“Paz é a nossa profissão”: a sátira de Kubrick em meio a destruição humana

No dia 20/6, no Auditório Manoel Maurício, do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH), aconteceu a exibição do filme “Dr. Fantástico” (Dr. Strangelove or: how I learned to stop worrying and love the bomb – EUA/Reino Unido, 1964), de Stanley Kubrick, seguido da palestra “Estranhamor e os fins do mundo”, ministrada por Herli Joaquim de Menezes, mestre em Ciências da Computação/Sistemas de Informação pela UNIRIO, graduado em Física pela UFRJ. Professor da Faculdade de Educação da UFRJ e atua com pesquisa sobre redes neurais e processamento de linguagem natural.

Indicado à categoria Melhor Filme no Oscar de 1965 e baseado no livro ‘Red alert’, de Peter George, a narrativa desenvolvida por Stanley Kubrick acompanha os esforços do presidente dos EUA e do líder soviético, em meio ao período da Guerra Fria, para evitar as consequências de um ataque nuclear liderado por um general insano – que acreditava que os comunistas queriam dominar o mundo – capaz de ocasionar o fim do mundo.

Herli iniciou a conversa apresentando o contexto por trás da obra: o filme foi feito em 1962, anos após o fim da Segunda Guerra Mundial e do Plano Marshall, da corrida nuclear, e sob o panorama da Guerra Fria – o que explica a sátira de Kubrick ao retratar estadunidenses preocupados com uma ameaça comunista iminente, assim como a polarização, tratada com ironia, entre “Nós” (os bons, estadunidenses) e “Eles” (os maus, comunistas). Desse modo, o filme acontece em 3 núcleos: a sala de guerra, com o presidente e seus assessores; a sala do general Ripper (nome que faz referência ao “Jack, the Ripper” – o estripador), responsável por ordenar o ataque  das bombas rumo à União Soviética; e, por fim, o avião B-52 indo em direção ao alvo para lançar a bomba. A estrutura dramática se consolida nesses ambientes assim como as ações, que muitas vezes não se completam, pulando para outro núcleo antes de finalizar, construindo uma atmosfera de tensão pela montagem. O palestrante chama a atenção para a estrutura não-clássica da narrativa, sem um retorno à harmonia ou algum clímax redentor, a não ser o final improvável. Com isso, por meio do absurdo e do distanciamento pela sátira, Kubrick permite ao espectador um reconhecimento crítico daquilo que é vivenciado na realidade.

Desse modo, ele brinca com a ideia da possibilidade de algo não sair como o esperado, apesar dos esforços dos personagens, utilizando-se da comédia para evocar questões políticas e sociais. Herli mencionou o fato de o filme ser premonitório: ele anunciava acontecimentos que, na época, ninguém considerava possíveis, explicitando os perigos de decisões tomadas por uma pessoa só, nas quais estaria traçado também o destino da humanidade.

Herli também destacou a presença dos computadores no filme, a perda de controle da máquina. Em uma cena do filme, o Dr. Fantástico afirma que um computador poderia escolher quem faria parte de uma possível nova civilização, encenando uma tensão capaz de dar a ver quem de fato é controlado. Ao fazer um salto para nossos dias, Herli comentou sobre a falta de controle no cenário das big techs, com a produção de dados no contexto da internet e dispositivos móveis. Para ele, se não pensarmos na democratização do acesso aos dados, seremos prisioneiros deles e das grandes empresas que os gerenciam.

Por meio de elementos implícitos das cenas, Kubrick não só chama atenção para o contexto da época, como também incorpora o absurdo para tratar de temas que transbordam para a realidade. Temas como alienação – por exemplo, nas ordens cumpridas sem avaliação, não importando o grau de ameaça envolvido –, o despreparo dos governantes – as pessoas que compunham a sala de guerra e o próprio general Ripper, tomando decisões insanas, tornando a comunicação impossível –, o capitalismo, a guerra sem sentido… O palestrante lembrou uma frase de Gabriel García Márquez: “há coisas que escapam da clarividência”. No entanto, para Herli, são poucas as coisas que escapam ao Kubrick – mesmo sendo um filme de 1962, ele consegue se fazer presente e potente na atualidade.

A próxima sessão do cineclube ocorrerá no mês de Agosto. A programação será divulgada em breve. Siga o projeto no Instagram, no Facebook e no Twitter para atualizações e mais informações. Até breve!

Redação:
Rafaela Filgueiras – bolsista PIBIAC do projeto Pedagogias da Imagem

Fotos:
Gabriel Cid – coordenador do projeto Pedagogias da Imagem

Agradecimentos:
CFCH
Herli Joaquim de Menezes

A criação da família entre roubos, redes e laços afetivos

Na sessão do dia 23/5, de volta ao Auditório Manoel Maurício, do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH), tivemos a exibição do filme “Assunto de família” (Manbiki Kazoku – Japão, 2018) do diretor japonês Hirokazu Kore-eda, seguido da palestra “A família e suas imagens afetivas”, ministrada por Henrique Antoun, professor titular da ECO – UFRJ e do PPGCOM/UFRJ. Ganhador da Palma de Ouro em Cannes em 2018, o longa acompanha uma família não-tradicional moradora de uma grande metrópole que, após encontrarem uma menininha sozinha passando frio na rua, a levam para casa para cuidá-la. O filme mostra o cotidiano, as alegrias e os segredos de uma família tentando sobreviver por meio de pequenos furtos em meio a pobreza em uma área central no Japão.

Henrique Antoun, em sua palestra, explorou as imagens e articulações afetivas que o filme nos apresenta, pensando sobre a ideia de ‘família’, desdobrando elementos que apontam para formas mais espontâneas e diversas de parentesco, mais próximas da ideia de rede, para além da filiação e dos laços ditos naturais. Do ponto de vista do Estado, os personagens do filme não seriam uma família legítima, dada a inexistência de um vínculo sanguíneo. Então, como formar uma família no interior deste Estado? Ao escolherem acolher em sua casa uma menina que estava sozinha na rua – e, após perceberem que ela tinha marcas de abusos cometidos pela sua família sanguínea -, temos uma questão moral, pois, teoricamente, eles sequestram uma menina que tinha uma família, mas também a salvaram de uma realidade de abusos negligenciada pelo mesmo Estado, formando um novo tipo de arranjo familiar.

O diretor Kore-eda não julga os personagens, optando antes por descrever sua realidade e focar em outros dilemas. No longa, o Estado é falho em diversos sentidos – algo que se nota dadas as condições de vida da família, que pratica furtos de alimentos, vestimentas, ou seja, recursos básicos de sobrevivência, que poderiam ser providos, por exemplo, com a atenção do Estado. Para Antoun, faltaria honestidade, do ponto de vista estatal, enquanto sobraria sinceridade do ponto de vista familiar dos personagens. 

Sendo assim, o filme trabalha com o conceito de “chosen family” – na tradução, ‘família escolhida’ – ao mostrar que relações podem ser construídas dentro de uma realidade precária e entre desconhecidos que, mesmo envoltos em um turbilhão de situações, mesmo com alguma moralidade distorcida, criam para si  algum espaço afetivo, um ponto de partida para a criação de uma família. Kore-eda nos faz pensar, portanto, na nossa própria desconstrução moral, trabalhada com a delicadeza das relações, refletindo sobre como se constrói e se mantém o amor, além de discutir se existe, no limite, condição para se formar uma família. Deste modo, ele explora a ideia de rede associada à complexidade dos seres humanos, de suas relações, enfatizando que seria justamente no emaranhado destas relações que os vínculos se formam, se multiplicam e se perpetuam.

Redação:
Rafaela Filgueiras – bolsista PIBIAC do projeto Pedagogias da Imagem

Fotos:
Gabriel Cid – coordenador do projeto Pedagogias da Imagem

Agradecimentos:
CFCH
Henrique Antoun

Paisagens da alteridade e a renovação do olhar

Na quarta-feira, 26 de abril, o Cineclube Pedagogias da Imagem retornou para sua primeira sessão do ano com o filme A história da eternidade (2014), de Camilo Cavalcante. Após a exibição, tivemos a palestra O outro em tempos outros: ressonâncias entre o cinema e a educação, com a convidada Andreza Berti, doutora em educação pela UFRJ e diretora adjunta de ensino do CAp-UFRJ. 

No primeiro longa-metragem do diretor pernambucano, a narrativa ficcional acompanha a vida que pulsa em meios às tensões e limitações de moradores de um pequeno vilarejo no sertão, centrada na história de três mulheres: Alfonsina, adolescente, que tem o sonho de conhecer o mar; Querência, adulta, que está passando pelo luto após perder seu filho; e Das Dores, idosa, que reencontra seu neto de São Paulo, depois de anos. A história se divide como em contos, mas interligada de alguma forma, tendo o sertão como pano de fundo e incorporando influências de fábulas nordestinas na narrativa.  

Andreza iniciou sua fala estimulando o público a pensar sobre nossa experiência da relação com o outro, com a alteridade apresentada ao longo da projeção. Quais afetos foram mobilizados na presença do outro? De acordo com a pesquisadora, é a experiência que permite o exercício do pensamento, a partir do olhar atento sobre as coisas. A partir do movimento exploratório do pensamento sobre o lugar em que se vive, é possível enxergar a maneira pela qual nos posicionamos no mundo, o lugar ao qual pertencemos, e, ao mesmo tempo, onde a alteridade e a diferença também habitam. Ao adotar esse olhar mais atento, percebemos a presença do outro não só neste próprio lugar, mas também como agente do significado construído a partir deste olhar. Ela nos convida, então, para entrar neste lugar e nos tornarmos outros, não no sentido de uma apropriação do lugar do outro, mas de uma abertura para a diferença oferecida pelo cinema. 

Dito isso, o papel que o cinema exerce na composição desse olhar se dá por meio da lente do filme, a vista pela qual olhamos. Ao assistir um filme, assistimos tudo pela perspectiva do olhar que nos é apresentado. As perguntas que surgem são geradas a partir do exercício do pensamento no encontro com as imagens. O papel do cineasta, portanto, seria o de criar a relação entre o filme e quem está vendo por meio da gênese de novos mundos, de novas relações e pensamentos, instigando-nos a formular novas perguntas a partir do que se vê. Sendo assim, o diretor Camilo Cavalcante nos presenteia com novos olhares: o filme se dá por longos e demorados planos abertos que nos convidam a ver e a sentir de outra forma as coisas e o outro, afastando-nos da familiaridade das identificações.   

Andreza fez menção a uma das cenas mais marcantes do filme, na qual Joãozinho, personagem de Irandhir Santos, performa ao som da música “Fala” – da banda Secos e Molhados -, diante de todo o vilarejo. Enquanto a câmera gira ao redor do artista, vemos todos os personagens do filme saírem de suas casas para vê-lo dançar. Deste modo, somos lançados em meio aos diferentes olhares e reações dos personagens, ao mesmo tempo em que construímos nosso olhar a partir das perspectivas do outro. Sendo assim, nas palavras da convidada, o cinema seria um elemento desestabilizador, produtor de afeto: ele promoveria um espaço de manifestação e encontro com a alteridade, ao multiplicar as experiências vividas a partir do contato com a diferença, nos fazendo pensar se ainda assim continuaríamos os mesmos. O filme de Cavalcante operaria desta forma: ele questiona nossos afetos, nossos juízos de valor, reenviando nossa presença para a posição de espectadores do outro, imersos no tempo do outro.  

E por falar em tempo, outra pergunta nos sobrevém ao longo da palestra: o que fazemos com o tempo do agora? E o tempo das relações pedagógicas, quando mediadas pelo cinema e pelas artes? Para os espectadores de um filme, imersos em uma sala de exibição, o tempo se interrompe e o presente vira o instante do que é exibido, incluindo aí o acoplamento de pensamentos, sensações e imagens, a co-construção dos afetos através da narrativa e personagens. Sendo assim, da mesma maneira que Joãozinho conseguiu apresentar o mar para Alfonsina com o exercício da imaginação, o papel do cinema no espaço da educação se associa ao desafio de criar linhas de fuga, tempos e realidades capazes de criar reflexões e novos olhares para o mundo, para os outros, para o que está ao nosso redor. 

A próxima sessão do cineclube ocorrerá neste mês de maio. A programação será divulgada em breve. Siga o projeto no Instagram, no Facebook e no Twitter para atualizações e mais informações. Até breve!

Redação:
Rafaela Filgueiras – bolsista PIBIAC do projeto Pedagogias da Imagem

Fotos:
Ananda Kropotoff – extensionista do projeto Pedagogias da Imagem

Agradecimentos:
CBPF
Andreza Berti
Camilo Cavalcante

Retrospectiva 2022

O ano de 2022 marcou a transição entre o período difícil dos últimos anos, com a memória do isolamento social, do temor da emergência sanitária e da interrupção de sessões presenciais do nosso projeto, e o tempo de retomada gradual de atividades. Desde 2020, nos defrontamos com desafios para a cena cineclubista, que precisou lançar mão de diferentes recursos, estratégias e gambiarras para seguir impulsionando e mantendo vivas as discussões, o interesse e o amor pelos filmes diante das ameaças e do horror da realidade cotidiana.

O cinema (e os cineclubes) resistiram. Ao longo de todos estes anos recentes, conversar sobre filmes, compartilhar conteúdos e debates mobilizadores da cinefilia, do pensamento crítico e da circulação de ideias, se converteram em ações necessárias não apenas para suportar o cotidiano, mas para promover também sua ressignificação pelas imagens, a expansão das nossas formas de perceber, experimentar e confrontar o mundo.

Ao longo de 2022, o cineclube Pedagogias da Imagem seguiu com suas sessões virtuais, transmitidas no Facebook da Faculdade de Educação da UFRJ, de janeiro a junho. Na sessão de janeiro, inauguramos o ano com a participação da Susana de Castro, professora do Programa de Pós-Graduação em Filosofia da UFRJ, apresentando uma conversa motivada pelo filme Alien, o oitavo passageiro (Alien, 1979), de Ridley Scott, intitulada Giger e Lovecraft: uma jornada no inconsciente.

No mês seguinte, a sessão de fevereiro contou com a parceria do PMAP – Programa de Monitoria e Apoio Pedagógico da Faculdade de Educação da UFRJ. Tivemos a alegria de contar com a participação da Teresa Gonçalves, professora da Faculdade de Educação da UFRJ, apresentando a fala Ensaio, verdade e ficção: considerações sobre o “impuro”, motivada pelo filme Jogo de cena (2007), de Eduardo Coutinho.

Na sessão de março, em ressonância com diversas ações que tradicionalmente colocam em foco a discriminação racial, tivemos uma conversa com Fábio José Paz da Rosa, hoje professor da UFRRJ. Ele ministrou a palestra Abolição ou vir a ser pelo que não foi dito, evocando questões em diálogo com o filme ‘Abolição’ (1988), de Zózimo Bulbul. Esta sessão marcaria o início dos trabalhos do ano de 2020, tendo sido programada para março daquele ano, e precisou ser suspensa devido à necessidade de isolamento.

No mês seguinte, na sessão de abril, recebemos o convidado José Ricardo Ramalho, professor titular do Depto. de Sociologia do IFCS/UFRJ e do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (PPGSA-UFRJ). Sua fala, intitulada Um necessário ato político de Ken Loach, desdobrou análises em torno do filme Você não estava aqui (2019), aproveitando para comentar sobre a filmografia e sobre os elementos potentes da obra do cineasta britânico.

Com o tradicional festival de Cannes de 2022 acontecendo em maio, aproveitamos o fato de haver, na programação do festival, a exibição da cópia restaurada de Deus e o diabo na terra do sol (1964), para celebrar o cineasta Glauber Rocha na sessão de maio. Contamos com a participação de Pablo Zunino, professor de filosofia da UFRB, que apresentou a intervenção Sonho e revolução em Glauber Rocha: um devir estético-político latino-americano. A sessão foi uma parceria com o GEPE – Grupo de Estudos e Pesquisa em Est´ética da UFRB.

Encerrando nosso ciclo de conversas virtuais, concluímos o semestre com a sessão de junho. Recebemos o convidado Wenceslao Oliveira Junior (professor da Faculdade de Educação da Unicamp e pesquisador do Laboratório de Estudos Audiovisuais OLHO), com a palestra Um filme na escola, vários cinemas da escola, desdobrada do filme Eleições (2018), da Alice Riff. Após esta sessão, e depois dos anos de isolamento, planejamos o retorno presencial das sessões para o segundo semestre.

Neste meio tempo, tivemos a notícia da morte do cineasta Jean-Luc Godard, que mobilizou nossas atenções e também a iniciativa de um retorno ao presencial com alguma sessão que o homenageasse. Foi assim que programamos a sessão especial SÉCULO GODARD, que aconteceu presencialmente no campus Praia Vermelha da UFRJ, em 11 de outubro. Exibimos o último longa-metragem do Godard, Imagem e palavra (2018), contando com as ilustres presenças de Jorge Vasconcellos (professor da UFF e autor do livro Deleuze e o cinema) e Ana Lúcia Soutto Mayor (professora aposentada do CAp-UFRJ, pesquisadora da Fiocruz e co-organizadora do livro Godard e a educação), para conversar com o público acerca do legado e da potência da obra do cineasta, atravessando diferentes áreas do conhecimento e campos de atuação.


Depois de outubro, tivemos o encerramento das atividades deste ano atípico com chave de ouro, convocando e estimulando nossos anseios para um 2023 renovado. Em 14 de dezembro, tivemos a exibição do filme O botão de pérola (2015), de Patricio Guzmán. A força das imagens, aliada ao trabalho de roteiro do cineasta chileno, foi intensificada pela realização da sessão no auditório do CBPF, vizinho ao campus da UFRJ.


Nesta sessão de encerramento, contamos com a participação da Andréa França, professora da PUC-Rio e doutora em Comunicação e Cultura pela ECO-UFRJ, apresentando a palestra Documentário e acontecimento histórico: (des)pedagogias da sensibilidade. A fala da Andréa, bem como o debate que se seguiu, aglutinaram diversas questões caras ao projeto, articulando a noção de pedagogia da imagem a uma (des)pedagogia, ao modo como os filmes se acercam do tempo e da história.

Deste modo, renovamos os votos para um 2023 de encontros, convidando o público para seguirmos apostando na renovação incessante do olhar oferecida pelos filmes, para os atravessamentos entre educação, cultura e ciências. Agradecemos a todas e todos que nos acompanharam em 2022. Vamos juntos, intensificando a relação entre cinema e pensamento, abrindo caminho para a transformação e ressignificação do mundo e de quem assiste e vivencia os filmes. Fiquem ligados em nossas redes e canais para saber mais sobre a programação de 2023.

Equipe e alguns participantes da sessão de encerramento da temporada 2022.

Fotos: Caio Wilbert – extensionista do projeto Pedagogias da Imagem.

Século Godard: Exibição do filme “Imagem e Palavra” na sessão de outubro de 2022

É com alegria que o cineclube Pedagogias da Imagem apresenta e convida o público geral para participar do encontro ‘SÉCULO GODARD’, que acontecerá na terça-feira, dia 11 de outubro de 2022, no Salão Pedro Calmon, do Fórum de Ciência e Cultura, localizado no 2º andar do Palácio Universitário, campus Praia Vermelha (Av. Pasteur, 250 – Urca).

Para marcar a retomada das sessões presenciais do cineclube Pedagogias da Imagem, programamos uma sessão especial em homenagem ao cineasta Jean-Luc Godard, onde poderemos assistir coletivamente ao seu último longa-metragem, ‘Imagem e palavra’ (Le livre d’image – Suíça/França, 2018).

Ao longo de toda sua obra, e de uma vida de quase um século, Godard não apenas abriu caminhos para a inauguração/renovação da linguagem cinematográfica, da nouvelle vague ao cinema experimental, como também não cansou de se interrogar e de fazer os espectadores pensarem sobre as relações entre a imagem, o mundo, a arte e a política. Por isso, após a exibição do filme, teremos uma mesa composta por dois pesquisadores, cada um desdobrando a potência e o legado da contribuição de Godard em diferentes áreas.

Teremos a honra de contar com os seguintes convidados:

Ana Lucia Soutto Mayor
Doutora em Letras pela UFF, pesquisadora no Laboratório de Iniciação Científica na Educação Básica (LIC-PROVOC) da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (Fiocruz), professora do Programa de Pós-Graduação Lato Sensu, no Curso de Ciência, Arte e Cultura na Saúde, do Instituto Oswaldo Cruz (IOC-Fiocruz), e professora aposentada do Colégio de Aplicação (CAp-UFRJ). Co-organizadora do livro ‘Godard e a educação’.

Jorge Vasconcellos
Doutor em Filosofia pela UFRJ. Professor da UFF, no Departamento de Artes e Estudos Culturais/RAE e no Programa de Pós-graduação em Estudos Contemporâneos das Artes/PPGCA-IACS. Autor, entre outros, do livro ‘Deleuze e o cinema’, e de diversos artigos e capítulos sobre o cinema de Godard em perspectiva filosófica.

A entrada é franca. A atividade é voltada para o público a partir de 16 anos.

** Esta programação contará com intérpretes de Libras, com a colaboração da DIRAC/UFRJ.**

Declarações de participação serão emitidas mediante solicitação, para aqueles que desejarem.

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Coexistir entre imagens no filme ‘Eleições’


O documentário Eleições (2018), dirigido por Alice Riff, é o escolhido para a sessão do mês de junho do Cineclube Pedagogias da Imagem, da Faculdade de Educação da UFRJ. Lançado em 2018, ano eleitoral tão marcante historicamente para o país, é também o ano em que a diretora documenta o dia a dia dos alunos da Escola Estadual Doutor Alarico da Silveira no centro de São Paulo  e as eleições do grêmio estudantil.  

Ao longo do documentário, as dúvidas sobre o futuro, que apresenta tantas possibilidades e, ao mesmo tempo, é tão incerto, surgem entre os alunos. Se preparar para o ENEM, começar a traçar um plano para uma carreira profissional, que muitas vezes pode não atender aos interesses pessoais dos alunos, são decisões importantes que precisam ser tomadas tão cedo. É nesse clima que os jovens do documentário começam a compreender a importância de uma atitude política ativa. 

Alice Riff constrói o documentário de forma em que os alunos estão envolvidos diretamente na produção, aproximando o espectador daquele cotidiano. Assim, ouvimos as propostas das chapas, percebemos o envolvimento crescente dos alunos, assim como a responsabilidade para o objetivo final de possibilitar uma escola diversificada, que reflita sobre seu corpo estudantil em todas as suas pluralidades. 

As quatro chapas são compostas por alunos que se distinguem, com objetivos diversos e posicionamentos consistentes que amadurecem durante a campanha eleitoral escolar. Os espectadores são atravessados por suas próprias memórias e experiências durante o ensino médio, e são convidados a sentir a ansiedade durante a votação e revelação da chapa vencedora, vibrando, ao final, junto com a chapa vencedora, sentindo-se novamente na escola. 

O documentário está disponível gratuitamente na plataforma Itaú Cultural Play e o cine Pedagogias da Imagem convida a todos para a sessão no dia 28 de junho, que irá desdobrar os pontos que o filme traz de forma tão espontânea, com a participação do convidado Wenceslao Machado de Oliveira Junior (FE/Unicamp), apresentando a fala ‘Um fime na escola, vários cinemas da escola’. Wenceslao vai propor um diálogo com o filme a partir dos encontros entre cinema e escola. Que escolas emergem desses encontros com o cinema? Que cinemas (e filmes) emergem destas experiências?

Redação:
Stella Feitosa (Extensionista do projeto Pedagogias da Imagem)

Sonho e revolução em Glauber Rocha: um devir estético-político latino-americano – Sessão de Maio/22

No último dia 31 de maio, o Cineclube Pedagogias da Imagem, da Faculdade de Educação da UFRJ, promoveu um encontro sobre Deus e o diabo na terra do sol (1964), filme clássico de Glauber Rocha. Para falar sobre o filme, o cineclube convidou Pablo Zunino, doutor em Filosofia pela USP e professor da UFRB. O encontro, intitulado como “Sonho e revolução em Glauber Rocha: um devir estético-político latino-americano”, teve como cerne a intersecção entre a filosofia e o cinema.

O filme é um dos marcos do cinema brasileiro. Glauber Rocha, seu realizador, foi um dos pioneiros do movimento Cinema Novo, corrente que se aproxima nouvelle vague francesa. Glauber obteve reconhecimento internacional por esse filme, sendo indicado à Palma de Ouro no Festival de Cannes. Pablo Zunino, convidado do cineclube, faz uma abordagem da estética de Glauber Rocha e, mais enfaticamente, do filme supramencionado, a partir da filosofia de Gilles Deleuze.

Zunino trata de alguns temas centrais do que ele intitulou como devir estético-político latino-americano. A mistura desses dois termos (“devir” e “estético-político”) remete, primeiramente, ao conceito de devir, de Deleuze; por outro lado, remete às noções centrais de estética da fome, da violência e do sonho, presentes nas obras e nos filmes de Glauber Rocha. O background histórico que permeia essas noções é certamente o da luta política na América Latina, desde a década de 60, como ressalta o professor; nesse sentido, são exemplares as manifestações de maio de 68 que se estenderam ao chamado Terceiro Mundo. O cinema de Glauber Rocha faz parte desse grande movimento de transformação da vida social a partir da produção filmográfica com forte cunho político.

As reflexões do professor partem dos dois livros de Deleuze que tratam especificamente do cinema, A imagem-movimento e A imagem-tempo. Zunino ressalta a ideia, a partir de Deleuze e Glauber Rocha, da possibilidade de se conceber o cinema, a ideia cinematográfica, como geradora de transformações políticas. Após explicar brevemente a passagem do cinema clássico ao cinema moderno, crucial para o pensamento deleuzeano sobre o cinema, Zunino fala um pouco sobre outros filmes importantes de Glauber, como Barravento (1962), Terra em transe (1967) e O dragão da maldade contra o santo guerreiro (1969), este uma espécie de continuação do filme privilegiado na conversa.

Para concluir a conversa, Zunino retoma a questão, importante para Deleuze, do povo que falta. Para Zunino, o povo falta e ao mesmo tempo não falta, já que o povo está vivo e presente, embora falte metaforicamente. Para dar o tom de seu argumento, menciona uma frase de Glauber Rocha que diz: “A América Latina permanece colônia e o que diferencia o colonialismo de ontem do atual é apenas a forma mais aprimorada do colonizador”. Nesse sentido, o povo não pode plenamente existir, porque está sempre sendo colonizado de formas cada vez mais elaboradas.

A sessão do mês de junho do Cineclube ocorrerá na terça-feira, dia 28, abordando o filme Eleições (2018), de Alice Riff.

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Redação: Gabriel Cabral (Extensionista do projeto Pedagogias da Imagem)

Um necessário ato político de Ken Loach – Sessão de Abril de 2022

Na última terça-feira de abril, dia 26, o Cineclube Pedagogias da Imagem promoveu uma conversa on-line através de uma live na página do Facebook da Faculdade de Educação da UFRJ sobre o filme Você não estava aqui (2020), do diretor britânico Ken Loach, abordando questões atuais sobre a precariedade das condições de trabalho e a maneira como a vida dos trabalhadores é afetada pelo trabalho no mundo capitalista. A conversa contou com a presença do convidado José Ricardo Ramalho, professor titular do Departamento de Sociologia do IFCS/UFRJ e do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (PPGSA-UFRJ), além de autor de livros sobre sociologia do trabalho. 

Dividida em duas partes, a conversa com o professor focou, primeiramente, na representação de elementos das mudanças do mundo do trabalho nos tempos atuais, tratadas cuidadosamente no filme pelo diretor Ken Loach, e, mais adiante, foca na narrativa, na história da cidade na qual o filme se passa e nos personagens do filme, explicitando como as ações e dificuldades enfrentadas pelos personagens vão intensificando-se ao longo do filme, conduzindo a história para um final impactante, o que é comum nos filmes do diretor. Ramalho explora as relações de trabalho presentes na história do filme, os aspectos da precarização e “plataformização” do trabalho e os subempregos vendidos como “empreendedorismo”, bem como a maneira como o trabalho afeta todos os outros aspectos da vida de um trabalhador como o personagem principal, Ricky Turner, e de sua família.

O professor José Ricardo Ramalho apresenta detalhes da vida do diretor do filme, Ken Loach, a fim de uma melhor compreensão sobre o contexto socioeconômico em que o diretor está inserido e sua origem familiar, nos apresentando um background que faz com que toda sua filmografia seja crítica em relação ao capitalismo e às relações de trabalho dentro desse sistema, trazendo uma sensibilidade narrativa e estética extremamente íntima e fiel de alguém com origem na classe operária inglesa, o que pode ser percebido, inclusive, na escolha de atores e atrizes também oriundas da classe trabalhadora.

O filme de Ken Loach se faz muito atual e relacionável com o cenário do mundo do trabalho, inclusive o cenário brasileiro, no qual crescem cada vez mais os trabalhos informais e as plataformas online de serviços como compras e entregas, assegurando pouco ou nenhum direito trabalhista ou de fiscalização, possibilitando a exploração de pessoas e o aumento de condições de trabalho precárias e nocivas à saúde e integridade de indivíduos.

O professor José Ricardo chama a nossa atenção para a sensação de pouco otimismo ou esperança que o final do filme nos deixa. Ramalho nos apresenta o pensamento do diretor Ken Loach sobre o que pode um filme e o poder que próprio cineasta pode ter no pensamento das pessoas, e afirma, por fim, que o caráter aberto do filme pode ser um convite a se pensar outras possibilidades e caminhos, através da inquietação que a história nos causa.

A sessão do mês de maio do Cineclube ocorrerá na terça-feira, dia 31, abordando o filme “Deus e o diabo na terra do sol” (1964), de Glauber Rocha.

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Redação: Fernanda Vitoriano (Bolsista e extensionista do projeto Pedagogias da Imagem)

O inferno são os roteiros

Nas primeiras cenas da série The Good Place, a protagonista Eleanor Shelstrop está em uma sala de espera ao ser recebida por um homem grisalho. Ele diz que ela está morta e está no lugar ao qual apenas uma pequena parcela da sociedade vai após a morte, o lugar bom, o céu, o paraíso. Só que ele é um pouco diferente do que se imagina: uma vizinhança criada por um arquiteto para uma comunidade de pessoas que acumularam a maior quantidade de pontos de bondade durante a vida. Este bairro foi especialmente desenhado para atender às necessidades de cada um dos moradores. Eleanor prontamente percebe que não deveria estar lá ao recordar sua vida. Uma confusão acontecera e ela fora trocada por outra Eleanor Shelstrop, uma ativista que dedicou sua vida a ajudar os outros.

Então, Eleanor conhece sua alma gêmea, escolhida através de um sistema infalível do Lugar Bom, o professor de filosofia moral Chidi Anagonye. Não demora muito até Eleanor confessar para ele que não pertence a este lugar e pede sua ajuda para que a ajude a ser uma boa pessoa através dos estudos de filosofia moral. Ele dá aulas a Eleanor, nas quais discutem textos de filósofos como Kant, Hobbes, Platão e Aristóteles (esse último, que tem um dos escritos mais tradicionais sobre narrativa, o “Poética”) e revisam dilemas morais clássicos. Na casa ao lado, um outro casal de almas gêmeas é composto por uma socialite milionária, compulsiva por atenção, e um monge budista que fez um voto de silêncio quando era criança, Tahani Aljamil e Jianyu. Eleanor eventualmente descobre que ele também é uma farsa e permanecia em silêncio para não entregar sua verdadeira identidade, cujo verdadeiro nome é Jason Mendoza, um traficante da Flórida.

Ao exercer sua personalidade “corrompida” no Lugar Bom, ele começa a “falhar”, expondo sintomaticamente que algo está fora do lugar através de “bugs”. Ao final da temporada, depois de incessantes conflitos e tentativas de consertar os problemas do lugar e esconder a identidade dos moradores errôneos, Eleanor percebe que aquele não poderia ser o Lugar Bom. Ela decifra que aquele, na verdade, é o Lugar Ruim, desenhado para torturar psicologicamente seus moradores sem que eles percebessem. 

Ao analisarmos as situações impostas aos quatro personagens principais, é possível perceber que a cada um deles se configura um caminho direcionado a levá-los justamente a ser o oposto do que, de fato, são. Principalmente Eleanor, uma pessoa egocêntrica forçada a virar uma pessoa boa pelo destino. Em narrativas clássicas cinematográficas, também conhecidas como narrativas de primeiro campo e por vezes associadas à noção de “jornada do herói”, é costumeiro um protagonista possuir alguma falha de caráter que precisa ser corrigida. Todos os acontecimentos se voltam para ele através de situações às quais ele não possui o menor controle, configurando uma narrativa linear rumo à correção. A história gira ao redor dessa falha de caráter, para que ela seja corrigida, tornando-se, assim, o inferno pessoal do protagonista. Este, por sua vez, passa a expressar a vontade de permanecer nos primeiros atos da história – o chamado “mundo comum”, sua zona de conforto estabelecida antes do chamado à aventura, ao conflito que o leva à transformação. Gustave Flaubert, teórico do romance, disse em uma de suas correspondências presentes no livro Cartas Exemplares, que “o escritor é como um Deus em seu universo: presente em toda parte, porém visível em parte alguma”. 

Ao final da história, a platéia cria uma empatia pelo personagem e sua jornada moral, ao se identificar com suas falhas e se inspirar em sua correção, com uma sensação de dever cumprido e vontade de ser uma pessoa melhor também. O inferno, manipulado para parecer um paraíso em The Good Place, nos mostra que esses personagens vivem literalmente seus infernos pessoais para se tornarem pessoas melhores. Da mesma forma, podemos entender todos os roteiros de primeiro campo dessa forma, espelhados nesta metáfora que serve de aula para a própria escrita roteirística. Mas, o que acontece quando o personagem percebe as engrenagens do sistema ao qual está submetido? Sua vontade de melhorar se torna corrompida pela consciência das circunstâncias? O conhecimento do processo é a quebra da quarta parede em relação ao roteiro, feita pelo próprio personagem ao perceber que seu destino, considerado divino, é, na verdade, uma manipulação diabólica. Esse esquema parece evidenciar o moralismo de uma sociedade ao questionar sua compulsão por impor padrões e correções de comportamento, e isso acontece por meio de algumas estratégias: o plot twist, em que Deus se torna uma figura diabólica, e a comicidade por trás de mecanismos do Lugar Bom, como o sistema de pontuação da bondade, por vezes, ridículo. Desta forma, os personagens se rebelam contra as narrativas impostas, insurgindo-se contra as armadilhas do próprio roteiro e deixando  uma pergunta que tensiona a estrutura clássica: porque somos atraídos por narrativas que encerram as complexidades humanas? E, para subverter Sartre – filósofo mencionado na série -, podemos afirmar que o inferno são, neste caso, os roteiros.

Redação: Mariane Germano

O cinema como espelho do inconsciente social

A Nuvem Rosa (2021), longa da brasileira Iuli Gerbase, trata de uma nuvem tóxica que acomete diversas partes do planeta e mata qualquer pessoa que a inale em até 10 segundos. A letalidade desse fenômeno gera o confinamento em todo o mundo. A história foca na protagonista Giovana, que precisa passar o confinamento com uma pessoa que  havia acabado de conhecer em uma festa, Yago. O filme mostra cenas de medo, dúvida, comemorações de aniversário virtuais, entre outros eventos aos quais nos acostumamos durante a pandemia da Covid-19. O fato curioso é que o longa foi escrito por Iuli em 2019, antes do surto pandêmico.

Still de A Nuvem Rosa (Iuli Gerbase, 2021). Reprodução Prana Filmes

Para além de sua coincidência assustadora com o cenário  mundial, o filme parece transparecer um imaginário brasileiro coletivo de catástrofes e  sensação de apocalipse sentidas no cenário político atual, como as muitas produções  audiovisuais que, após o acidente de Chernobyl, passaram a trazer histórias de fenômenos sobrenaturais que envolviam usinas nucleares, como uma resposta inconsciente a um trauma social. Exemplos atuais são as séries Dark (2017) e Twin  Peaks (1990).

Still de A Nuvem Rosa (Iuli Gerbase, 2021). Reprodução Prana Filmes

No movimento barroco hispano-americano, era característica a estrutura formal de poesia que escondia, em sua carregada simbologia e cunho metafórico, desejos e frustrações decorrentes de ansiedades, repressão social e preconceitos que encaramos até hoje. A temática do medo de um mal iminente não é estranha ao cinema. Muitos teóricos  acreditam que filmes do Expressionismo Alemão como O Gabinete do Dr. Caligari (1920) e M, o Vampiro de Dusseldorf (1931), que possuem narrativas que envolvem assassinato, culpa e mistério, carregam em si um vislumbre do cenário social que, de certa forma, previu a chegada do nazismo. 

Cinema é um mosaico feito de tempo.

Andrei Tarkovsky

A temática do confinamento pode trazer escondida em si a questão da solidão, problemáticas dos relacionamentos contemporâneos e um medo coletivo referente ao cenário político e social atual. Estes fatores se apresentam de forma urgente como possíveis catástrofes naturais que apontam uma impossibilidade de existir no mundo e de exercer  liberdade. Ou seja, um possível reflexo de prisões sociais que impedem o exercício da cidadania, como a desigualdade entre classes sociais e discursos de ódio cristalizados. Para além de ser “um mosaico do tempo”, como dito por Tarkovsky, o cinema também pode ser uma máquina de processar emoções.

Still de A Nuvem Rosa (Iuli Gerbase, 2021). Reprodução Prana Filmes

A Nuvem Rosa foi produzido pela Prana Filmes e exibido nos festivais de Sundance, Miami Film Festival, Sofia International Film Festival e Chicago Latino Film Festival.

Redação: Mariane Germano

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