Na última terça-feira de abril, dia 26, o Cineclube Pedagogias da Imagem promoveu uma conversa on-line através de uma live na página do Facebook da Faculdade de Educação da UFRJ sobre o filme Você não estava aqui (2020), do diretor britânico Ken Loach, abordando questões atuais sobre a precariedade das condições de trabalho e a maneira como a vida dos trabalhadores é afetada pelo trabalho no mundo capitalista. A conversa contou com a presença do convidado José Ricardo Ramalho, professor titular do Departamento de Sociologia do IFCS/UFRJ e do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (PPGSA-UFRJ), além de autor de livros sobre sociologia do trabalho.
Dividida em duas partes, a conversa com o professor focou, primeiramente, na representação de elementos das mudanças do mundo do trabalho nos tempos atuais, tratadas cuidadosamente no filme pelo diretor Ken Loach, e, mais adiante, foca na narrativa, na história da cidade na qual o filme se passa e nos personagens do filme, explicitando como as ações e dificuldades enfrentadas pelos personagens vão intensificando-se ao longo do filme, conduzindo a história para um final impactante, o que é comum nos filmes do diretor. Ramalho explora as relações de trabalho presentes na história do filme, os aspectos da precarização e “plataformização” do trabalho e os subempregos vendidos como “empreendedorismo”, bem como a maneira como o trabalho afeta todos os outros aspectos da vida de um trabalhador como o personagem principal, Ricky Turner, e de sua família.
O professor José Ricardo Ramalho apresenta detalhes da vida do diretor do filme, Ken Loach, a fim de uma melhor compreensão sobre o contexto socioeconômico em que o diretor está inserido e sua origem familiar, nos apresentando um background que faz com que toda sua filmografia seja crítica em relação ao capitalismo e às relações de trabalho dentro desse sistema, trazendo uma sensibilidade narrativa e estética extremamente íntima e fiel de alguém com origem na classe operária inglesa, o que pode ser percebido, inclusive, na escolha de atores e atrizes também oriundas da classe trabalhadora.
O filme de Ken Loach se faz muito atual e relacionável com o cenário do mundo do trabalho, inclusive o cenário brasileiro, no qual crescem cada vez mais os trabalhos informais e as plataformas online de serviços como compras e entregas, assegurando pouco ou nenhum direito trabalhista ou de fiscalização, possibilitando a exploração de pessoas e o aumento de condições de trabalho precárias e nocivas à saúde e integridade de indivíduos.
O professor José Ricardo chama a nossa atenção para a sensação de pouco otimismo ou esperança que o final do filme nos deixa. Ramalho nos apresenta o pensamento do diretor Ken Loach sobre o que pode um filme e o poder que próprio cineasta pode ter no pensamento das pessoas, e afirma, por fim, que o caráter aberto do filme pode ser um convite a se pensar outras possibilidades e caminhos, através da inquietação que a história nos causa.
A sessão do mês de maio do Cineclube ocorrerá na terça-feira, dia 31, abordando o filme “Deus e o diabo na terra do sol” (1964), de Glauber Rocha.
Nas primeiras cenas da série The Good Place, a protagonista Eleanor Shelstrop está em uma sala de espera ao ser recebida por um homem grisalho. Ele diz que ela está morta e está no lugar ao qual apenas uma pequena parcela da sociedade vai após a morte, o lugar bom, o céu, o paraíso. Só que ele é um pouco diferente do que se imagina: uma vizinhança criada por um arquiteto para uma comunidade de pessoas que acumularam a maior quantidade de pontos de bondade durante a vida. Este bairro foi especialmente desenhado para atender às necessidades de cada um dos moradores. Eleanor prontamente percebe que não deveria estar lá ao recordar sua vida. Uma confusão acontecera e ela fora trocada por outra Eleanor Shelstrop, uma ativista que dedicou sua vida a ajudar os outros.
Então, Eleanor conhece sua alma gêmea, escolhida através de um sistema infalível do Lugar Bom, o professor de filosofia moral Chidi Anagonye. Não demora muito até Eleanor confessar para ele que não pertence a este lugar e pede sua ajuda para que a ajude a ser uma boa pessoa através dos estudos de filosofia moral. Ele dá aulas a Eleanor, nas quais discutem textos de filósofos como Kant, Hobbes, Platão e Aristóteles (esse último, que tem um dos escritos mais tradicionais sobre narrativa, o “Poética”) e revisam dilemas morais clássicos. Na casa ao lado, um outro casal de almas gêmeas é composto por uma socialite milionária, compulsiva por atenção, e um monge budista que fez um voto de silêncio quando era criança, Tahani Aljamil e Jianyu. Eleanor eventualmente descobre que ele também é uma farsa e permanecia em silêncio para não entregar sua verdadeira identidade, cujo verdadeiro nome é Jason Mendoza, um traficante da Flórida.
Ao exercer sua personalidade “corrompida” no Lugar Bom, ele começa a “falhar”, expondo sintomaticamente que algo está fora do lugar através de “bugs”. Ao final da temporada, depois de incessantes conflitos e tentativas de consertar os problemas do lugar e esconder a identidade dos moradores errôneos, Eleanor percebe que aquele não poderia ser o Lugar Bom. Ela decifra que aquele, na verdade, é o Lugar Ruim, desenhado para torturar psicologicamente seus moradores sem que eles percebessem.
Ao analisarmos as situações impostas aos quatro personagens principais, é possível perceber que a cada um deles se configura um caminho direcionado a levá-los justamente a ser o oposto do que, de fato, são. Principalmente Eleanor, uma pessoa egocêntrica forçada a virar uma pessoa boa pelo destino. Em narrativas clássicas cinematográficas, também conhecidas como narrativas de primeiro campo e por vezes associadas à noção de “jornada do herói”, é costumeiro um protagonista possuir alguma falha de caráter que precisa ser corrigida. Todos os acontecimentos se voltam para ele através de situações às quais ele não possui o menor controle, configurando uma narrativa linear rumo à correção. A história gira ao redor dessa falha de caráter, para que ela seja corrigida, tornando-se, assim, o inferno pessoal do protagonista. Este, por sua vez, passa a expressar a vontade de permanecer nos primeiros atos da história – o chamado “mundo comum”, sua zona de conforto estabelecida antes do chamado à aventura, ao conflito que o leva à transformação. Gustave Flaubert, teórico do romance, disse em uma de suas correspondências presentes no livro Cartas Exemplares, que “o escritor é como um Deus em seu universo: presente em toda parte, porém visível em parte alguma”.
Ao final da história, a platéia cria uma empatia pelo personagem e sua jornada moral, ao se identificar com suas falhas e se inspirar em sua correção, com uma sensação de dever cumprido e vontade de ser uma pessoa melhor também. O inferno, manipulado para parecer um paraíso em The Good Place, nos mostra que esses personagens vivem literalmente seus infernos pessoais para se tornarem pessoas melhores. Da mesma forma, podemos entender todos os roteiros de primeiro campo dessa forma, espelhados nesta metáfora que serve de aula para a própria escrita roteirística. Mas, o que acontece quando o personagem percebe as engrenagens do sistema ao qual está submetido? Sua vontade de melhorar se torna corrompida pela consciência das circunstâncias? O conhecimento do processo é a quebra da quarta parede em relação ao roteiro, feita pelo próprio personagem ao perceber que seu destino, considerado divino, é, na verdade, uma manipulação diabólica. Esse esquema parece evidenciar o moralismo de uma sociedade ao questionar sua compulsão por impor padrões e correções de comportamento, e isso acontece por meio de algumas estratégias: o plot twist, em que Deus se torna uma figura diabólica, e a comicidade por trás de mecanismos do Lugar Bom, como o sistema de pontuação da bondade, por vezes, ridículo. Desta forma, os personagens se rebelam contra as narrativas impostas, insurgindo-se contra as armadilhas do próprio roteiro e deixando uma pergunta que tensiona a estrutura clássica: porque somos atraídos por narrativas que encerram as complexidades humanas? E, para subverter Sartre – filósofo mencionado na série -, podemos afirmar que o inferno são, neste caso, os roteiros.
A Nuvem Rosa (2021), longa da brasileira Iuli Gerbase, trata de uma nuvem tóxica que acomete diversas partes do planeta e mata qualquer pessoa que a inale em até 10 segundos. A letalidade desse fenômeno gera o confinamento em todo o mundo. A história foca na protagonista Giovana, que precisa passar o confinamento com uma pessoa que havia acabado de conhecer em uma festa, Yago. O filme mostra cenas de medo, dúvida, comemorações de aniversário virtuais, entre outros eventos aos quais nos acostumamos durante a pandemia da Covid-19. O fato curioso é que o longa foi escrito por Iuli em 2019, antes do surto pandêmico.
Still de A Nuvem Rosa (Iuli Gerbase, 2021). Reprodução Prana Filmes
Para além de sua coincidência assustadora com o cenário mundial, o filme parece transparecer um imaginário brasileiro coletivo de catástrofes e sensação de apocalipse sentidas no cenário político atual, como as muitas produções audiovisuais que, após o acidente de Chernobyl, passaram a trazer histórias de fenômenos sobrenaturais que envolviam usinas nucleares, como uma resposta inconsciente a um trauma social. Exemplos atuais são as séries Dark(2017) e Twin Peaks(1990).
Still de A Nuvem Rosa (Iuli Gerbase, 2021). Reprodução Prana Filmes
No movimento barroco hispano-americano, era característica a estrutura formal de poesia que escondia, em sua carregada simbologia e cunho metafórico, desejos e frustrações decorrentes de ansiedades, repressão social e preconceitos que encaramos até hoje. A temática do medo de um mal iminente não é estranha ao cinema. Muitos teóricos acreditam que filmes do Expressionismo Alemão como O Gabinete do Dr. Caligari (1920) e M, o Vampiro de Dusseldorf (1931), que possuem narrativas que envolvem assassinato, culpa e mistério, carregam em si um vislumbre do cenário social que, de certa forma, previu a chegada do nazismo.
Cinema é um mosaico feito de tempo.
Andrei Tarkovsky
A temática do confinamento pode trazer escondida em si a questão da solidão, problemáticas dos relacionamentos contemporâneos e um medo coletivo referente ao cenário político e social atual. Estes fatores se apresentam de forma urgente como possíveis catástrofes naturais que apontam uma impossibilidade de existir no mundo e de exercer liberdade. Ou seja, um possível reflexo de prisões sociais que impedem o exercício da cidadania, como a desigualdade entre classes sociais e discursos de ódio cristalizados. Para além de ser “um mosaico do tempo”, como dito por Tarkovsky, o cinema também pode ser uma máquina de processar emoções.
Still de A Nuvem Rosa (Iuli Gerbase, 2021). Reprodução Prana Filmes
A Nuvem Rosa foi produzido pela Prana Filmes e exibido nos festivais de Sundance, Miami Film Festival, Sofia International Film Festival e Chicago Latino Film Festival.
Redação: Mariane Germano
Confira “O Cinema como espelho do inconsciente social”, o #PapoMensal do Cineclube Pedagogias da Imagem! @cinepedagogias #cinema #extensaoufrj #cineclube
A partir do desenvolvimento do cinema, a discussão acerca de seu papel na sociedade ganhou destaque. Hoje, mais de 120 anos desde a invenção do primeiro cinematógrafo – aparelho que permitia o registro de imagens em fotogramas –, o cinema, em grande parte dos países, está presente intensa e cotidianamente. Assistir a filmes, neste sentido, – seja na própria sala de cinema ou por meio da Netflix, por exemplo – faz parte da cultura e de hábitos cotidianos de diversos indivíduos. Por tais razões, seria ingênuo e irreal acreditar, então, que o cinema não tem papel fundamental dentro da sociedade. Isto deve-se ao fato de que as obras audiovisuais (assim como outras formas de arte), sempre carregam certos códigos, uma vez que sempre partem da dimensão local de sua produção – seja por meio da direção, roteiro, ou, até mesmo exibidora ou estúdio – e vão em direção ao coletivo, à sociedade. Os signos proliferados pelos filmes podem estar ligados às premissas que determinada narrativa carrega. Embora distintas em cada obra, estão sempre presentes e revelam as formas pelas quais um cineasta (ou uma equipe de produção), procurou organizar formas de o cinema nos afetar e fazer pensar. Para não ficar tão abstrato, podemos entender que, ao terminarmos de assistir a algo, somos deixados com diversas ideias e sensações que a obra, desde o começo, se ocupou de mostrar e construir.
No cinema de Agnès Varda, por exemplo, podemos observar a importância sociopolítica do cinema aliada à estética, e como suas produções foram responsáveis por mudanças de paradigmas e ideais coletivos. Desde o início de suas obras, a cineasta radicada na França realizou o que podemos caracterizar como um cinema político. Isto é, as escolhas realizadas por Varda – seja de temas, de protagonistas ou até de movimentos de câmeras, para citar alguns – buscavam dar voz a partes não ouvidas. Em “Os Renegados” (1985), por exemplo, Varda retrata a história de uma jovem mulher andarilha, que passa os dias andando pelas estradas.
Os Renegados (Agnès Varda, 1985, França)
Em ‘Os catadores e eu’ (2000), Varda promove uma relação poética entre as pessoas que vivem dos restos, dos materiais jogados fora, e sua própria forma artesanal de encarar o cinema, montando suas imagens como uma catadora que capta a força de vida destes materiais (como pudemos ver em nossa sessão de junho/2018 – inserir link). A cineasta interage e conversa com tais pessoas e se insere em seus contextos e vivências, e, de forma sensível, íntima e pessoal, explora e ressignifica a prática.
Os catadores e eu (Agnès Varda, 2000, França)
Já no curta “Resposta das Mulheres: Nosso Corpo, Nosso Sexo”(1975), Varda mostra as visões de diferentes mulheres sobre o que é ser mulher, sobre liberdade e sobre seus papéis na sociedade. Com estas duas obras, Varda abordou temas e personagens que talvez não teriam atenção. Com suas escolhas cinematográficas e narrativas, a cineasta construiu uma arte que transformou ideais antigos e desenvolveu novos. O cinema político e transformador de Varda se deu pela promoção de debates e trocas. Revelando, muitas vezes, contradições e distintas perspectivas, Varda não procurava por respostas absolutas aos temas propostos, mas sim defendia os diálogos, novas narrativas e linguagens. Desenvolvendo um cinema de tal forma, Varda fomentou discussões e promoveu transformações, tanto na própria linguagem cinematográfica quanto na vida social e coletiva.
Resposta das Mulheres: Nosso Corpo, Nosso Sexo (Agnès Varda, 1975, França) (“O que é ser mulher?”)
De maneira geral, então, podemos observar no cinema – seja no de Agnès Varda ou de outros cineastas – formas e tentativas de rompimento de certos imaginários e de criação de outros novos, diferentes formas de relação com o ambiente e as tensões que nele vivenciamos. Isto revela, neste sentido, a responsabilidade da sétima arte em articular elementos estéticos com o contexto social, político e cultural: por meio dela, torna-se possível revirar códigos já dados, enfatizar questões expostas socialmente ou, até, criticá-las e criar novas visões de mundo.
Talvez, um dos espaços em que podemos observar de forma ainda mais intensa e evidente o papel transformador do cinema seja o dos cineclubes. Desde seu surgimento — na década de 1920, na França, em que amigos se reuniam para debater sobre o cinema e a linguagem cinematográfica —, esses espaços serviam para discutir e analisar distintas obras, de modo que fomentavam trocas entre os indivíduos e promoviam reflexões sobre os temas abordados nas telas. Levando adiante esta tradição, foi a partir de tal visão de transformação e de relevância estética, filosófica e sociopolítica do audiovisual que também o Cineclube Pedagogias da Imagem foi desenvolvido. Em março de 2017, o CinePed foi inaugurado na Faculdade de Educação e atua, até hoje, no Campus da Praia Vermelha. Este ano, no entanto, não houve sessões presenciais do Cineclube, devido à pandemia do Novo Coranavírus. Apesar disto, as mídias sociais do CinePed (@cine.pedagogias no Instagram, @cinepedagogias, no Twitter, além do próprio blog e da página no Facebook) mantiveram o projeto no ar. A partir destes meios, compartilhamos visões, indicações e estudos relacionados ao cinema, com o intuito de perpetuar os propósitos do Cineclube e atingir novas pessoas. Buscando possibilitar processos pedagógicos atrelados à experiência do cinema, o cineclube incentiva reflexões e debates sobre temas que vão das telas ao mundo, aos ideais individuais e coletivos, ao contato com as diferentes áreas do conhecimento, mobilizadas e convidadas a pensar com o cinema.
Por fim, cabe a nós, enquanto cidadãos e espectadores de filmes, compreendermos a importância do cinema para com a sociedade, entendendo que ele, de fato, possui forte papel de transformar, modificar, reiterar, criticar e influenciar valores e ideais presentes no coletivo.
Sessão de 2018 do Cineclube Pedagogias da Imagem
Fontes de pesquisa: Instituto de Cinema; Valkirias; Mulheres do Mundo
No dia 29 de agosto é comemorado o Dia Nacional da Visibilidade Lésbica, estabelecido em 1996 durante o 1º Seminário Nacional de Lésbicas (Senale). Desde então, observamos muitas conquistas em torno da sigla L, como espaços de protagonismo conquistados e uma resolução de 2017 do Conselho Nacional de Justiça que permite a inclusão dos nomes de duas mães na certidão de nascimento de uma criança.
Apesar das evoluções observadas, no audiovisual os passos são mais lentos. Observamos uma série de curtas, médias e longas-metragens abordando a causa em suas produções, mas ainda podemos perceber a fetichização do corpo lésbico em boa parte delas. Os estereótipos em torno das mulheres lésbicas no audiovisual estão presentes desde as primeiras aparições em um ambiente heteronormativo. Comumente retratadas sob a não performance da feminilidade, sem subjetividade e reduzidas a sua sexualidade, ou sob a figura da jovem adolescente desorientada que está passando por uma “fase”, os relacionamentos também costumam ser retratados como o “amor proibido” ou menos válido que um relacionamento heterossexual.
Não é coincidência que, visto o grande número de homens cisgênero e heterossexuais na linha de frente das produções audiovisuais no mundo, muitos destes filmes sejam construídos sem uma real preocupação com o protagonismo lésbico.
Um exemplo de quando a falta de representatividade por trás das câmeras reflete na narrativa é o longa-metragem “Azul é a cor mais quente” (2013), de Abdellatif Kechiche. Um dos destaques da crítica sobre o filme foi a longa cena de sexo entre as duas. Ganhadoras do prêmio Palma de Ouro e do Festival de Cannes no mesmo ano, as protagonistas Léa Seydoux e Adèle Exarchopoulos lançaram luz a uma série de abusos praticados pela equipe, composta por homens cisgêneros e heterossexuais.
“Azul é a cor mais quente” (2013), de Abdellatif Kechiche
O portal Universa, do UOL, registra uma thread, construída no Twitter, citando os casos de abuso sofridos no set de filmagem. E finalizam: “A conclusão, tirada por Mareilhas [autora da thread] e apoiada pelas mais de 40 mil mulheres que curtiram a publicação, é de que o filme foi feito para satisfazer os fetiches de homens em relação ao sexo lésbico”.
Um outro aspecto marcante em uma série de filmes com a temática lésbica é o sofrimento em relação à (não) aceitação familiar. Geralmente ligadas a núcleos religiosos e conservadores, filmes como “Raffiki” (2018), de Wanuri Kahiu, que teve sua distribuição proibida no Quênia, abordam a homofobia e as violências físicas e emocionais. O longa traz o sofrimento da intolerância e do “amor proibido”. Com um toque de “Romeu e Julieta”, o filme apresenta a rivalidade entre as famílias das protagonistas, pois seus pais disputam a mesma eleição. A violência contra o direito de amar e se relacionar das jovens é marcante, mas a produção não perde de vista o amor e o companheirismo entre Kena e Ziki, interpretadas pelas atrizes Samantha Mugatsia e Sheila Munyiva.
Como vimos, um dos desafios da narrativa LGBTQIA+ no cinema é o de precisar se esquivar das produções heteronormativas. As protagonistas reais das histórias devem tomar o controle da construção dos discursos sobre a vida das mulheres lésbicas, assumindo papéis de direção, produção roteiro e todas as demais funções nos bastidores. Assim, evitaremos mais estereótipos nas telas e, assim, reduzimos a violência sobre os corpos destas mulheres.
Selecionamos cinco filmes para você assistir neste mês e refletir conosco sobre os aspectos citados acima:
“The Watermelon Woman” (1996), de Cheryl Dunye Cheryl é uma jovem, negra e lésbica, que trabalha na Filadélfia com sua melhor amiga Tamara, e está muito ocupada com o projeto de um filme: fazer um vídeo sobre sua busca por uma atriz negra da Filadélfia, que apareceu em filmes na década de 30 e ficou conhecida como a Mulher Melancia. Seguindo várias dicas, Cheryl descobre o nome real da Mulher Melancia e supõe que a atriz teve um longo caso com Martha Page, uma mulher branca e uma das poucas diretoras de cinema mulheres de Hollywood. Enquanto ela faz essas descobertas, Cheryl se envolve com Diana, que também é uma mulher branca.
“The Watermelon Woman” (1996), de Cheryl Dunye
“Pariah” (2011), de Dee Rees Alike é uma garota de 17 anos que enfrenta problemas demais para a sua idade. Além de sofrer de baixa autoestima, a adolescente precisa decidir entre expressar sua sexualidade abertamente ou obedecer seus pais e seguir os planos que eles têm para ela. Entre assumir sua homossexualidade ou ser rejeitada pela família, ela verá sua vida se tornar cada vez mais caótica.
“Pariah” (2011), de Dee Rees
“A Incrível História de Duas Garotas Apaixonadas” (1995), de Maria Maggenti Randy e Evie são duas adolescentes, uma rica e uma pobre, que estudam no mesmo colégio. As duas começam uma amizade intensa que evolui para sentimentos que não conseguem definir, gerando dúvidas, medos e descobertas. A trama é divertida e leve e busca levar o debate para jovens de forma menos pesada.
“A Incrível História de Duas Garotas Apaixonadas” (1995), de Maria Maggenti
“Retrato de uma jovem em chamas” (2020), de Céline Sciamma Na França do século XVIII, Marianne (Noémie Merlant) é uma jovem pintora que recebe a tarefa de pintar um retrato de Héloïse (Adèle Haenel) para seu casamento sem que ela saiba. Passando seus dias observando Héloïse e as noites pintando, Marianne se vê cada vez mais próxima de sua modelo, na medida em que o dia do casamento se aproxima.
“Retrato de uma jovem em chamas” (2020), de Céline Sciamma
“Raffiki” (2018), de Wanuri Kahiu As jovens quenianas Kena e Ziki são grandes amigas e, embora suas famílias sejam rivais políticas, as duas continuaram juntas ao longo dos anos, apoiando uma a outra na batalha pela conquista de seus sonhos. A relação de amizade transforma-se em um romance que passa a afetar a rotina da comunidade conservadora em que vivem. Elas então precisam escolher entre viver este amor intensamente, desafiando as leis do Quênia, ou se distanciar para ter uma vida segura.
Dentre as diversas transformações socioespaciais ocorridas nas últimas décadas, o desaparecimento dos cinemas de rua indica mudanças culturais da população contemporânea. Agravado a partir das décadas de 1970 e 1980, o fim de diferentes cinemas de bairro do país, principalmente nos grandes centros urbanos, como na cidade de São Paulo e no Rio de Janeiro, está relacionado às formas como os cidadãos ocupam – ou deixam de ocupar, no caso – os espaços públicos. Apesar de apresentarem histórias e culturas de cada sociedade, durante os anos de 1970 os cinemas de rua viveram o início de sua decadência.
Com a especulação imobiliária e o crescimento da violência urbana, muitos cinemas foram fechados e houve, simultaneamente, um declínio do número de público nas salas dos que restaram. Além disso, o surgimento e o estabelecimento de novas tecnologias, como o VHS, culminaram na diminuição ainda mais intensa de espectadores de cinema. Fragilizados e sem incentivos governamentais para sua preservação, os cinemas presentes nos bairros das cidades foram deixados de lado. Em seus lugares, foram construídos bancos, igrejas, lojas comerciais e estacionamentos. A transformação de cinemas em estacionamentos resultou no curta-metragem ‘E’, de 2014. Dirigido por Alexandre Wahrhaftig, Helena Ungaretti e Miguel Antunes Ramos, a obra apresenta como diversos cinemas de bairro na cidade de São Paulo, como o Cinema Seu Geraldo, foram fechados e passaram a funcionar apenas como estacionamentos. O curta, neste sentido, busca refletir sobre a principal mudança com tal substituição: como locais que tinham a função de transmitir narrativas e reunir pessoas tornaram-se um espaço apenas para armazenar e guardar automóveis – sem possibilidade ou intenção alguma para trocas, conversas e diálogos.
Cine Guaraci, sala de cinema em Rocha Miranda, RJ
Se por um lado houve a decadência cada vez mais agravante dos cinemas de rua, por outro ocorreu a ascensão dos shoppings centers. Representando as ideias de segurança, modernidade e consumo, defendidas nos grandes centros urbanos, os shoppings centers se estabeleceram na sociedade e impulsionaram o sentimento de individualismo e enclausuramento dos cidadãos. Na virada da década de 1970 para 1980, diversos complexos de cinema – os multiplex – passaram a integrar os shoppings centers. Além de indicar a ausência da ocupação das ruas das cidades, a construção de salas de exibição dentro de shoppings agravou a transformação acerca do que era entendido como cinema. Isto é, o cinema, durante suas décadas de auge, significava histórias, convívios, culturas, conhecimentos e trocas e, com as mudanças mencionadas, ele passou a ser entendido como uma única ideia: consumo. Relacionados diretamente aos shoppings centers, o cinema passou a ser visto como parte da sociedade de consumo. Os complexos de cinema, neste sentido, buscam exibir filmes mais comerciais, que aplicam lógicas de consumo para gerar mais lucro, e o cinema passa, assim, a ser puro entretenimento e produto comercial, deixando de representar seus ideais que um dia foram cruciais para sua produção.
Com o avanço da internet e o incentivo das publicidades, os shoppings continuam sendo parte da sociedade e da vida de cada indivíduo. De acordo com a Agência Nacional de Cinema (Ancine), em estudo divulgado em 2014, a quantidade de salas de exibição dentro de shoppings cresceu 87,5%, enquanto os cinemas de rua apresentaram taxa de redução de 15,8%. Hoje, há mais de 2.300 salas de cinema dentro de shoppings. Na década de 1970, no entanto, havia, no território nacional cerca de 3.276 salas. Além do intenso declínio e da cada vez mais insignificante atenção e apoio aos cinemas de rua – e à produção audiovisual nacional em geral – , o cenário atual de sua falência será agravada pela pandemia. Diversos representantes de cinema de bairro já indicam medo frente a um possível fechamento. O Grupo Estação, por exemplo, presente na Zona Sul do Rio de Janeiro há 35 anos, já está com um projeto de financiamento coletivo – Continua, Meu Estação – e pede, deste modo, a contribuição de cineastas, atores e do público em geral para sua manutenção na cidade.
Letreiro do cinema Estação Net Botafogo em março de 2020
Torna-se crucial, neste sentido, estar atento à importância e ao papel fundamental que os cinemas de rua significam na sociedade atual: a capacidade de ocupar os espaços públicos com narrativas diversas, novas linguagens e a consequente troca de conhecimentos e diálogos.
Fontes de pesquisa: Follow the Colors; O Globo; Cinema Em Cena; Nexo Jornal, Revista Arruaça.
Com o avanço de casos de Covid-19 no Brasil, as autoridades governamentais e profissionais de saúde orientaram a população a permanecer, o máximo possível, em suas casas. Diversas plataformas de streaming disponibilizaram, então, seus conteúdos, como forma de influenciar os cidadãos a não saírem pelas ruas das cidades e, desta forma, diminuir as transmissões do novo coronavírus. Como forma de divulgar tais portais, o Cineclube Pedagogias da Imagem selecionou diferentes plataformas com conteúdos gratuitos. Nesta lista, então, separamos alguns dos principais serviços de streaming e canais de divulgação de produções audiovisuais brasileiras, para que possam ser utilizados durante este período de isolamento.
Porta Curtas é um portal de exibição online de curtas-metragens. Com mais de 12.000 curtas catalogados, o site apresenta diversas produções audiovisuais brasileiras, além de funcionar para identificação de tendências, técnicas e escolhas narrativas de diferentes períodos da história cinematográfica do país. O site exibe, deste modo, grande variedade de curtas nacionais e, hoje em dia, funciona como uma parceria com o Canal Curta! Além de curtas muito reconhecidos – como ‘Ilha das Flores’ (direção: Jorge Furtado, 1989), ‘Babás’ (direção: Consuelo Lins, 2010), ‘Vinil Verde’ (direção: Kleber Mendonça Filho, 2004) e ‘Senhoras’ (direção: Allan Ribeiro, 2001) – , o portal conta com mais de 13.000 produções para assistir e, neste momento de isolamento social, torna-se uma importante plataforma para conhecer títulos audiovisuais do Brasil.
Em 2006, a partir da plataforma Porta Curtas, mencionada anteriormente, surgiu o projeto Curta Na Escola. Com o intuito de divulgar e sugerir filmes para serem utilizadas em salas de aula, a plataforma é disponível gratuitamente para professores de todo o país. O projeto propõe a exibição de curtas-metragens brasileiros como materiais pedagógicos, para, deste modo, utilizar as produções audiovisuais nacionais para fins educativos. Além de um catálogo com mais de 600 curtas, o Curta Na Escola apresenta planos de aula, isto é, temáticas importantes de serem discutidas nas salas de aula e filmes relacionados a elas. Neste sentido, há, por exemplo, o plano de aula denominado “Reduzindo o lixo, o planeta agradece”, no qual o curta sugerido de ser trabalhado é ‘Ilha das Flores’ (direção: Jorge Furtado, 1989). “Pensar, refletir e entender as raízes do preconceito” é o título de outro plano de aula da plataforma e, neste caso, o filme indicado é ‘O Xadrez das Cores’ (direção: Marco Schiavon, 2004).
A Spcine é a empresa de cinema e produções audiovisuais de São Paulo. Além de conteúdos relacionados à programação cultural da cidade – como espetáculos de teatro, shows, palestras, bate-papos e performances –, a plataforma de streaming conta com um grande catálogo de filmes nacionais. Com obras dos principais e mais reconhecidos festivais e mostras do país, a Spcine Play apresenta uma vasta variedade de produções: em seu site, é possível assistir desde obras clássicas brasileiras até filmes que acabaram de transitar pelos festivais de cinema. Hoje, os principais destaques da plataforma são os filmes que fazem parte da seleção Especial Mês da Mulher – com filmes como ‘Que Bom Te Ver Viva’ (direção: Lúcia Murat, 1989) e ‘Doces Poderes’ (direção: Lúcia Murat, 1994) – e os pertencentes à Mostra de Audiovisual Negro – com produções como ‘Coração do Mar’ (direção: Rafael Nascimento, 2018) e ‘A Piscina de Caíque’ (direção: Raphael Gustavo da Silva, 2017). Além de tais títulos, a plataforma exibe filmes da Mostra Internacional de Cinema, do Festival Permanente do Minuto e contém, também, conteúdos exclusivos para crianças. Desde o dia 17 de março, a Spcine Play disponibilizou todo seu catálogo. Seu variado conteúdo, desta forma, está gratuito e liberado para ser assistido, de casa, por todo o país, durante o período de 30 dias.
Bombozila é uma plataforma online independente, que conta com mais de 400 filmes documentais. Criada em 2016, no Rio de Janeiro, Bombozila surgiu com o intuito de divulgar, exibir e difundir produções audiovisuais que retratam lutas sociais e resistências contra o avanço do capitalismo, agronegócio e militarização. Dentre as principais sessões de seu catálogo, estão disponíveis obras sobre Diáspora Africana, Indígenas, Luta Pela Terra, Gênero +LGBTQ e Movimento Estudantil, por exemplo. O site é disponível de forma gratuita para qualquer indivíduo e defende a ideia de que o audiovisual pode e deve ser usado como instrumento de luta por direitos e resistência.
Com produções audiovisuais disponíveis online, a plataforma Afroflix apresenta conteúdos cinematográficos que, em pelo menos uma área de atuação técnica ou artística, uma pessoa negra esteja assinando. Deste modo, seja no roteiro, na direção, na produção ou na própria atuação, há uma pessoa negra participante. A plataforma exibe, então, uma variedade de filmes, séries, clipes e web séries sobre diferentes temáticas. Além de documentários, filmes experimentais e ficcionais, a plataforma Afroflix produz obras originais: ‘Batalhas’, filme de 2016, dirigido pela cineasta, idealizadora e diretora geral do site, Yasmin Thayná. A produção original narra o período em que o Teatro Municipal do Rio de Janeiro recebeu o Espetáculo Na Batalha, da Companhia Na Batalha, e apresentou performances sobre a história do funk.
A plataforma de streaming da Rede Globo, Globoplay, liberou diversos conteúdos, durante um período de 30 dias – a partir do dia 18 de março – para não assinantes. Embora parte de seu catálogo continue restrito para os pagantes do serviço, a plataforma disponibilizou mais de 20 produções da Disney e séries de televisão. Dentre tais obras, estão liberadas as animações ‘Os Incríveis’ (direção: Brad Bird, 2004) e ‘Mulan’ (direção: Tony Bancroft e Barry Cook, 1998), além da série original ‘Shippados’ (direção geral: Patrícia Pedrosa, 2019).
O aplicativo disponibilizou todo seu conteúdo produzido pela equipe Arte1 Play, até o dia 15 de abril. Contendo mais de 1.200 produções, a plataforma liberou o acesso de suas entrevistas, documentários, clipes, séries e reportagens para não assinantes.
A plataforma, reconhecida por promover cursos de capacitação e integração de profissionais relacionados às produções audiovisuais, tornou grande parte de seu conteúdo disponível gratuitamente. Durante 30 dias, o Plano+ permite o acesso a vídeos de Insight, cineclubes e transmissões ao vivo com diferentes profissionais que trabalham com cinema e audiovisual no Brasil. Um dos vídeos de transmissão ao vivo disponível, por exemplo, é com o diretor Fernando Meirelles.
A partir da criação de um cadastro na plataforma online Videocamp, é possível ter acesso a diversos filmes. Com mais de 1 milhão de espectadores, Videocamp permite o agendamento de sessões para assistir aos filmes e, assim, contribui para a formação de público e para o debate acerca de diferentes títulos. Durante o período de isolamento em que vivemos, a plataforma selecionou produções que podem ser vistas em casa. Uma parceria entre Believe Filmes, as produtoras Maria Farinha Filmes e Participant Media e o Videocamp, estão disponíveis filmes como ‘A Juíza’ (direção: Julie Cohen e Betsy West, 2018), ‘Longe da Árvore’ (direção: Rachel Dretzin, 2017), ‘Mesa Para Todos’ (direção: Kiko Ribeiro e André Finotti, 2019) e ‘Nunca Me Sonharam’ (direção: Cacau Rhoden, 2017). Apesar de os três primeiros títulos estarem disponíveis apenas até o dia 31 de março, as demais produções estarão liberadas no site por um longo período, até 25 de abril.
Nosso desejo, em primeiro lugar, é de que todos se encontrem com saúde e em segurança enquanto durar o momento assombroso pelo qual passa, não só o Brasil, mas todo o mundo.
Como avisado em nossas outras redes sociais, o Cineclube Pedagogias da Imagem teve suas sessões temporariamente suspensas. Essa pausa diz respeito à decisão tomada, em 11/03/2020, pelo Grupo de Trabalho da UFRJ, que prevê a suspensão de eventos científicos, artísticos e culturais a fim de evitar possíveis aglomerações. Assim, todas as atividades relacionadas ao Cineclube têm sido realizadas de forma remota, visando não os deixar desatualizados.
Com relação a esta última questão, gostaríamos de esclarecer o tipo de conteúdo que produziremos enquanto durar essa crise. Obviamente, nossas postagens do blog não girarão mais em torno das sessões pré-estabelecidas; em vez delas, traremos indicações de meios alternativos ao presencial e produções que provoquem um debate acerca das relações que a cinematografia tece com algumas das diversas nuances geradas no tecido social e que são mais expostas em momentos como esse. Estaremos, ainda, sempre cuidando para que nossas publicações ー tanto do blog, como de costume, quanto das outras redes sociais, isso é, Twitter, Instagram e Facebook ー estejam comprometidas com a proposta de divulgação científica.
Reiteramos, por fim, a importância de unirmos forças no combate à pandemia que tem nos assolado. Cremos que, dessa forma, os danos serão minimizados e, muito em breve, estaremos juntos novamente para celebrar os prazeres da sétima arte.
Logo abaixo, deixaremos as recomendações da UFRJ em relação aos cuidados pessoais. Essa informação, junto de outras com igual importância, encontra-se na carta da Reitora Denise Pires de Carvalho.
Atenciosamente,
Equipe do Cineclube Pedagogias da Imagem.
Recomendações:
Lave cuidadosamente as mãos com água e sabão.
Não leve as mãos ao rosto.
Evite cumprimentos por contato (beijo, abraço, aperto de mão, mão no ombro etc.).
Mantenha distância interpessoal de 1,5 a 2 metros.
Se você não está com sintomas gripais, NÃO USE MÁSCARAS.
Evite utilizar relógio, anéis, cordões, brincos e outros adereços.
O Cineclube Pedagogias da Imagem tem o prazer de exibir, na próxima terça-feira (10/09), às 18h, o filme Nietzsche Sils Maria Rochedo De Surlej (2019), de Júlio Bressane, Rosa Dias e Rodrigo Lima. A sessão de setembro fará parte do V Seminário EDF UFRJ, que propõe pensar, a partir dos trabalhos de pesquisa em curso, a Universidade hoje.
O documentário, recentemente lançado, é filmado em Sils Maria – comuna situada no distrito de Maloja, Suiça – e propõe um mergulho, através das cartas escritas pelo filósofo, no universo nietzschiano. O local, no contexto da produção filosófica, é de suma importância: lá, buscando refúgio da efervescência industrial, e depois, por oito verões consecutivos, que o filósofo Friedrich Nietzsche, possuído pelo espírito entusiástico presente no potencial revolucionário local, produziu algumas de suas mais importantes obras, como A Gaia Ciência(1882), Assim Falou Zaratustra(1883) e Além do Bem e do Mal(1886).
A despeito da imersão proposta, o longa refaz os trajetos indicados por Nietzsche em suas cartas, que narram, a partir de uma série de epifanias, uma nova compreensão da Filosofia que vai muito além dos textos filosóficos; nesse sentido, as “imagens-filosofia” de Bressane não funcionam como respostas, mas, sim, como a origem do próprio problema.
É possível, também, pensar em como o curioso interesse do cineasta sobre a figura do filósofo alemão pode ter a ver com uma relação direta entre arte e autoimagem: Bressane, em entrevista à swissinfo.ch, afirma que enxerga o cinema como um organismo sensível que se cruza e atravessa outros organismos; de maneira análoga, são feitos estudos que investigam a relação entre arte e filosofia na vida de Nietzsche – dos quais teremos como representante, no dia, a co-diretora e pesquisadora doutora Rosa Dias. Em alguma medida, ambos observam seus objetos de interesse sendo, irremediavelmente, afetados por outras esferas e trabalham na intenção de incorporar e usá-las da melhor maneira possível, sendo esta, não necessariamente, a considerada adequada pelos conceitos genericamente aceitos. Assim, pode-se pensar que, ao se debruçar sobre Nietzsche, o diretor se debruça, também, sobre si mesmo e sobre seu processo de criação.
Após a exibição do filme, que acontecerá no Auditório Manoel Maurício de Albuquerque (prédio do CFCH), no Campus da Praia Vermelha-UFRJ, o Cineclube tem a honra de receber Rosa Dias para a palestra O fugitivus errans em Sils-Maria. Dias é escritora, doutora em Filosofia pela UFRJ, professora titular de Filosofia na UERJ e colabora, há quarenta e nove anos, com Júlio Bressane em suas produções.
Na próxima terça, dia 20/08, às 17h, o Cineclube Pedagogias da Imagem exibirá, o longa metragem Elefante (2003), de Gus Van Sant.
O diretor, cujo filme foi premiado, no mesmo ano, com Melhor Diretor e Palma de Ouro em Cannes (um grande feito, considerando a quebra do regulamento que proibia, desde 1991, o acúmulo desses dois prêmios), mostra predileção por temas que englobam a juventude. Ao escolher retratar muitos de seus jovens personagens, propositalmente à margem, em conflitos, tanto internos, quanto externos, como em Last Days (2005) e Paranoid Park (2007), Van Sant sensibiliza o público, por meio de linguagem altamente filosófica e poética, acerca de questões subjetivas, não necessariamente ligadas somente à juventude, e morais, cuja crítica, muita das vezes, é perceptivelmente direcionada a todos os setores da sociedade.
A escolha da produção a ser apresentada, a exemplo do que foi dito acima, leva em consideração o aumento vertiginoso no número de casos de massacres em escola. Só em 2018, segundo o site Everytown for Gun Safety Support Fund, nos Estados Unidos, foram registrados dezoito ataques letais em escolas do tipo High School, que é a retratada no filme. Em 2019, os números disponíveis indicam que, até agora, já ocorreram treze ataques, sendo três deles letais e 10 com apenas feridos. A partir da análise destes dados, então, entende-se a urgência em tratar tratar das questões englobadas por esse fenômeno.
Para tanto, após a exibição do filme, teremos a palestra Adolescência hoje: qual o lugar para o mal-estar na escola?, ministrada pela convidada Cristiana Carneiro, que é doutora em psicologia pela UFRJ e, também, professora da Faculdade de Educação da UFRJ.
A sessão é gratuita e aberta para professores que queiram levar suas turmas! Para reservas, entrar em contato pelo email: pedagogiasdaimagem@gmail.com.