Em outubro, o Cineclube promete reflexões, risadas e muito mais em clima de terror: na próxima terça-feira, 29/10, às 17 h, exibiremos The Rocky Horror Picture Show, de Jim Sharman, seguido da palestra Dissidências após a meia-noite e as estratégias da estranheza, com Diego Paleólogo – doutor em Comunicação e Cultura pela UFRJ.
A produção se insere na tendência que ficou conhecida, na década de 50, como Midnight Movies. A tradição estadunidense consistia, inicialmente, na exibição televisiva de filmes Trash na sessão da meia-noite; em pouco mais de duas décadas, porém, essa expressão vivia seu auge: salas de cinema eram lotadas por fãs cativos que, ansiosamente, esperavam pelas exibições, que alternavam entre produções Trash, Cult e Terror B.
O musical acabou por se tornar cânone do gênero que retrata, sendo, por isso, o escolhido do mês. O filme apresenta a narrativa de Janet e Brad, um jovem casal heteronormativo, que, após terem seu carro danificado durante uma tempestade, resolvem pedir abrigo na mansão do cientista Dr. Frank-N-Furter – que se autointitula uma doce travesti da Transilvânia Transexual – e acabam por terem suas vidas completamente mudadas.
O terror, enquanto gênero narrativo cinematográfico, busca, desde sempre, provocar afetos, em geral, evitados pela sociedade como um todo; para tanto, a estratégia comumente usada é a de inserção de elementos desviantes que são, ao mesmo tempo, ignorados o suficiente para, desconhecidos, serem envoltos em certa aura de mistério. Não curiosamente, muitos dos filmes de Terror B, como é o caso de The Rocky Horror Picture Show, vê na questão de gênero o gancho perfeito para produção de afetos pretendida. Como ressalta Paleólogo em mais de um dos seus estudos, para se entender, no entanto, o porquê da repetição temática, é preciso, primeiro, entender que quem responde à pergunta “O que nos dá medo?”, em geral, é a figura que representa a normatividade: a do homem branco, classe-média, cisgênero e heterossexual; sendo assim, tudo que o aterroriza é desviante do padrão imposto por ele.
O que vemos no filme é, justamente, a lógica desviante sendo levada à última consequência: no universo construído, o usual torna-se totalmente marginal, isso é, a heteronormatividade (e as nuances que perpassam as discussões de gênero dentro dela) é vista como algo a ser superado por não fazer sentido dentro da construção social que existe dentro do mundo que é a mansão.
Do ponto de vista da representação, ainda, o longa trilhou caminho para questões que, hoje, amplamente discutidas, começassem a ser pensadas. Além da óbvia preocupação em desconstruir a cisgeneridade, The Rocky Horror traz, abertamente, a possibilidade de liberação dos corpos femininos. Dessa forma, ele é usado para a inauguração de um banco de imagens que representassem essas classes no imaginário popular; ainda que muitas das representações estabelecidas naquela época, hoje, sejam massivamente problematizadas, é inegável a importância que produções desse gênero – essa, em especial – tiveram no sentido de contribuir para o início da discussão sobre a necessidade de representações além da normativa.
Na palestra, Diego Paleólogo – professor, escritor, artista visual e aluno de pós-doutorado do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Uerj – pretende pensar, a partir de sua pesquisa, o uso dos elementos estéticos do excesso e do monstruoso como estratégia para compor um imaginário disruptivo.
A sessão, indicada para o público a partir de 16 anos, acontecerá no Auditório Manoel Maurício de Albuquerque (prédio do CFCH), no Campus da Praia Vermelha-UFRJ. Esperamos por você!
Redação:
Laura de Souza
-Extensionista do projeto Pedagogias da Imagem