Eleições (2018), de Alice Riff.

Nos acompanhe também pelas redes sociais!

Facebook: Cineclube Pedagogias da Imagem

Twitter: @cinepedagogias

Instagram: @cine.pedagogias

Redação: Gabriel Cabral (Extensionista do projeto Pedagogias da Imagem)

Será que existe almoço grátis?

Sociedade do Almoço Grátis 7

Na próxima terça-feira, 21/08, a Matinê Pedagogias da Imagem encerra a itinerância UFRJ da Mostra Ecofalante com a exibição de mais dois filmes (um curta-metragem e um longa-metragem).

Serão exibidos os filmes Imigrantes digitais (Digital immigrants – Suíça, 2016), de Norbert Kottmann & Dennis Stauffer e o longa-metragem Sociedade do almoço grátis (Free Lunch Society – Alemanha, 2017), de Christian Tod.

Já imaginou viver em um mundo no qual o trabalho não tivesse um papel central na organização das nossas vidas? O longa, através de entrevistas com especialistas e figuras-chave de diversas escolas de pensamento, explora a ideia, antes utópica, de uma renda básica fixa e garantida.

O filme do diretor Christian Tod participou do festival CPH:DOX, da Dinamarca, e integra a seleção sobre Trabalho no Panorama Internacional Contemporâneo da Mostra Ecofalante de Cinema Ambiental.

Para conversar com o público após a exibição, teremos a alegria e a honra de receber José Ricardo Ramalho, professor titular do Departamento de Sociologia e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia da UFRJ. Doutor em Ciências Sociais pela USP, com pós-doutorados em Londres e Manchester, no Reino Unido, seu foco de atuação de longa data é a área da Sociologia do Trabalho.

Venham e divulguem! Acesse aqui o link para o evento no Facebook. A sessão está aberta também para receber professores com seus estudantes. Se quiser reservar vagas para sua turma, é só entrar em contato conosco pelo email: pedagogiasdaimagem@gmail.com

programação ufrj 3.png

FREELUNCH_Poster-4

Matinê e debate com Sílvio Tendler na UFRJ

dedo1.jpg

O cineclube da Faculdade de Educação segue com as sessões semanais da itinerância UFRJ da Mostra Ecofalante. A próxima sessão da Matinê Pedagogias da Imagem acontece no dia 14/8, às 10h, no auditório Manoel Maurício/CFCH, campus da Praia Vermelha da UFRJ.

Exibiremos o filme Dedo na ferida (Brasil, 2017), o novo documentário de Sílvio Tendler, e teremos a alegria e a honra de contar com a presença do diretor para um debate com o público. Sílvio conta com uma vasta filmografia na qual se destacam os documentários Os anos JK (1980), Jango (1984), Glauber o filme, labirinto do Brasil (2003) e mais recentemente Utopia e barbárie (2009).

Dedo na ferida foi o grande vencedor do Festival do Rio no ano passado. Ele aborda os impasses da lógica do capital financeiro para o estado de bem-estar social, especialmente os contrastes ligados à concentração de riquezas, reunindo artistas, cientistas e intelectuais, como David Harvey e Costa Gavras, para pensar os dilemas do mundo contemporâneo, assim como formas possíveis de transformação e resistência.

Antes do filme de Sílvio Tendler, será exibido também o curta-metragem Corp (Argentina, 2016), de Pedro Polledri.

Além do público geral, reforçamos o convite também a professores da educação básica e superior que quiserem trazer suas turmas (estudantes a partir de 14 anos), e estamos reunindo os agendamentos destes grupos por email.

A entrada é franca.

Silviotendler_3a1.jpg