A diversidade do corpo periférico

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Na próxima terça-feira, dia 25 de setembro, o cineclube Pedagogias da Imagem fará a exibição do filme Meu corpo é político, em uma sessão de matinê, às 10h, no Auditório Manuel Maurício/CFCH. Em seguida, haverá uma conversa sobre o filme com a diretora Alice Riff, em videoconferência, e com a doutoranda em Antropologia Social Bárbara Pires.

O filme, que teve estreia mundial em abril de 2017 no Visions du Réel – um importante festival de documentários da Suíça – apresenta a vida de quatro jovens periféricos de São Paulo, militantes LGBTs, que compartilham algo em comum: a transexualidade. As diferentes histórias são retratadas partindo de pontos de vista cotidianos e ordinários, quebrando, com o retrato documental, os estereótipos do que se imagina ser a vida queer. Giu Nonato, uma jovem fotógrafa vivendo uma fase de transição, contrapondo-se à Paula Beatriz, que é diretora de uma escola pública. Já Linn da Quebrada, terceira personagem apresentada, é atriz, cantora e professora de teatro. Fernando Ribeiro, por fim, é um estudante e operador de telemarketing.

“Imagino que, quando as pessoas vão ao cinema, elas chegam com uma bagagem de conceitos pré-estabelecidos, uma expectativa sobre o universo transgênero, que não se confirma”, diz Alice ao jornal El País. A abordagem da narrativa busca ao mesmo tempo valorizar a efervescência da militância e existência queer, mas também proporcionar a quebra de paradigmas através do cenário cotidiano. E conclui, “o filme mostra uma forma diferente de se olhar para essa população, que não está na TV e nem no senso comum”.

Alice Riff, paulista, 34 anos, estreia seu primeiro longa-metragem. Entretanto, formada em Cinema e Ciências Sociais pela FAAP/USP, já dirigiu oito curtas documentais, que participaram de festivais nacionais e internacionais. Entre seus trabalhos mais recentes estão “Orquestra Invisível Let’s Dance”, “100% Boliviano, Mano”, e “Diálogos”.

Para conversar e discutir sobre o filme, teremos o privilégio da presença da doutoranda em Antropologia Social pelo Museu Nacional da UFRJ (PPGAS/MN/UFRJ), Bárbara Pires. É também Pesquisadora do Núcleo de Estudos em Corpos, Gêneros e Sexualidades (NuSEX) e da Liga Acadêmica Brasileira de Estudos em Intersexualidade (LABEI).

Venham e divulguem! Acesse aqui o link para o evento no Facebook. A sessão está aberta também para receber professores com seus estudantes. Para reservar vagas de turmas, entre em contato conosco pelo email: pedagogiasdaimagem@gmail.com

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Redação: Jeniffer Cavalcanti e Julia Stallone – extensionistas do Cineclube Pedagogias da Imagem. 

 

 

Por uma pedagogia “transviada”

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Na terça-feira, dia 4 de setembro, foi exibido o filme Corpo elétrico, de Marcelo Caetano, no Pedagogias da Imagem – cineclube da Faculdade de Educação da UFRJ. Após a sessão, o professor Thiago Ranniery, da Faculdade de Educação da UFRJ, conversou com a plateia e apresentou a palestra “O intenso tecer, ou esboço de uma pedagogia queer”. Ele é Doutor em Educação pela UFRJ, além de ser pesquisador do Núcleo de Estudos de Currículo (NEC) e coordenador do Bafo! – Bando de Estudos e Pesquisa em Currículo, Ética e Diferença. Suas principais áreas de atuação envolvem os temas de sexualidade, subjetividade, afeto, gênero, corpo e diferença.

Nesse contexto, o professor abordou em sua fala o conceito de “Pedagogia Queer”, uma forma diferente de pensar a educação a partir de inter e intra relações de forma, escapando da noção tradicional de “formação” – tão cara aos estudos pedagógicos – em direção de sua ousada proposta de “deformar”. Trata-se de uma aposta em afetos bagunçados na composição de um corpo social de solidariedades. Essa nova maneira de pensar a aprendizagem baseia-se em uma educação participativa, em um pensar com o outro, libertando-se da concepção hierarquizada e academicista da sala de aula. Dessa forma, a pedagogia se entenderia como encontros aberrantes entre sujeitos estranhos, formando pensamentos “feito corpo, feito carne”, nas palavras do pesquisador.

Em uma perspectiva mais diretamente relacionada ao filme, Ranniery questiona certa tendência de expressões do cinema LGBT, com sua insistência em seguir certa padronização melancólica em suas narrativas, explorando somente o trágico da experiência queer. O filme escolhido, todavia, foge a esse modelo ao retratar um cotidiano mais leve, que apresenta a amizade, a alteridade e a festa como modo de vida. Esse “devir alcoólico”, no qual os personagens deslocam-se de si mesmos para estarem com o outro, gera uma existência em que se entrelaçam diferenças. Essa nova construção cinematográfica, que trabalha exatamente na centralidade da exploração do corpo, traduz a visão da homossexualidade enquanto modo de vida, como maneira de ver e experimentar o mundo, dando voz, assim, a um arquivo queer que não se torna história.

A próxima sessão do Pedagogias da Imagem será uma matinê, no dia 25 de setembro, às 10 horas, no Auditório Manuel Maurício do CFCH (Campus da Praia Vermelha da UFRJ). Mantendo a temática de diversidade e sexualidade do mês de setembro, será exibido o filme Meu corpo é político (Brasil, 2017), de Alice Riff. O documentário será seguido de uma conversa com a diretora do filme, a partir de uma videoconferência, e com a Doutoranda em Antropologia Social pelo Museu Nacional da UFRJ (PPGAS/MN/UFRJ), Barbara Pires. Até lá!

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Redação:
Julia Stallone e 
Camila Carneiro – extensionistas do projeto Pedagogias da Imagem

Corpos revolucionários: de Whitman a Marcelo Caetano

“Eu canto o corpo elétrico.” (…) “Se algo é sagrado, o corpo humano é sagrado /E a glória e a doçura do homem o emblema da humanidade imaculada /E no homem ou na mulher um corpo são, forte, musculoso, é mais belo do que a mais bela das faces. /Já viram o insensato que perverteu o próprio corpo? ou a insensata que perverteu o próprio corpo dela? /Pois eles não se escondem, não podem esconder-se a si mesmos.”

É com essa desenvoltura e iconoclastia que o grande escritor norte-americano revolucionário Walt Whitman descreve seu apreço pela expressão corporal enquanto coisa única. Conhecido como o criador dos ‘versos livres’, ao escrever poemas durante todo século XIX que questionavam as padronizações poéticas da época, Whitman desenvolveu seu renome nas tentativas de afirmar,através da literatura, a diversidade dos seres humanos e as interconexões sexuais e cognitivas inquestionáveis entre todas as pessoas. Seus poemas enalteciam, com tamanha simplicidade, o corpo, a mente, e o existir; no próprio poema explicitado, “Eu canto o corpo elétrico”, ele incita: “E se o corpo não for a alma, o que será a alma?” Seu corpo de trabalho ficou conhecido principalmente por abordar questões controversas, normalmente consideradas ‘tabus’ incontestáveis na sociedade em que viveu. Denominado por Fernando Pessoa como o maior poeta revolucionário norte-americano, ele produziu durante o período literário do humanismo, que situou-se entre o transcendentalismo e o realismo, o que garantiu diferentes influências à sua obra. O filme “Versos de um crime” (Kill your darlings) explora as rupturas e a sensualidade da literatura de Whitman, que funciona como plano de fundo ao crescimento literário revolucionário e queer dos personagens principais da trama. Estudantes de Literatura na Columbia University, Allen Ginsberg e Lucien Carr exploram a destruição de ícones em uma das mais tradicionais universidades norte-americanas como forma de descoberta de suas próprias identidades. A liberdade linguística, consequência e causa de todo o processo, era celebrada pelos personagens em brindes a Whitman em bares de Nova York.

Outro filme que se utiliza da obra e da figura de Walt Whitman, nesse caso, de forma mais significativa, é a produção brasileira de 2017, Corpo elétrico, de Marcelo Caetano. O título incorpora uma referência a um dos poemas do escritor, já acima explicitado. A temática sexual, sensual, carnal e iconoclasta mantém-se enquanto uma construção de ponto de vista: entender os seres humanos em suas condições físicas e sentimentais, em constante descobrimento, mesmo que em seus níveis mais simples. O filme retrata o corpo em suas repartições eletrizantes; o contato dos quadris com o sol, a nuca, as costas, o torso, a boca, o maxilar – um corpo com seus universos inteiros. A sensualidade e a simplicidade da construção da narrativa de um trabalhador jovem, gay, da classe média de São Paulo, em uma confecção de roupas. Elias, jovem paraibano que não mantém muito contato com os pais, tenta, na narrativa, conciliar suas autodescobertas com o seu trabalho e sua vida social. A construção da história se baseia em um princípio de alteridade, também como afirmou o diretor, em entrevista ao “Canal das Bee”, plataforma de produção de vídeos no Youtube que pauta a questão LGBT de forma questionadora e inquietante. Ao descrever o filme, Marcelo fala de uma “experiência de alteridade, da possibilidade da gente encontrar pessoas que sejam diferentes (…), falar de encontros que são improváveis mas não são impossíveis, é apostar nesse fiapo de probabilidade e colocar lado a lado a drag queen e um casal de evangélicos.” A constância de provocação, que relaciona-se com o autor escolhido para presentear o nome do filme, cria novas formas de comunicação através do audiovisual; formas essas que desejam ser naturalizadas. A fuga da previsibilidade dos filmes LGBTs também é percebida nesse caráter. Os “corpos elétricos” são os corpos apresentados (e não representados) pelo filme, são os corpos apagados que com simplicidade colocam-se em posição de protagonismo – sem medo, sem estereótipos, como a água cai do chuveiro.

Lembremos também de outro filme recente, “A Seita” (2015), ficção científica do diretor André Antônio, que conta a história de um jovem entediado com as vida nas colônias espaciais de 2040. Ele decide retornar a Recife, onde tem contato com a Seita que o ajuda a recriar e problematizar as noções de corpo enquanto uno, assim como a sua própria identidade individual. Mesmo que carregado de outras bagagens, a temática LGBT apresentada busca também a naturalidade sexual, carnal, afetiva.

É possível perceber na construção dessas novas narrativas da linguagem audiovisual uma tentativa de apresentar um ambiente de diversidade, uma atmosfera queer. A sensação do “proibido”, que permeou as primeiras produções LGBT do cinema na história, é abandonada, o invisível a ele conotado passa a ser substituído por um protagonismo da subversão, do disruptivo. É  importante delimitar essa mudança de cenário. A transformação, a alteração da posição da câmera que passa a centralizar aqueles que viviam à margem, banhados em representações superficiais e/ou estereotipadas. Como o diretor do filme Corpo Elétrico irá afirmar, “o corpo elétrico é se libertar (…), como se reencontrar com o próprio corpo.” São desse perfil os novos representantes do cinema que pauta-se na diversidade, com a certeza de que a própria afirmação de sua existência queer já é uma tomada de posição revolucionária.

O filme Corpo elétrico será exibido na próxima sessão do Pedagogias da Imagem, cineclube da Faculdade de Educação da UFRJ, no dia 04/09/2018, às 17 horas, no Campus da Praia Vermelha, no Auditório Manoel Maurício. Após a sessão, o professor Thiago Ranniery, da Faculdade de Educação da UFRJ, atuante e pesquisador nas áreas que refletem os temas de gênero, sexualidade, afeto e diferença, realizará uma palestra por ele denominada O intenso tecer, ou esboço de uma pedagogia queer. Todos estão convidados para a abertura do mês de diversidade no cineclube!

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Redação:
Julia Stallone
– extensionista do projeto Pedagogias da Imagem

 

 

A liberdade de um corpo elétrico

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Na próxima terça-feira, dia 4 de setembro, o cineclube Pedagogias da Imagem fará a exibição do filme Corpo elétrico às 17h no Auditório Manuel Maurício. Em seguida, haverá uma conversa sobre o filme com o professor Thiago Ranniery.

“Em São Paulo, o trabalho reverbera fora dele, nas horas vagas. A ideia do corpo elétrico é como se libertar disso, como se reencontrar com o próprio corpo”, afirmou o diretor Marcelo Caetano, em entrevista à Folha. O filme apresenta a história de Elias, um assistente de estilista em uma loja de confecção de roupas na cidade de São Paulo.

Durante a narrativa, é mostrada a convivência despretensiosa entre ele e os demais funcionários que se encontram diariamente após o trabalho. Nesse contexto, Elias se apaixona por Filipe, um imigrante africano, e se insere no universo de organização de festas queer. Nessas, a metáfora do corpo ganha força.

O diretor mineiro Marcelo Caetano, 36 anos, é estreante em longa-metragens mas já trabalho em filmes como “Verona”, “By your side” e “Bailão”, tendo colaborado também com o diretor Kleber Mendonça Filho, de “O som ao redor” e “Aquarius”.

Para conversar com o público após a palestra “O intenso tecer, ou esboço de uma pedagogia queer“, teremos o privilégio da presença do professor Thiago Ranniery, da Faculdade de Educação da UFRJ. Ele é Doutor em Educação pela UFRJ, além de ser pesquisador do Núcleo de Estudos de Currículo (NEC) e coordenador do Bafo! – Bando de Estudos e Pesquisa em Currículo, Ética e Diferença. Atua principalmente nos seguintes temas: corporificação, subjetivação, gênero, sexualidade, afeto e diferença.

Venham e divulguem! Acesse aqui o link para o evento no Facebook. A sessão está aberta também para receber professores com seus estudantes. Se quiser reservar vagas para sua turma, é só entrar em contato conosco pelo email: pedagogiasdaimagem@gmail.com

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Redação:
Luana Maia
Camila Carneiro
– extensionistas do projeto Pedagogias da Imagem