No dia 27/08, o Cineclube Pedagogias da Imagem, projeto de extensão da Faculdade de Educação da UFRJ, voltou do recesso com a primeira sessão do segundo semestre de 2024, apresentando o filme Sala dos professores (Alemanha, 2023), de İlker Çatak, no Auditório Manoel Maurício/CFCH. Para debater acerca do filme, a professora, filósofa e cineasta Angela Donini foi convidada para o encontro. Ela apresentou a palestra O colapso das relações no espaço educacional e a urgência de novos repertórios.
Provocando uma claustrofobia intencional, o filme se debruça sobre o drama de um aluno em ver sua mãe – uma professora da escola que dá palco à trama -, sendo acusada de um roubo pela também docente e protagonista, Carla Nowak, levantando um intenso debate sobre o apagamento do outro no ambiente estudantil, assim como sobre o lugar das promessas da educação diante de suas limitações enquanto produto do sistema.
No debate, um dos temas de maior importância foi a dinâmica do universo encapsulado: o filme é todo ambientado na escola; o enquadramento aperta o espectador, sua música o tensiona. O filme constrói, de maneira muito precisa, a ideia de um lugar sem saída, trazendo reflexões sobre como solucionar os problemas da pedagogia senão pela superação dos lugares de hierarquização, onde instintos são moldados e alunos são compreendidos somente na medida em que se submetem ao ordenamento moral. As barreiras impostas pelo modo (re)produtivista da escola estão em todas as suas instâncias, desde o tratamento da direção até nos próprios estudantes.
A naturalização do distanciamento dos docentes e gestores é mostrada, pela convidada, como uma ontologia não-relacional, a partir da qual se vislumbra uma exclusão das relações e afetos que constituem as personagens.. Tudo isso constitui um cenário de intolerância, onde nada é questionado e, portanto, nada é elaborado nem trabalhado. Mesmo assim, Carla busca atravessar as barreiras que a tornam tão distante de seus discentes usando uma das poucas armas que lhe restam – o afeto –, ao mesmo tempo em que também é vítima desse sistema. Carla, com sua sensibilidade, acaba atuando como uma possível resistência destas diretivas.
Angela Donini demonstra que, por mais que a professora tenha buscado uma abordagem empática, a estrutura educacional colapsa justamente porque é uma reprodução da sociedade, na qual a gestão da escola opta por fazer acordo com a polícia e a pedagogia policialesca mostrada ao longo da obra, justamente porque é a reprodução incontrolável do capital e a escola funciona enquanto uma aparelho ideológico do Estado que reproduz uma submissão aos discentes e poder aos professores.
A partir do filme Sala dos professores, podemos pensar em projetos exteriores à escola, capazes de produzir individualidade e subjetivações por meio da inclusão de crianças e adolescentes a partir de outras formas de acolhimento, que promovam a correlação entre arte, cultura e o espaço escolar, instrumentos de aproximação e reconhecimento, produzindo novas lugares éticos de produção de saberes e cuidados.
Nossa próxima sessão acontecerá no dia 24 de setembro, às 17h. Exibiremos o filme Ruído (Ruido – Argentina/México), de Natalie Beristain, seguido da palestra O caso dos narco-feminicídios no México, com a filósofa Susana de Castro (UFRJ). Anote e siga o projeto no Instagram, no Bluesky e no Threads para mais atualizações.
Redação:
Julia Facundo
Isabela Felippe
– Extensionistas do projeto Pedagogias da Imagem
Fotos:
Carolina Moreira
– Extensionista do projeto Pedagogias da Imagem
Agradecimentos:
CFCH
Angela Donini