Em um filme, o enquadramento pode desencadear sentidos plurais que se valem da relação entre seus elementos. Seja pelo recurso da profundidade do campo, do foco, de um plano mais aberto ou fechado, os filmes têm a capacidade de guiar nosso interesse, ora para alguma parte mais específica do quadro, ora para o conjunto. Pela forma com que suas partes podem ser articuladas e recebidas pelo espectador, cada quadro nos ensinaria que há algo mais na imagem que a mera informação que ela comunica.
Estas seriam características que dão a ver a existência de uma ‘pedagogia da imagem’, apontada pelo filósofo Gilles Deleuze em seu livro sobre cinema (Cinema I: a imagem-movimento, 1986), já que “o quadro nos ensina desse modo que a imagem não se dá apenas a ver. Ela é tão legível quanto visível” (p. 19). Quando assistimos a um filme nos colocamos diante da exigência de uma obra que não apenas se dá a ler por meio da imagem, mas também traz e ensina, a seu modo, os códigos de sua leitura, entrando em diálogo com diferentes repertórios culturais – históricos, científicos, filosóficos, estéticos.
Assim como a prática pedagógica não se restringe ao espaço formal da sala de aula, a atividade cineclubista, que pressupõe a exibição regular de filmes, seguida de debates, traduz-se em possibilidade de contato com diferentes pedagogias da imagem, incentivando e intensificando o espírito crítico dos espectadores com relação a temas variados. O público geral, em contato com as imagens, com as ideias disseminadas e reverberadas pelos filmes, palestras e debates, passa a ter sua curiosidade convocada e estimulada, potencializando maneiras outras de se ver – e ler – tanto os filmes quanto o mundo.