O cinema introspectivo e cerebral de Spike Jonze em ‘Ela’


Na sessão de encerramento do ano, o cineclube Pedagogias da Imagem traz o longa-metragem “Ela” (Her – EUA, 2013), de Spike Jonze, seguido da palestra Inteligência artificial: entre promessas futuras e realidades presentes com a antropóloga Carolina Parreiras. 

O filme conta a história de Theodore (Joaquim Phoenix), um homem que busca superar o divórcio e recorre a um sistema operacional baseado em inteligência artificial, como tentativa de combater a solidão. Ele acaba se apaixonando por Samantha, voz do sistema operacional, dublada pela Scarlett Johansson.

‘Ela’, de pouco mais de dez anos atrás, é o último longa do Spike Jonze até a data de hoje. O filme evoca uma ressonância com ‘Encontros e desencontros’ (Lost in translation – EUA, 2003), da Sofia Coppola, diretora que ainda era casada com Jonze na época, de quem se divorciou pouco depois. O filme de Jonze poderia ser lido também como uma resposta e até um pedido de desculpas. Em ‘Encontros e desencontros’, a personagem Charlotte (também interpretada pela Scarlett Johansson), se sente sozinha e coadjuvante em meio às viagens do marido, atravessando um período de mudanças até encontrar Bob (Bill Murray). Em ‘Ela’, Samantha paralelamente se aprimora e se compartimenta para “viver” mais, explicitando como as personagens masculinas, Theodore e John – marido da Charlotte -, estão presos em uma fantasia do que seria esse amor.

Spike Jonze possui uma carreira marcada pela diversidade de produções, sendo também produtor, diretor de videoclipes, filmes esportivos de skate, roteirista e diretor. Seus filmes mais autorais costumam levar tempo para ser produzidos (ao longo de 25 anos, ele possui apenas 4 longas em sua filmografia mais autoral). Seus primeiros longas foram parcerias com o roteirista Charlie Kaufman, ‘Quero ser John Malkovich’ e ‘Adaptação’. Ambos os filmes ajudaram a pavimentar um estilo ágil e cerebral que seria a marca de seus trabalhos, articulando elementos introspectivos e filosóficos com a versatilidade da narrativa e da montagem, explorando temas existenciais e psicológicos, por vezes surreais.

Em ‘Ela’, Samantha passa por um processo dialético de humanização: ela se humaniza ao mesmo tempo em que é humanizada. Ela é um sistema que não desenvolve sentimentos, sendo as suas reações respostas ao seu uso, o modo pelo qual se adapta e se porta perante suas interações. Desta forma, o filme nos permite pensar sobre um tema cada vez mais presente no nosso cenário contemporâneo, o impacto e a capilarização de sistemas de inteligência artificial nas nossas vidas.

A sessão ocorrerá hoje, dia 05/11 no Auditório Manoel Maurício de Albuquerque (prédio do CFCH), no Campus da Praia Vermelha/UFRJ. Não perca!

Por Júlia Facundo e Isabela Felippe
– Extensionistas do projeto Pedagogias da Imagem

Sessão de novembro/2024 – ‘Ela’ e as promessas futuras e presentes da inteligência artificial

No dia 5/11, primeira terça-feira do mês, teremos a última sessão do ano do cineclube Pedagogias da Imagem. Nesta sessão de encerramento da temporada, exibiremos o filme ‘Her’ (Her – EUA, 2013), de Spike Jonze. O longa de ficção científica conta a história de Theodore (Joaquim Phoenix), um homem que passa a criar laços afetivos com Samantha, a voz feminina de um sistema operacional baseado em inteligência artificial (Scarlett Johansson).

Após a exibição, teremos a alegria e a honra de receber, como convidada do mês, a antropóloga Carolina Parreiras, professora do Departamento de Antropologia da Universidade de São Paulo e do Programa de Pós-Graduação em Antropologia da mesma universidade (PPGAS/USP). Ela é doutora em Ciências Sociais pela Unicamp, com pós-doutorados em Antropologia na USP e Unicamp. Ela coordena o LETEC – Laboratório Etnográfico de Estudos Tecnológicos e Digitais – USP.

Estaríamos vivendo em meio à ficção científica? Venha pensar conosco sobre um tema que tem invadido cada vez mais o cenário contemporâneo. Falar de inteligência artificial é evocar uma série de imaginários que vão desde as promessas de um mundo melhor até visões catastróficas de destruição ou substituição do humano pelas máquinas. Nesse encontro, a partir do filme, o objetivo é refletir sobre as potencialidades da inteligência artificial, questionando as visões que polarizam o uso de tecnologias como simplesmente boas ou ruins.

A sessão acontece no Auditório Manoel Maurício, do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH). A entrada é franca e a atividade é voltada para o público geral, indicada para pessoas a partir de 14 anos.

Faça sua inscrição aqui.

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🗓️ Data: 05/11/2024
⏰ Horário: 17h
📌 Local: Auditório Manoel Maurício – CFCH (Campus Praia Vermelha – Avenida Venceslau Brás, 71 – Botafogo)

Política, feminismo e violência em foco na sessão de setembro

“Enquanto um ser querido continua desaparecido, é como estar em um limbo no inferno. Não há descanso um só dia”

No dia 24/09, o Cineclube Pedagogias da Imagem, projeto de extensão da Faculdade de Educação da UFRJ, apresentou a segunda sessão do semestre, exibindo o filme Ruído (Argentina/México, 2022), de Natalia Beristáin, no Auditório Manoel Maurício/CFCH. Para debater acerca do filme, a professora, filósofa e autora Susana de Castro foi convidada para o encontro, apresentando a palestra A crise dos narco-feminicídios no México.

O filme se caracteriza como uma ficção mesclada com a realidade, portanto, possuindo caráter semidocumental. Não há trilha sonora, há somente os sons (ruídos) das cenas, reforçando a imersão do espectador. Baseado em diversas histórias reais, o longa apresenta o descaso das autoridades com os casos de desaparecimento, mostrando como o dinheiro do narcotráfico corrompe as instituições, apresentando também as redes de apoio e solidariedade das famílias de desaparecidos.

Estas redes funcionam como uma alternativa criada pela própria população, atuando como um sistema de busca dos desaparecidos, pois a cada dia que passa, a possibilidade de encontrá-los com vida diminui, demarcando que o trabalho da polícia se resume a recolher os corpos, e não impedir as mortes.

Susana de Castro aponta a cumplicidade entre a polícia, o judiciário e o Estado nessa nova ordem embasada pelo narcotráfico. Um exemplo real da inoperância das instituições foi o caso dos “43 de Ayotzinapa”. Datado de uma década atrás, 43 estudantes mexicanos da Escola de Professores Rurais Isidro Burgos desapareceram. O último presidente, Andrés Manuel López Obrador, instaurou uma comissão da verdade e indicou uma resposta para o caso, afirmando se tratar de um crime de Estado. Além disso, o ex-procurador-geral do México, foi preso por ligação com o caso (que incluía desaparecimento forçado, tortura e obstrução da justiça). Atualmente, ele se encontra em regime de prisão domiciliar.

No desaparecimento mostrado no filme, Gertrudis, filha de Julia, passa por uma constante “revitimização”, isto é, pela recorrência de se apontar uma falha na vítima como justificativa  para o acontecido: quando as autoridades evocam, por exemplo, o uso recreativo de drogas que Gertrudis fazia com amigos. De acordo com relatos reais, esse é um modus operandi, principalmente quando se trata de mulheres desaparecidas.

Julia faz três coisas para tentar encontrar a filha: contatar inicialmente a polícia, o que a levou a procurar a filha esperando que ela estivesse morta; ir a um abrigo de mulheres que foram vítimas de algum tipo de sequestro, além de realizar buscas de restos mortais com outras mulheres que também possuem familiares desaparecidos. A iniciativa das buscas, que deveria ser tocada pela polícia forense, é da própria população mexicana, demonstrando mais uma vez o descaso governamental. A ausência de um corpo é pavorosa, pois ainda permite a esperança de que a pessoa desaparecida seja encontrada viva (neste ponto, é possível traçar um paralelo com o Brasil na época da ditadura militar).

Susana sinaliza que, na década de 90, os crimes da Ciudad Juárez mostraram um modelo de feminicídio ligado ao narcotráfico (portanto, um narco-feminicídio), que se alastrou pelo país.  Segundo o Observatório Cidadão Nacional do Feminicídio (OCNF), mais de mil mulheres foram assassinadas desde 2008 somente nessa região. A partir da entrada das montadoras no México, por conta do custo da mão-de-obra, mulheres jovens começaram a trabalhar e, consequentemente, obtiveram mais autonomia, o que é levantado por Susana como uma motivação para as torturas. A mulher representa um ponto de união entre agressores, sendo a violência uma forma de assegurar o seu lugar de pertencimento no grupo, com caráter pactual (os integrantes não relatam o ocorrido), caracterizando uma afirmação coletiva. Apesar de haver vínculos de proximidade entre os locais em que os corpos apareciam e fazendas relacionadas ao narcotráfico, bodes expiatórios são usados para mascarar esta “coincidência”.

O México possui a ‘Lei Geral de Acesso das Mulheres a uma Vida Livre de Violência’, datada do ano de 2007. No entanto, o país não fez avanços quanto a esse problema, enfatizando a necessidade de uma mudança no país. Pela quantidade de mulheres desaparecidas e crimes não solucionados, pressupõe-se uma coesão moral dos cidadãos diante destes fatos. Para que uma mudança seja efetiva, o combate deve ser travado no campo cultural, moral, social, político e econômico. Os narco-feminicídios são alicerçados no sistema capitalista e algumas formas de resistência dos sujeitos são mostradas no final do filme, quando há repressão às mulheres que protestam. Se a luta democrática se vê diante destes desafios, somente uma mudança mais estrutural de sistema conseguiria garantir segurança às mulheres.

Por Julia Facundo e Isabela Felippe
– Extensionistas do projeto Pedagogias da Imagem

Sessão de setembro/2024 – ‘Ruído’ e a guerra contra as mulheres


No dia 24, última terça-feira do mês, teremos a sessão de setembro do cineclube Pedagogias da Imagem. Exibiremos o filme Ruído (Ruido, 2022), de Natalia Beristáin, co-produção da Argentina e do México que acompanha a busca de uma mãe por sua jovem filha desaparecida, mostrando seu encontro com uma rede de apoio e com diferentes histórias de vidas marcadas pela crescente violência contra as mulheres. O filme participou da mostra Horizontes Latinos na 70ª edição do Festival de San Sebastián, na Espanha onde obteve o VIII Prêmio da Cooperação Espanhola.

Teremos a alegria e a honra de receber novamente, como convidada do mês, a filósofa Susana de Castro, professora titular do Departamento de Filosofia e do Programa de Pós-Graduação em Filosofia da UFRJ. Ela é doutora em Filosofia pela Ludwig-Maximilians-Universität, Munique, com pós-doutorado em Filosofia na CUNY Graduate Center, Nova York. Autora, dentre outros, do livro ‘Filosofia e Gênero’ (2014). Integrante do GT Filosofia e Gênero, da Anpof – Associação Nacional de Pós-Graduação em Filosofia.

O encontro será um convite para refletir sobre a escalada da violência contra as mulheres em meio à guerra entre cartéis do narcotráfico no México, partindo deste cenário para explorar relações, estruturas e significados entre essa intensificação da violência, o machismo e a lógica do patriarcado.

A sessão acontece no Auditório Manoel Maurício, do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH). A entrada é franca e a atividade é voltada para o público geral, indicada para pessoas a partir de 12 anos. Faça sua inscrição aqui. Aproveite para seguir o cineclube no Instagram, no Bluesky e no Threads. Será ótimo contar com qualquer apoio na divulgação.

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Até lá!

Século Godard: Exibição do filme “Imagem e Palavra” na sessão de outubro de 2022

É com alegria que o cineclube Pedagogias da Imagem apresenta e convida o público geral para participar do encontro ‘SÉCULO GODARD’, que acontecerá na terça-feira, dia 11 de outubro de 2022, no Salão Pedro Calmon, do Fórum de Ciência e Cultura, localizado no 2º andar do Palácio Universitário, campus Praia Vermelha (Av. Pasteur, 250 – Urca).

Para marcar a retomada das sessões presenciais do cineclube Pedagogias da Imagem, programamos uma sessão especial em homenagem ao cineasta Jean-Luc Godard, onde poderemos assistir coletivamente ao seu último longa-metragem, ‘Imagem e palavra’ (Le livre d’image – Suíça/França, 2018).

Ao longo de toda sua obra, e de uma vida de quase um século, Godard não apenas abriu caminhos para a inauguração/renovação da linguagem cinematográfica, da nouvelle vague ao cinema experimental, como também não cansou de se interrogar e de fazer os espectadores pensarem sobre as relações entre a imagem, o mundo, a arte e a política. Por isso, após a exibição do filme, teremos uma mesa composta por dois pesquisadores, cada um desdobrando a potência e o legado da contribuição de Godard em diferentes áreas.

Teremos a honra de contar com os seguintes convidados:

Ana Lucia Soutto Mayor
Doutora em Letras pela UFF, pesquisadora no Laboratório de Iniciação Científica na Educação Básica (LIC-PROVOC) da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (Fiocruz), professora do Programa de Pós-Graduação Lato Sensu, no Curso de Ciência, Arte e Cultura na Saúde, do Instituto Oswaldo Cruz (IOC-Fiocruz), e professora aposentada do Colégio de Aplicação (CAp-UFRJ). Co-organizadora do livro ‘Godard e a educação’.

Jorge Vasconcellos
Doutor em Filosofia pela UFRJ. Professor da UFF, no Departamento de Artes e Estudos Culturais/RAE e no Programa de Pós-graduação em Estudos Contemporâneos das Artes/PPGCA-IACS. Autor, entre outros, do livro ‘Deleuze e o cinema’, e de diversos artigos e capítulos sobre o cinema de Godard em perspectiva filosófica.

A entrada é franca. A atividade é voltada para o público a partir de 16 anos.

** Esta programação contará com intérpretes de Libras, com a colaboração da DIRAC/UFRJ.**

Declarações de participação serão emitidas mediante solicitação, para aqueles que desejarem.

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Coexistir entre imagens no filme ‘Eleições’


O documentário Eleições (2018), dirigido por Alice Riff, é o escolhido para a sessão do mês de junho do Cineclube Pedagogias da Imagem, da Faculdade de Educação da UFRJ. Lançado em 2018, ano eleitoral tão marcante historicamente para o país, é também o ano em que a diretora documenta o dia a dia dos alunos da Escola Estadual Doutor Alarico da Silveira no centro de São Paulo  e as eleições do grêmio estudantil.  

Ao longo do documentário, as dúvidas sobre o futuro, que apresenta tantas possibilidades e, ao mesmo tempo, é tão incerto, surgem entre os alunos. Se preparar para o ENEM, começar a traçar um plano para uma carreira profissional, que muitas vezes pode não atender aos interesses pessoais dos alunos, são decisões importantes que precisam ser tomadas tão cedo. É nesse clima que os jovens do documentário começam a compreender a importância de uma atitude política ativa. 

Alice Riff constrói o documentário de forma em que os alunos estão envolvidos diretamente na produção, aproximando o espectador daquele cotidiano. Assim, ouvimos as propostas das chapas, percebemos o envolvimento crescente dos alunos, assim como a responsabilidade para o objetivo final de possibilitar uma escola diversificada, que reflita sobre seu corpo estudantil em todas as suas pluralidades. 

As quatro chapas são compostas por alunos que se distinguem, com objetivos diversos e posicionamentos consistentes que amadurecem durante a campanha eleitoral escolar. Os espectadores são atravessados por suas próprias memórias e experiências durante o ensino médio, e são convidados a sentir a ansiedade durante a votação e revelação da chapa vencedora, vibrando, ao final, junto com a chapa vencedora, sentindo-se novamente na escola. 

O documentário está disponível gratuitamente na plataforma Itaú Cultural Play e o cine Pedagogias da Imagem convida a todos para a sessão no dia 28 de junho, que irá desdobrar os pontos que o filme traz de forma tão espontânea, com a participação do convidado Wenceslao Machado de Oliveira Junior (FE/Unicamp), apresentando a fala ‘Um fime na escola, vários cinemas da escola’. Wenceslao vai propor um diálogo com o filme a partir dos encontros entre cinema e escola. Que escolas emergem desses encontros com o cinema? Que cinemas (e filmes) emergem destas experiências?

Redação:
Stella Feitosa (Extensionista do projeto Pedagogias da Imagem)

Sonho e revolução em Glauber Rocha: um devir estético-político latino-americano – Sessão de Maio/22

No último dia 31 de maio, o Cineclube Pedagogias da Imagem, da Faculdade de Educação da UFRJ, promoveu um encontro sobre Deus e o diabo na terra do sol (1964), filme clássico de Glauber Rocha. Para falar sobre o filme, o cineclube convidou Pablo Zunino, doutor em Filosofia pela USP e professor da UFRB. O encontro, intitulado como “Sonho e revolução em Glauber Rocha: um devir estético-político latino-americano”, teve como cerne a intersecção entre a filosofia e o cinema.

O filme é um dos marcos do cinema brasileiro. Glauber Rocha, seu realizador, foi um dos pioneiros do movimento Cinema Novo, corrente que se aproxima nouvelle vague francesa. Glauber obteve reconhecimento internacional por esse filme, sendo indicado à Palma de Ouro no Festival de Cannes. Pablo Zunino, convidado do cineclube, faz uma abordagem da estética de Glauber Rocha e, mais enfaticamente, do filme supramencionado, a partir da filosofia de Gilles Deleuze.

Zunino trata de alguns temas centrais do que ele intitulou como devir estético-político latino-americano. A mistura desses dois termos (“devir” e “estético-político”) remete, primeiramente, ao conceito de devir, de Deleuze; por outro lado, remete às noções centrais de estética da fome, da violência e do sonho, presentes nas obras e nos filmes de Glauber Rocha. O background histórico que permeia essas noções é certamente o da luta política na América Latina, desde a década de 60, como ressalta o professor; nesse sentido, são exemplares as manifestações de maio de 68 que se estenderam ao chamado Terceiro Mundo. O cinema de Glauber Rocha faz parte desse grande movimento de transformação da vida social a partir da produção filmográfica com forte cunho político.

As reflexões do professor partem dos dois livros de Deleuze que tratam especificamente do cinema, A imagem-movimento e A imagem-tempo. Zunino ressalta a ideia, a partir de Deleuze e Glauber Rocha, da possibilidade de se conceber o cinema, a ideia cinematográfica, como geradora de transformações políticas. Após explicar brevemente a passagem do cinema clássico ao cinema moderno, crucial para o pensamento deleuzeano sobre o cinema, Zunino fala um pouco sobre outros filmes importantes de Glauber, como Barravento (1962), Terra em transe (1967) e O dragão da maldade contra o santo guerreiro (1969), este uma espécie de continuação do filme privilegiado na conversa.

Para concluir a conversa, Zunino retoma a questão, importante para Deleuze, do povo que falta. Para Zunino, o povo falta e ao mesmo tempo não falta, já que o povo está vivo e presente, embora falte metaforicamente. Para dar o tom de seu argumento, menciona uma frase de Glauber Rocha que diz: “A América Latina permanece colônia e o que diferencia o colonialismo de ontem do atual é apenas a forma mais aprimorada do colonizador”. Nesse sentido, o povo não pode plenamente existir, porque está sempre sendo colonizado de formas cada vez mais elaboradas.

A sessão do mês de junho do Cineclube ocorrerá na terça-feira, dia 28, abordando o filme Eleições (2018), de Alice Riff.

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Redação: Gabriel Cabral (Extensionista do projeto Pedagogias da Imagem)

Início de temporada com Carlos Medeiros

O cineclube Pedagogias da Imagem iniciou o ano de 2018 com a exibição do filme Menino 23 (Brasil, 2016), de Belisário Franca, em sessão inserida na campanha 21 dias de ativismo contra o racismo, e com o apoio da Videocamp.

O impacto da pesquisa que une trabalho teórico e documental, levada a cabo no filme, estabeleceu ressonâncias com a conversa proposta para esta sessão de abertura, com o convidado Carlos Medeiros, intitulada Entre olhares cruzados: Brasil, Estados Unidos e a questão racial. Carlos é graduado em Comunicação e Editoração pela UFRJ, mestre em Ciência Jurídicas e Sociais pela UFF, doutorando em História Comparada na UFRJ. Autor do livro ‘Na lei e na raça’ e coautor, com Jaques D’Adesky e Edson Borges, do livro ‘Racismo, preconceito e intolerância’.

O vídeo para a palestra pode ser visto abaixo, no canal do YouTube do Secult/FE-UFRJ.

 

 

 

 

 

Libertar a educação

 

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A sessão de agosto do cineclube Pedagogias da Imagem contou com um auditório lotado para assistir o filme Capitão Fantástico (Captain Fantastic – E.U.A., 2016), de Matt Ross, e conversar sobre educação e desescolarização com nosso convidado do mês, o filósofo e professor da Faculdade de Educação da UFRJ, Reuber Scofano.

Após comentar sobre os constrangimentos e as amarras impostas por certos modelos institucionais de educação, Reuber aproximou a crítica à escola de Ivan Illich à prática pedagógica de Tião Rocha, educador que produz potentes experimentações educacionais a partir dos desejos e necessidades dos participantes de seus círculos. A partir destes breves apontamentos, que entraram em composição com a trajetória e o destino do personagem Ben Cash, foi possível não apenas abrir a reflexão para questões e práticas contemporâneas alternativas de educação, como também repensar e reavaliar os modelos institucionais, a perpetuação de políticas e estilos de vida que diminuem a liberdade e a abertura para o novo.

Tivemos uma grande participação do público no enriquecimento do debate, colaborando com o aprofundamento das questões e com depoimentos de mães, pais, pedagogos, professores, estudantes e profissionais que já atuam em coletivos, espaços e ações que ajudam a pensar de outra forma os modelos educacionais.

Nossa próxima sessão acontecerá no dia 5 de setembro. Fiquem ligados no blog e na nossa página do Facebook para a divulgação da programação. Até lá!

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Pensar a educação e a desescolarização

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O convidado da sessão de agosto do cineclube Pedagogias da Imagem será Reuber Scofano, que é filósofo, mestre e doutor em Educação pela UFRJ e com pós-doutorado em Educação pela UFF. Reuber é professor da Faculdade de Educação da UFRJ, onde é também pesquisador ligado ao Laboratório do Imaginário Social e Educação (LISE). Reuber é organizador, junto com Nyrma Souza Azevedo, dos livros Recortes do imaginário: novas colagens (2009), e Estilhaços do imaginário (2016).

O cineclube Pedagogias da Imagem exibirá o filme Capitão Fantástico (Captain Fantastic – E.U.A.), de Matt Ross. Com a direção premiada na mostra Un certain regard, em Cannes, o filme foi também indicado ao Globo de Ouro e ao Oscar deste ano, na categoria de melhor ator para Viggo Mortensen, que interpreta o personagem Ben Cash.

Valendo-se dos elementos insólitos das comédias dramáticas do cinema independente norte-americano, o diretor Matt Ross desdobra a narrativa sobre um pai ocupado em criar seus filhos e viver de modo alternativo, afastado da sociedade e, portanto, com seus próprios meios de sobrevivência, subsistência e educação.

Desta premissa, levada às telas com bom humor, ironias e leveza por Matt Ross e pelo elenco, o filme nos provoca a pensar e mobilizar questões em torno da educação. Reuber propõe, a partir de aproximações entre os elementos do filme, uma reflexão sobre as propostas de desescolarização do pensador austríaco Ivan Illich – em sua obra A sociedade sem escolas (1971) – e a prática educacional do educador mineiro Tião Rocha.

A sessão acontecerá na próxima terça-feira, dia 8 de agosto, no auditório Manoel Maurício – CFCH/UFRJ (ao lado do Cópia Café), que fica no campus da Praia Vermelha da UFRJ (Av. Pasteur, 250). Acesse aqui o flyer de divulgação e confirme sua presença na página do evento, no Facebook. A entrada é franca.