O ano de 2022 marcou a transição entre o período difícil dos últimos anos, com a memória do isolamento social, do temor da emergência sanitária e da interrupção de sessões presenciais do nosso projeto, e o tempo de retomada gradual de atividades. Desde 2020, nos defrontamos com desafios para a cena cineclubista, que precisou lançar mão de diferentes recursos, estratégias e gambiarras para seguir impulsionando e mantendo vivas as discussões, o interesse e o amor pelos filmes diante das ameaças e do horror da realidade cotidiana.
O cinema (e os cineclubes) resistiram. Ao longo de todos estes anos recentes, conversar sobre filmes, compartilhar conteúdos e debates mobilizadores da cinefilia, do pensamento crítico e da circulação de ideias, se converteram em ações necessárias não apenas para suportar o cotidiano, mas para promover também sua ressignificação pelas imagens, a expansão das nossas formas de perceber, experimentar e confrontar o mundo.
Ao longo de 2022, o cineclube Pedagogias da Imagem seguiu com suas sessões virtuais, transmitidas no Facebook da Faculdade de Educação da UFRJ, de janeiro a junho. Na sessão de janeiro, inauguramos o ano com a participação da Susana de Castro, professora do Programa de Pós-Graduação em Filosofia da UFRJ, apresentando uma conversa motivada pelo filme Alien, o oitavo passageiro (Alien, 1979), de Ridley Scott, intitulada Giger e Lovecraft: uma jornada no inconsciente.
No mês seguinte, a sessão de fevereiro contou com a parceria do PMAP – Programa de Monitoria e Apoio Pedagógico da Faculdade de Educação da UFRJ. Tivemos a alegria de contar com a participação da Teresa Gonçalves, professora da Faculdade de Educação da UFRJ, apresentando a fala Ensaio, verdade e ficção: considerações sobre o “impuro”, motivada pelo filme Jogo de cena (2007), de Eduardo Coutinho.
Na sessão de março, em ressonância com diversas ações que tradicionalmente colocam em foco a discriminação racial, tivemos uma conversa com Fábio José Paz da Rosa, hoje professor da UFRRJ. Ele ministrou a palestra Abolição ou vir a ser pelo que não foi dito, evocando questões em diálogo com o filme ‘Abolição’ (1988), de Zózimo Bulbul. Esta sessão marcaria o início dos trabalhos do ano de 2020, tendo sido programada para março daquele ano, e precisou ser suspensa devido à necessidade de isolamento.
No mês seguinte, na sessão de abril, recebemos o convidado José Ricardo Ramalho, professor titular do Depto. de Sociologia do IFCS/UFRJ e do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (PPGSA-UFRJ). Sua fala, intitulada Um necessário ato político de Ken Loach, desdobrou análises em torno do filme Você não estava aqui (2019), aproveitando para comentar sobre a filmografia e sobre os elementos potentes da obra do cineasta britânico.
Com o tradicional festival de Cannes de 2022 acontecendo em maio, aproveitamos o fato de haver, na programação do festival, a exibição da cópia restaurada de Deus e o diabo na terra do sol (1964), para celebrar o cineasta Glauber Rocha na sessão de maio. Contamos com a participação de Pablo Zunino, professor de filosofia da UFRB, que apresentou a intervenção Sonho e revolução em Glauber Rocha: um devir estético-político latino-americano. A sessão foi uma parceria com o GEPE – Grupo de Estudos e Pesquisa em Est´ética da UFRB.
Encerrando nosso ciclo de conversas virtuais, concluímos o semestre com a sessão de junho. Recebemos o convidado Wenceslao Oliveira Junior (professor da Faculdade de Educação da Unicamp e pesquisador do Laboratório de Estudos Audiovisuais OLHO), com a palestra Um filme na escola, vários cinemas da escola, desdobrada do filme Eleições (2018), da Alice Riff. Após esta sessão, e depois dos anos de isolamento, planejamos o retorno presencial das sessões para o segundo semestre.
Neste meio tempo, tivemos a notícia da morte do cineasta Jean-Luc Godard, que mobilizou nossas atenções e também a iniciativa de um retorno ao presencial com alguma sessão que o homenageasse. Foi assim que programamos a sessão especial SÉCULO GODARD, que aconteceu presencialmente no campus Praia Vermelha da UFRJ, em 11 de outubro. Exibimos o último longa-metragem do Godard, Imagem e palavra (2018), contando com as ilustres presenças de Jorge Vasconcellos (professor da UFF e autor do livro Deleuze e o cinema) e Ana Lúcia Soutto Mayor (professora aposentada do CAp-UFRJ, pesquisadora da Fiocruz e co-organizadora do livro Godard e a educação), para conversar com o público acerca do legado e da potência da obra do cineasta, atravessando diferentes áreas do conhecimento e campos de atuação.
Depois de outubro, tivemos o encerramento das atividades deste ano atípico com chave de ouro, convocando e estimulando nossos anseios para um 2023 renovado. Em 14 de dezembro, tivemos a exibição do filme O botão de pérola (2015), de Patricio Guzmán. A força das imagens, aliada ao trabalho de roteiro do cineasta chileno, foi intensificada pela realização da sessão no auditório do CBPF, vizinho ao campus da UFRJ.
Nesta sessão de encerramento, contamos com a participação da Andréa França, professora da PUC-Rio e doutora em Comunicação e Cultura pela ECO-UFRJ, apresentando a palestra Documentário e acontecimento histórico: (des)pedagogias da sensibilidade. A fala da Andréa, bem como o debate que se seguiu, aglutinaram diversas questões caras ao projeto, articulando a noção de pedagogia da imagem a uma (des)pedagogia, ao modo como os filmes se acercam do tempo e da história.
Deste modo, renovamos os votos para um 2023 de encontros, convidando o público para seguirmos apostando na renovação incessante do olhar oferecida pelos filmes, para os atravessamentos entre educação, cultura e ciências. Agradecemos a todas e todos que nos acompanharam em 2022. Vamos juntos, intensificando a relação entre cinema e pensamento, abrindo caminho para a transformação e ressignificação do mundo e de quem assiste e vivencia os filmes. Fiquem ligados em nossas redes e canais para saber mais sobre a programação de 2023.
Fotos: Caio Wilbert – extensionista do projeto Pedagogias da Imagem.